O presidente do PT, Edinho Silva, atacou o poder do Congresso Nacional sobre o Orçamento e criticou a estratégia do Legislativo para enfraquecer o presidencialismo. O petista disse haver um descompasso entre os Poderes e reforçou a necessidade de uma reforma política.
Nos últimos anos, o Congresso ganhou um maior protagonismo sobre o Executivo com as barganhas sobre emendas parlamentares, um tema caro para deputados e senadores. Os valores têm sido usados pelo Legislativo como moeda de troca para o avanço de pautas de interesse do Palácio do Planalto ou para envio de recados ao Executivo.
Ex-prefeito de Araraquara (SP), Edinho defende um “conserto” político no Brasil e aponta o esvaziamento do presidencialismo como um dos maiores problemas da política atualmente. Ele reforça a Constituição e até um plebiscito, realizado em 1993, que manteve o regime presidencial no Brasil.
“A relação com o Congresso Nacional, eu penso que temos um problema estrutural no Brasil. [Há] um esvaziamento do presidencialismo. Eu tenho dito que o Brasil precisa fazer uma consertação política. Acho que temos que debater os problemas sérios do país, entre eles a descaracterização do presidencialismo”, afirmou, em entrevista à ISTOÉ.
Atualmente, o Congresso Nacional comanda R$ 52 bilhões do Orçamento público com emendas parlamentares. Parte desses valores são impositivos, ou seja, o governo é obrigado a destinar para o investimento político de deputados e senadores.
A única rubrica em que o Planalto consegue negociar são as emendas de comissão, que são alvo do Supremo Tribunal Federal (STF) por falta de transparência e rastreabilidade dos valores, conhecido popularmente como “Orçamento Secreto”.
Além da polarização, o petista credita parcialmente ao Congresso a queda de popularidade de Lula. Ele vê o Legislativo consumido por uma “agenda de varejo” e cobrou maturidade dos deputados e senadores para debater o país.
“[Outro problema] é a agenda de país, que é consumida por uma agenda de varejo do Congresso Nacional. Não digo que o debate da cidade não seja legítimo, mas isso não pode ser maior que a agenda de Brasil”.
“Eu não tenho nenhuma dúvida que a popularidade do presidente Lula vai ser recuperada. Eu não tenho nenhuma dúvida, mas eu penso que mais do que a gente estar debatendo a popularidade, nós deveríamos debater a maturidade como o Congresso Nacional senta à mesa e coloca em primeiro plano os interesses do país”, alfineta.
Edinho reforça a necessidade de uma reorganização e ressalta a participação do Judiciário na mediação do cabo de guerra entre o Executivo e o Legislativo. O último caso aconteceu há pouco mais de uma semana, quando o ministro Alexandre de Moraes, do STF, retomou o decreto do IOF, derrubado pelo Congresso Nacional.
O presidente do PT também vê na reforma política uma alternativa para fortalecer os partidos e o debate de uma agenda para o país. Para ele, sete grandes partidos são suficientes no Brasil.
“É preciso reorganizar essa confusão institucional. Uma desorganização onde o Legislativo avoca para si atribuições que não são suas e o Judiciário precisa entrar para dirimir esse conflito. Acho que precisamos rearranjar tudo isso, além de uma reforma política e eleitoral para fortalecer os partidos. É melhor você debater um projeto de Brasil com seis, sete partidos fortes do que ficar nesse varejo que temos hoje”, reforçou.

Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara e presidente do PT, em entrevista à ISTOÉ
Leia a entrevista completa de Edinho Silva
Quais mudanças o PT precisa fazer para se reestruturar e recuperar a força que tinha em 2002-2006?
Olha, primeiro, nós temos que falar de um partido que é o partido mais vitorioso da história da política brasileira. O PT elegeu cinco vezes o presidente da República. Duas vezes o presidente Lula, duas vezes a presidenta Dilma e agora o presidente Lula pela terceira vez.
Então, nós estamos falando de um partido que é vitorioso. Um partido que tem história em relação às políticas públicas. O PT mudou a lógica das políticas públicas no Brasil.
Mas, claro, é um partido que também tem desafios. Eu penso que não só o PT, mas todos os partidos da política brasileira têm desafios a enfrentar pela frente. O PT tem desafios específicos porque o PT é o maior instrumento de luta dos trabalhadores e das trabalhadoras do país.
