Impulsionado pelo reconhecimento de um efeito contábil, a EDP Brasil, uma das principais holdings privadas do setor elétrico, registrou lucro líquido de R$ 354 milhões no terceiro trimestre de 2019, crescimento de 15,3% frente a igual intervalo do ano anterior. No mesmo período de comparação, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 778,8 milhões, alta de 14,6%.

Segundo o presidente da EDP Brasil, Miguel Setas, o resultado do terceiro trimestre foi positivamente impactado pelo reconhecimento de um montante de R$ 228 milhões, referente à atualização do chamado Valor Novo de Reposição (VNR) de suas distribuidoras. O VNR é um valor a receber pelos ativos pelo governo federal ao final do contrato de concessão, caso não seja renovado.

De acordo com Setas, essa atualização ocorreu em função da expectativa de, ao final da concessão, o porcentual atual de glosa dos investimentos realizados pelas distribuidoras do Grupo ser menor do que era considerado pelos contadores da empresa. Até então, a previsão da EDP Brasil era de uma glosa de 3% ao final dos contratos de concessão, o que ocorre em 2028, para a EDP São Paulo e 2025 para a EDP Espírito Santo. Contudo, no processo de aprovação do quinto ciclo de revisão tarifária pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o nível de glosa para a EDP São Paulo ficou em 0,7% e para a EDP Espírito Santo, 0,4%.

“É óbvio que, com glosas nesses patamares, isso leva a o que os contadores revejam para baixo a expectativa de glosa nos ciclos futuros. Por isso, vamos reconhecer um valor mais alto e ter uma base de ativos incrementada com esse valor que não vai ser glosado”, explicou.

O executivo destacou que, embora seja um efeito contábil, esse reconhecimento também tem um valor econômico no futuro, por se tratar de uma valorização dos ativos da EDP Brasil. “É o poder concedente reconhecendo que a empresa tem um ativo que vale mais do que aquilo que estava registrado em seus livros contábeis”, acrescentou o presidente da EDP Brasil.

Contribuiu também para o resultado a conclusão da revisão tarifária da EDP Espírito Santo, realizada em sete de agosto deste ano. Embora a redução média na tarifa a ser percebida pelos consumidores da concessionária tenha sido de 4,84%, o processo resultou no aumento de 28,1% na Base de Remuneração Líquida, o que gera impacto positivo da rentabilidade da empresa.

Mercado consumidor e custos operacionais

Em relação ao mercado consumidor, o executivo destacou que o volume de energia distribuído nas áreas de concessão do grupo vem crescendo acima da média nacional. No acumulado dos nove meses de 2019 frente ao mesmo período de 2018, o crescimento verificado foi de 2,6%, sendo 1,2% na EDP São Paulo e 4,8% na EDP Espírito Santo, ante média nacional no período de 1,1% no consumo de energia elétrica.

“São Paulo é uma área muito industrializada, e, por isso, temos o reflexo de uma estabilidade da economia. No Espírito Santo, o efeito principal é temperatura, que tem sido maior este ano do que no ano passado. Isso impacta no uso de ar-condicionado e refrigeração”, comentou o executivo. Na comparação entre o terceiro trimestre de 2019 e igual período de 2018, houve ligeira variação de +0,1%, sendo um recuo de 0,2% na EDP SP e aumento de 0,6% na EDP ES.

Sobre os custos operacionais, Setas destacou que as despesas com pessoal, material, serviços e outros (PMSO) recorrentes tiveram um aumento de 2,1% na comparação entre o acumulado do ano até setembro e igual período de 2018. “Temos um compromisso de rodar os nossos custos abaixo da inflação. Tivemos alta de 2,1% no PMSO recorrente (sem efeitos extraordinários), e a inflação está na casa de 3%. Estamos ligeiramente abaixo da inflação”, afirmou.

Outro indicador usado pela companhia para mostrar o seu nível eficiência, a relação opex/margem bruta, encerrou o terceiro trimestre de 2019 abaixo de 29%. “Gostamos de olhar para essa métrica, porque mostra a dimensão dos custos em relação aos negócios que a empresa gera. Neste indicador estamos com uma trajetória decrescente”, explicou Setas, lembrando que em 2016 estava em 33%.