Eduardo Bolsonaro confronta governadores e expõe direita dividida sobre tarifaço

Montagem/IstoÉ
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de SP, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e Romeu Zema (Novo), governador de MG: direita fraturada Foto: Montagem/IstoÉ

A ameaça de impor tarifas de 50% às importações brasileiras, feita pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou fraturas no grupo político ligado a Jair Bolsonaro (PL), antes alinhado na vocalização da defesa do ex-presidente brasileiro e da oposição ao atual, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Enquanto as lideranças umbilicalmente ligadas a Bolsonaro chegaram a celebrar a retaliação, governadores aliados optaram por uma abordagem distinta, levando em conta a fatura econômica que o tarifaço pode cobrar de seus estados. Neste texto, a IstoÉ relata as divergências colocadas na mesa.

+ Tarifaço pode desequilibrar mercado interno no Brasil, alerta ministro

Eduardo Bolsonaro aposta na retaliação

O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) saiu em defesa de Trump. Em estadia nos EUA desde março para articular por sanções do governo americano a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), corte em que seu pai é réu por suposta tentativa de golpe de Estado, o parlamentar apostou na leitura inicial de que a retaliação comercial era um recado da Casa Branca em defesa de Bolsonaro.

Vale lembrar que o republicano mencionou Bolsonaro na carta em que anunciou as sobretaxas, ao dizer que ele sofre “caça às bruxas” por parte do Judiciário brasileiro. Diante do aceno, Eduardo e aliados mais próximos encamparam a ideia de que a pressão internacional faria o Supremo recuar no cerco judicial ao patriarca e o deputado chegou a assumir autoria parcial da articulação.

Após demonstrativos de rejeição popular ao tarifaço e uma forte reação de setores econômicos aos anúncios de Trump, Eduardo tenta recalcular a rota. Em entrevista a um podcast na segunda-feira, 21, disse que “sempre trabalhou por sanções individuais [ao ministro Alexandre de Moraes, do STF]”.

Governadores circulam por outra via

Na mesma raia de Bolsonaro, os governadores de direita têm compromissos com os setores econômicos de seus estados. Essa responsabilidade contribuiu para que nomes como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Romeu Zema (Novo), Eduardo Leite (PSD) e Ronaldo Caiado (União Brasil) reagissem negativamente ao tarifaço de Trump, buscando alternativas diplomáticas à crise.

Tarcísio de Freitas

O governador de São Paulo buscou negociar a taxação com interlocutores estadunidenses. Em 15 de julho, o ex-ministro de Bolsonaro se reuniu com empresários exportadores e colocou a embaixada dos EUA em Brasília no centro dos acordos.

Em reação, Eduardo Bolsonaro alfinetou Tarcísio, afirmando que ele errou ao tentar negociar uma saída para a taxação com a embaixada do país. O filho do ex-presidente classificou a postura como “desrespeito”.

“É um desrespeito comigo. Mas eu não estou buscando convencimento da população, eu estou buscando pressionar o [ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de] Moraes”, disse o deputado em entrevista à Folha de S.Paulo.

Para além do acirramento político, a tentativa de negociação do governador também foi criticada por Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington.  “Ele não tem ligação, não tem competência, no sentido formal, não tem jurisdição para atuar no exterior. Isso é coisa do governo federal”, disse o diplomata à IstoÉ.

Tarcísio voltou a falar do assunto e se defendeu das críticas de Eduardo, afirmando que estava priorizando o estado que governa. “Sem problemas. Neste momento, estou olhando para São Paulo, para o seu setor industrial, para sua indústria aeronáutica, de máquinas e equipamentos, para o nosso agronegócio, para nossos empreendedores e trabalhadores”, disse ao canal CNN Brasil.

Eduardo Bolsonaro confronta governadores e expõe direita dividida sobre tarifaço

Tarcísio de Freitas abraça Bolsonaro: governador de São Paulo foi ministro do ex-presidente

Em tréplica, o herdeiro de Bolsonaro disse que o governador demonstrava “subserviência servil às elites” por ser contra as taxas de Trump.

“Se você estivesse olhando para qualquer parte da nossa indústria ou comércio estaria defendendo o fim do regime de exceção que irá destruir a economia brasileira e nossas liberdades. Mas como, para você, a subserviência servil as elites é sinônimo de defender os interesses nacionais, não espero que entenda”, escreveu no X (antigo Twitter).

Romeu Zema

O governador de Minas Gerais também ficou no alvo de Eduardo. Na última segunda-feira, 21, o mineiro deu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em que considerou a atuação do deputado licenciado decisiva para a imposição do tarifaço. Ele chegou a afirmar que a postura de Eduardo prejudicou a direita brasileira.

“A posição que foi adotada não foi a mais correta pelo filho do ex-presidente. Acho que isso acabou causando um problema para a direita. Mas isso vem de todo esse outro contexto, que não sabemos o que é. O presidente americano é totalmente imprevisível”, afirmou.

A crítica ao filho do ex-presidente foi, por si, uma mudança de rota para o mandatário, que abriu sua fileira de reações ao tarifaço aderindo à estratégia bolsonarista de responsabilizar o governo Lula por ele. “O Brasil começou a afrontar seus clientes. Você não pode tratar mal quem compra seus produtos”, afirmou Zema em evento no sul de Minas Gerais.

Em reposta às críticas feitas a ele, Eduardo ironizou o mineiro e chegou a chamá-lo de integrante da “turminha da elite financeira” do país. “Enquanto são pessoas simples e comuns as vítimas da tirania, não há problema. Mas mexeu com a sua turminha da elite financeira, daí temos o apocalipse para resolver”.

Eduardo Leite

Distante de Bolsonaro, o governador do Rio Grande do Sul integra o grupo de opositores do governo petista que foram contrários ao tarifaço.

O gaúcho classificou as sanções como “tentativa de interferência” e lamentou a polarização política brasileira. Leite disse que colocou equipes das secretarias estaduais para conversar com representantes do governo dos EUA para reverter as medidas.

Ronaldo Caiado

O governador de Goiás, pré-candidato a presidente, buscou medidas para minimizar os efeitos do tarifaço. Na terça-feira, 22, Caiado apresentou as linhas de crédito lançadas pelo estado durante reunião no Palácio das Esmeraldas, contando com a presença de representes de diversos setores de Goiás.

Foi o primeiro estado a anunciar medidas para amenizar os possíveis efeitos das taxações. Serão três fundos para que empresas atingidas possam acessar e reverter eventuais consequências.

“Somos um estado que busca todos os mecanismos para auxiliar os empresários e os trabalhadores goianos. Essa é minha primeira preocupação como governador”, disse.

Discurso rachado e o futuro do bolsonarismo

Com as eleições presidenciais de 2026 à vista, a direita ainda procura o nome mais promissor para substituir Jair Bolsonaro — que está inelegível até 2030 — na disputa, e todos os políticos citados nesta reportagem fazem parte dessa lista.

A crise entre Brasil e EUA, no entanto, parece ter evidenciado uma racha no discurso do grupo, que ainda não encontrou unidade para tratar a questão. Em contrapartida, a popularidade de Lula, principal opositor de qualquer representante do setor, ganhou fôlego após o embate com Trump.