Ou seja, é impossível nós entendermos os avanços na organização e nas vitórias da classe trabalhadora nas últimas décadas no Brasil sem entendermos o papel do Partido dos Trabalhadores. Também o PT foi o partido que, como eu disse há pouco, mais políticas públicas com dívida da transformação social e institucional do país e é o único partido, com todo respeito aos demais, que apresentou ao Brasil um projeto de desenvolvimento nacional. Um projeto que propiciasse o crescimento das empresas brasileiras.
Nós tivemos nos governos liderados pelo PT, tanto o governo Lula como o governo Dilma, uma ascensão muito grande das empresas brasileiras que ocuparam espaços, inclusive inéditos, na concorrência internacional. Então, um partido que dialogou com a sociedade brasileira, apresentou um projeto de desenvolvimento que tinha como princípio a democratização das oportunidades, que tinha como princípio a construção da igualdade de oportunidades, o combate à injustiça, o combate à fome, mas também um projeto que delineava um caminho que o Brasil deveria seguir para se tornar um país forte, com economia forte, um país capaz de concorrer internacionalmente.
Portanto, um projeto de desenvolvimento nacional que passava pela transformação tecnológica de muitos dos nossos setores, que passava pela modernização da nossa agroindústria, os governos do presidente Lula são dos maiores planos safra da história, porque todo plano safra que o presidente Lula lança, ele é maior que o anterior. Portanto, a agroindústria brasileira cresceu muito, se desenvolveu muito também nos anos governados pelo Partido dos Trabalhadores. Mas, dito isso, também nós temos que entender os desafios colocados pela frente da transição energética, o PT tem que entender a importância da transição energética, nós temos que ter um projeto para dialogar com a sociedade brasileira em relação à transição energética.
O PT, nós estamos vendo aí, nessa conjuntura, o debate da importância das nossas terras raras, inclusive eu não tenho nenhuma dúvida que o Brasil hoje que detém 25% da reserva das terras raras do mundo, inclusive esse é um dos motivos dos ataques que nós temos sofrido pelo governo Trump, o PT tem o desafio de regulamentar e estabelecer um plano de utilização das terras raras. O que nós vamos fazer com as terras raras, com as nossas reservas de minérios tão valiosos e tão importantes para o século XXI. O PT tem que debater um projeto para a costa equatorial, que propicie, se ali tem uma fonte rica de energia, que é o petróleo, essa fonte rica de energia tem que significar um projeto para o Brasil.
Tanto um projeto, na minha avaliação, por estar tão próximo da região amazônica, nós temos que debater um projeto de reflorestamento da floresta amazônica, ou seja, fazer desse recurso um fundo para que a gente tenha um projeto de reflorestamento que combata a degradação da floresta amazônica, que a gente possa ter um projeto de desenvolvimento tecnológico de monitoramento da Floresta Amazônica para combater de forma efetiva a degradação da floresta.
Eu penso que nós temos que ter, com esses recursos da costa equatorial, um fundo também que tenha um projeto de desenvolvimento para a Amazônia Legal, que nós debatemos muitas vezes. Nós não queremos desmatamento na Floresta Amazônica. Nós não queremos a caça ilegal, a pesca ilegal.
Não queremos. Mas que alternativa nós apresentaremos para os povos da Amazônia? Para os estados que estão na Amazônia Legal?
Que projeto de desenvolvimento nós temos que ter? Então, passa por nós discutirmos o desenvolvimento de tecnologia, a região da Amazônia Legal, a Floresta Amazônica, de que forma que nós podemos pensar um projeto de desenvolvimento sustentável. Eu não tenho nenhuma dúvida que o PT também tem que enfrentar o debate da segurança pública.
Qualquer pesquisa que nós fizermos hoje, vai aparecer saúde e segurança pública como prioridades do povo brasileiro. Se nós não queremos um projeto de segurança pública que signifique polícia letal, polícia que mata, ou seja, segurança pública não pode ser igual à letalidade da polícia, nós temos que dialogar com a sociedade brasileira. Que projeto de segurança é esse que nós queremos?
Que, na minha avaliação, passa por projetos para os adolescentes em conflito com a lei. Se nós não tivermos projetos robustos para os adolescentes em conflito com a lei, nós não vamos combater a criminalidade, que passa pela adoção das novas tecnologias, das novas tecnologias. Hoje, você tem capacidade de oferecer segurança para a sociedade com câmeras inteligentes, com monitoramento, com câmeras que fazem rastreamento, com totens espalhados pelas regiões, principalmente dos espaços urbanos considerados de maior periculosidade.
Nós temos que ter um projeto também de reinserção social de apenados, não podemos discutir segurança pública se aqueles que cumprem pena, que pagaram por seus erros perante a sociedade, não sejam reinseridos socialmente. E um projeto de segurança pública que também passa pela valorização do trabalhador da segurança. Hoje, você pega estados importantes como o estado de São Paulo, as condições de trabalho dos policiais são precárias, remunerações baixíssimas.
Se um policial é ferido em combate, trabalhando, a sua família não tem amparo, ele se é ferido e se torna aposentado, se torna um inválido na prática policial, ele perde todos os penduricalhos do seu salário, ele fica com o salário original, portanto, um salário baixíssimo para a função de policial militar. A polícia civil é a mesma coisa. Enfim, nós temos que discutir segurança pública com a sociedade brasileira.
Como eu penso, eu falei agora há pouco de saúde, e o PT tem que debater com a sociedade brasileira o financiamento do SUS. Nós precisamos debater o financiamento do SUS. Eu penso que o debate do tempo do trabalho é um debate central para o Partido dos Trabalhadores.
Eu estou dizendo, o partido que nós queremos construir, precisamos construir esse partido vitorioso que tem legado, mas tem que ter condições de enfrentar esses debates. A questão do tempo do trabalho que a sociedade conhece por 6×1 a carga de trabalho. Eu penso que nós temos que fazer o debate hoje da tarifa zero, porque o transporte público nas grandes cidades, nas médias cidades, tornou um problema sério. Boa parte das famílias não tem condições hoje de financiar o transporte público, não tem condições de pagar o transporte público, portanto, muitas vezes restringe a procura ao emprego, muitas vezes restringe o acesso a um curso de qualificação. A família, muitas vezes, não tem acesso ao lazer, não tem condições de fazer visita aos seus familiares. Então, são temas centrais, na minha avaliação, deste século XXI, que só um partido organizado, que se reorganize a sua estrutura, reorganize a sua estrutura de funcionamento, terá condições de enfrentar temas tão importantes e centrais.
Eu nem disse aqui, mas, por exemplo, dois temas que eu acho também que são fundamentais e que o PT tem que priorizar o debate, da universalização da educação integral e a questão da primeira infância, a universalização do direito à creche, para a criança, que, muitas vezes, a mãe não tem com quem deixar seus filhos, o direito à segurança alimentar dessa criança, o estímulo do cognitivo na idade mais importante do ser humano, a questão do acompanhamento por meio do acesso à vaga creche, o acompanhamento dos CRAS [Centro de Referência de Assistência Social], das condições adequadas de desenvolvimento da primeira infância. Então, você me faz uma pergunta, que eu penso que esse partido que nós temos que organizar, ele tem que dar conta de temas centrais e importantes para a sociedade brasileira.
A comunicação do partido ainda é muito “analógica”? Como melhorar a estratégia digital para 2026?
Olha, você sabe, eu fui ministro da SECOM no governo da presidenta Dilma e eu sempre dizia e repito que a comunicação é eficiente quando a política é acertada. Não há como você comunicar se você não tiver acerto na linha política. No último período, o PT tem se comunicado muito bem, porque nós, efetivamente, conseguimos fazer com que a linha política chegasse à sociedade pelos instrumentos que nós temos.
Claro, eu não estou aqui dizendo que a gente não tem que aprimorar os nossos instrumentos, que a gente não tem que aprimorar a nossa linguagem, que a gente não tem que aprimorar a nossa estrutura de comunicação. Eu acho que sim, a gente tem que estar aberto e entender as mudanças. As redes sociais mudam muito rápido.
Hoje, a comunicação digital é central. Então, eu não tenho nenhuma dúvida que nós temos que acompanhar aquilo que a tecnologia nos oferece. Mas nós temos que acertar muito na linha política.
Por exemplo, no último período, quando o governo do presidente Lula faz o debate da democratização da renda, que na minha avaliação é um debate internacional, ele é um debate internacional, que a questão da concentração da renda é um problema hoje para o mundo. Quando o governo presidente Lula, por meio da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, e da diminuição da carga tributária, ou seja, vai pagar menos imposto quem ganha até R$ 7 mil, eu não tenho nenhuma dúvida quando o governo faz esse debate com a sociedade, ou seja, nós tivemos uma linha política clara para dialogar com a sociedade, a comunicação respondeu bem, respondeu muito bem. E eu penso que é isso. Outro exemplo, quando o Brasil foi afrontado pelo governo Trump e nós saímos em defesa da soberania nacional, também a comunicação se saiu bem.
Então, a linha política correta facilita que a comunicação vá bem.
Por que o PT e o governo falharam em responder a crises como a do PIX, deixando a direita dominar a narrativa?
O debate da defesa da democratização da renda o PT foi super bem, da defesa da soberania nós também fomos bem. O debate do Pix, ali tinha uma fake news. Claro, é uma mentira, ninguém estava ali querendo tributar o Pix, o que o governo queria ali era que o Pix fosse utilizado pelo crime. Pelo crime organizado, pelo tráfico de drogas, pela ilegalidade. Então, o governo queria ter um controle maior. Não era o controle sobre o trabalhador que movimenta, é das movimentações que são feitas, e que muitas vezes elas acobertam crimes.
Então, o governo queria isso, efetivamente, ter um controle maior. Claro, eu penso que naquele momento, a forma como a notícia foi para a imprensa, sem uma explicação prévia, sem que nós tivéssemos condições de diálogo com a sociedade, nós perdemos o debate, é inegável. Mas porque estava afirmado ali era uma mentira.
O governo não queria tributar ninguém. O governo não queria fazer do PIX um instrumento de tributação ou de controle. Não, o PIX não pode, que é um patrimônio do povo brasileiro.
O PIX é um modo de pagamento que está, inclusive, um dos motivos do ataque do Trump ao Brasil é o PIX. Porque, evidentemente, o PIX é gratuito. O PIX, agora, o governo está preparando o parcelamento do PIX para que você pague contas parceladas.
Você paga PIX com aproximação. Ou seja, isso incomodou muito as empresas de crédito dos Estados Unidos. Ou seja, porque o PIX, ninguém paga nada para fazer transação.
E cartão de crédito se paga 3%, 5%, além do juro, que é uma coisa absurda. Então, eu penso que quando o governo sai na defesa do PIX, o PT sai na defesa do PIX, como aconteceu nessa última semana, nós nos comunicamos bem.
Quando naquele episódio se trabalhou uma fake news, evidente que ali, não estou aqui acobertando, tentando acobertar o sol com a peneira, mas evidente que ali nós perdemos o debate, mas foi por erro de um diálogo que tinha que preceder o anúncio do PIX, ou dessa medida que o governo queria tomar, de impedir que movimentações ilegais fossem feitas por meio de PIX.

Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara e presidente do PT, em entrevista à ISTOÉ
Como reverter a queda de popularidade do presidente, e o Congresso tem contribuído para essa crise?
Primeiro, nós temos que contextualizar em que condição a popularidade do presidente enfrenta dificuldades. Primeiro, numa sociedade polarizada. O governo do presidente Lula tem entregas relevantes.
A economia vai muito bem. Nós somos um dos países que mais cresceram de forma sustentável no último período. A economia brasileira vai bem. Temos crescimento sustentável. A menor taxa de desemprego da história recente. Crescimento da renda. O Brasil, portanto, estabilizou a sua economia, criou condições para que o país crescesse. Essa é uma entrega importante. Eu não tenho nenhuma dúvida.
O presidente Lula retoma os projetos estruturantes do país, que é o PAC. Nenhum país cresce no mundo se ele não estiver investindo em infraestrutura, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, se ele não estiver investindo em saneamento básico, se ele não estiver enfrentando a questão da habitação, ou seja, o país não consegue crescer se ele não cuidar daquilo que é estruturante, para que ele cresça. O governo do presidente Lula retomou o PAC, o Minha Casa Minha Vida, lançou o projeto de reindustrialização do Brasil, são 300 bilhões de reais para o que o Brasil recupere a sua estrutura industrial, para que a gente volte a ser um país competitivo do ponto de vista da indústria. Nós temos que recuperar as áreas que de fato estão deficitárias.
O governo do presidente Lula lança projetos tão importantes como o crédito ao trabalhador, que é algo inclusive que muitos países do mundo estão copiando. O presidente Lula lança, que eu falei agora há pouco, o projeto da justiça tributária, abre o debate da democratização da renda no país. Nós estamos agora, o governo do presidente Lula prepara projeto para investimento da melhoria habitacional, projeto que deve ser lançado no próximo período, também para o moto-entregador, que é a maior categoria profissional do Brasil hoje.
Então, é um governo, eu não vou aqui nem dizer de todos os demais programas, a volta do Mais Médico, da farmácia popular, a ampliação dos medicamentos da farmácia popular. Então, são projetos importantes para o país. Mesmo assim, com a sociedade polarizada, tudo isso que o governo presidente Lula fez, está fazendo, a gente não consegue furar a bolha da polarização, porque a opinião pública está cristalizada de um lado, está cristalizada do outro.
Quando a gente fura a bolha dessa polarização? Quando nós começamos a debater o Brasil que nós queremos. Seja no debate do IOF, que virou um debate do IOF, que na verdade, ali, nós estamos enfrentando um debate que precisa ser enfrentado, que é o debate da renúncia fiscal. São 860 bilhões de reais de renúncia fiscal. Não existe nada semelhante no mundo, nada semelhante no mundo. Nós estamos debatendo a questão das desonerações ad eternum. Não existe também nenhuma política de desoneração ad eternum. Ela não pode existir. A política de desoneração tem que ser feita quando algum setor da economia precisa de um apoio para que enfrente uma questão conjuntural, para que possa se desenvolver, para que se torne mais competitivo.
Mas isso não pode ser ad eternum. Tem que ter data para começar e data para acabar. Nós estamos desonerando o PERSE, que era um programa para socorrer o setor de eventos, principalmente o setor cultural, que depois se estendeu muito além do setor cultural. E nós estamos com o PERSE até hoje. Não tem sentido. Por quê? Quando você desonera de forma indevida, quem paga a conta é a sociedade. Por quê? O Brasil precisa continuar.
Eu falei aqui, fazendo moradia popular, investindo em infraestrutura, em estradas, melhoria das estradas, melhoria das nossas rodovias, ferrovias, dos nossos aeroportos, para que a gente possa crescer de forma sustentável. O Brasil precisa investir em saneamento básico, melhorar muito a nossa condição de saneamento básico. Nós vamos continuar melhorando a educação, continuar melhorando a saúde, ter programas de combate à pobreza, à fome, à miséria.
Mas tudo isso é feito com arrecadação. Quando um setor não arrecada ou deixa de arrecadar, o conjunto da sociedade paga a conta. Então, é quem vai pagar a conta. É quem compra o pãozinho, quem paga o quilo de leite, o litro de leite, o quilo do arroz, o quilo do feijão, paga o medicamento na farmácia. Então, nós temos que debater tudo isso. Nós não podemos ter um país de privilegiados, um país de privilégios, de gente que não paga imposto, inclusive enfrentando o debate dos supersalários.
A gente não pode, quando a imensa maioria do povo brasileiro ganha menos de dois salários mínimos, a gente ter um país de supersalários pago com dinheiro público. Como a gente não pode ter um país que tenha desoneração de setores que não deveriam ser desonerados, que não faz sentido serem desonerados. Eu não vou falar aqui, mas nós temos uma multinacional no Brasil que, sem nenhum motivo, só esse ano, teve 16 bilhões de desoneração, uma multinacional que é quase um monopólio na área dela.
Então, assim, é um privilégio, é um Brasil, infelizmente, de privilegiados. Nós não queremos um Brasil de privilegiados, nós queremos um país de igualdade de oportunidades. Então, nós temos que enfrentar esse debate e enfrentar utilizando a comunicação. A relação com o Congresso Nacional, eu penso que temos um problema estrutural no Brasil e não é um problema do governo do presidente Lula. [Há] um esvaziamento do presidencialismo O Brasil hoje está tendo uma descaracterização do presidencialismo.
Agora, a nossa Constituição Federal, promulgada em 89, diz que o Brasil é presidencialista. Em 93, nós fizemos um plebiscito que diz que o Brasil continuava adotando o regime do presidencialismo. Mas, do governo Temer para a frente, até o governo Bolsonaro, portanto, Temer e Bolsonaro, nós tivemos um esvaziamento do Executivo, do presidencialismo, e atribuições que são do Poder Executivo foram para o Parlamento, para o Congresso Nacional.
Hoje, o Congresso Nacional executa 52 bilhões de reais do orçamento público. Não tem sentido o Congresso executar orçamento. Ou seja, quando o Congresso executa, e executa porque, por trás dessa crise do IOF, se você peneirar, peneirar, peneirar, o que vai sobrar é o governo não ter liberado as emendas individuais.
Então, nós temos que debater que o Brasil precisa fazer, eu tenho dito que o Brasil precisa de uma concertação política. Eu penso que as lideranças que se preocupam, de fato, com o Brasil deveriam sentar à mesa e fazer um debate sério dos problemas que o Brasil enfrenta hoje, na minha avaliação, é essa descaracterização do presidencialismo e a agenda do país é consumida por uma agenda de varejo do Congresso Nacional. Eu não estou dizendo que o debate da cidade, o debate da região não seja legítimo e não tenha que existir. Não estou dizendo isso.
Estou dizendo que isso não pode ser maior que uma agenda de Brasil, que uma agenda nacional. Então, eu tenho defendido muito que, primeiro, e é um erro da oposição que não entende que hoje a única liderança capaz de sentar à mesa os líderes partidários como representantes do Judiciário, do Ministério Público e reordenar essa confusão institucional que nós estamos vivendo, essa única liderança é o presidente Lula. Por quê?
Nós temos que pôr o Judiciário na mesa, porque a sociedade brasileira reclama do Judiciário, agora estamos vendo os ataques ao Supremo, dizendo que o Judiciário está ocupando atribuições que não lhe são suas. Primeiro, eu acho que tem todo um discurso para impedir que aqueles que foram responsáveis pela tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 sejam punidos. Nós não podemos abrir mão de punir quem atentou contra a democracia brasileira, porque se a gente não punir, nós vamos criar um precedente e o Brasil vai se tornar um país instável.
Da maior democracia do mundo que nós somos em relação ao voto direto, e nós somos, nós vamos virar um país do beijo da instabilidade, porque se alguém atenta contra a democracia, tenta um golpe, organiza uma tentativa de golpe que pressupõe matar o presidente da república, o vice-presidente e o presidente do TSE, e se as pessoas não são punidas por isso, o precedente que você abre é gravíssimo. Então eu penso que quando se ataca o judiciário, eu acho que é um erro, porque não existe democracia sem um judiciário forte.
Segundo, muitas vezes essa desorganização institucional que nós estamos vivendo, onde o legislativo, ele avoca para si atribuições que não são suas, quem é que entra para tentar dirimir as contradições que são estruturais? São contradições estruturais porque esvaziaram o presidencialismo quando a Constituição Federal diz que nós somos presidencialistas. Quem entra para mediar o judiciário. Então o judiciário só entra porque efetivamente nós estamos tendo uma desorganização institucional. E o judiciário? Eu estou dizendo que nessa desorganização institucional que nós estamos vivendo, o judiciário assume o papel de poder moderador.
Então nós temos que rearranjar tudo isso. E aí eu penso que o presidente Lula tem a autoridade política para que a gente reorganize institucionalmente o Brasil.
Segundo, nós temos que fazer uma reforma política e eleitoral no Brasil. Para tirar a agenda do Brasil desse varejo, eu penso que nós deveríamos fazer uma reforma política eleitoral fazendo o voto em lista, fortalecendo os partidos. Democracia forte em qualquer país do mundo só é forte quando nós temos partidos fortes. E do ponto de vista do Brasil, é melhor você debater um projeto de Brasil com seis, sete partidos fortes do que você ficar nesse varejo que nós temos hoje, onde não tem uma agenda nacional.
Eu falei agora há pouco de temas importantes. Nós não temos uma agenda que trate, por exemplo, da transição energética, o que nós vamos fazer com a costa equatorial, o que nós vamos fazer com as nossas reservas de terras raras, que modelo de envolvimento nós queremos para o Brasil para a gente deixar de legado para as futuras gerações. Então eu penso que são temas importantes.
Portanto, eu não tenho nenhuma dúvida que a popularidade do presidente Lula vai ser recuperada. Eu não tenho nenhuma dúvida, mas eu penso que mais do que a gente está debatendo a popularidade do presidente Lula que vai se recuperar, nós deveríamos estar debatendo hoje como que o Congresso Nacional senta com maturidade e coloca em primeiro plano os interesses do país e a gente supere esse varejo que se tornou, infelizmente, a agenda do Congresso.
O PT hoje é muito dependente de Lula? Quem seria o sucessor natural dele?
Olha, é evidente que o PT tem uma dependência imensa do Lula. O Brasil tem uma dependência imensa do Lula. A democracia brasileira tem uma dependência imensa do Lula.
O partido não deveria ser mais forte que o próprio presidente, mesmo que ele sendo o líder, ele é um grande líder.
Que o Lula não. Esquece, o Lula hoje, na minha avaliação, é o maior líder político do mundo, do mundo, do mundo. Não tem ninguém com autoridade política do presidente Lula hoje no mundo.
Tanto é que em todos os fóruns que ele vai, ele é efetivamente o grande interlocutor. E isso é importante para o Brasil, é importante para o mundo que o Lula tenha esse reconhecimento. Eu vou repetir aqui uma frase que é do presidente. O sucessor dele não será o nome. O sucessor dele será o PT. Por isso que ele se preocupa tanto que o PT esteja forte, que o PT esteja organizado e que o PT tenha uma agenda de diálogo com a sociedade brasileira que dê conta dos desafios da sociedade brasileira.
Porque se o PT estiver forte, organizado, em sintonia com a sociedade brasileira, a liderança nós construímos.

Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara e presidente do PT, em entrevista à ISTOÉ
Com o PT negociando mais com MDB, PSD e Republicanos, o partido está se movendo para a centro-esquerda?
O PT nunca será um partido de centro-esquerda. Jamais. O PT tem laços históricos e laços de compromisso com a classe trabalhadora brasileira e com os setores oprimidos da sociedade brasileira. Então, o PT sempre será o partido interlocutor, portanto, um partido de esquerda, na definição do espectro político brasileiro, na defesa dos interesses dos trabalhadores, das trabalhadoras e dos setores oprimidos da sociedade.
Agora, o PT, ele tem um projeto de país. O presidente Lula, quando ele defende a soberania nacional, quando ele defende a democratização da renda, que repito, deveria ser um debate internacional pela velocidade que é a concentração da renda no mundo hoje. Não adianta os países ricos do planeta terem política de enfrentamento ao fluxo imigratório. Se a renda não for democratizada no planeta, o fluxo imigratório sairá aumentar. Portanto, se nós concentramos a riqueza e aumentamos a pobreza no mundo, os imigrantes só vão aumentar. Porque as pessoas vão em busca de oportunidade, de comida, de condições de sobrevivência.
Se o mundo não for um mundo de igualdade de oportunidades, que as oportunidades estejam democratizadas em todas as regiões do planeta, o fluxo imigratório só irá aumentar. Então, quando o presidente debate a renda, quando o presidente debate a necessidade de um projeto nacional que passe pela igualdade de oportunidades, pela educação, pelo financiamento do SUS, pelo desenvolvimento tecnológico, nós termos um projeto de desenvolvimento sustentável, enfim, nós temos um projeto de país. Isso é um projeto de país.
Então, para a gente desenvolver uma agenda nacional, eu penso que o PT tem que dialogar com todas as forças políticas. Claro, nós sabemos quem são os nossos aliados históricos, nós sabemos quem são aqueles que estão e estarão conosco em todos os momentos de disputa de rumos do país, mas, evidente, eu acho que o PT tem que estar aberto a dialogar com quem quer construir um Brasil soberano, um Brasil forte e um Brasil justo. Então, quem quiser sentar à mesa para dialogar de uma agenda que tenha esses princípios, eu acho que o partido tem que dialogar.
O PT deve lançar candidatura própria ao governo de SP e ao Senado ou apoiar o PSB?
Eu penso que o PT tem que ter um palanque forte aqui em São Paulo. Um palanque forte para dar sustentação ao nosso projeto de país e de Estado. O PT tem que debater os rumos do Estado de São Paulo.
Nós temos que discutir, como eu disse há pouco, a política de segurança pública aqui em São Paulo, que inclusive passa pela valorização dos policiais. O PT tem que discutir o projeto de educação, o projeto de saúde, o projeto de crescimento sustentável, de defesa da economia paulista. Portanto, o PT tem que montar um palanque forte que faça essa disputa de rumos de São Paulo, de rumos do Brasil e dê sustentação evidente à reeleição do presidente Lula.
A forma como esse palanque forte vai ser montado, eu penso que é consequência de muito diálogo, inclusive com os aliados e, claro, protagonizado pela nova direção também eleita aqui no Estado de São Paulo. O PT também tem uma nova direção eleita, inclusive com a recondução do deputado federal Kiko [Celeguim], que é uma liderança que eu tenho muito respeito e carinho.