Após ser atingida em cheio pela covid-19 em 2020, a economia brasileira se recuperou em 2021 e cresceu um pouco além do patamar anterior à pandemia, mas com desempenhos divergentes entre alguns componentes do Produto Interno Bruto (PIB), cujos dados foram divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, enquanto o consumo das famílias ficou, no quarto trimestre de 2021, ainda abaixo do nível pré-pandemia, os investimentos ficaram acima.

“Estamos um pouquinho acima do antes da crise”, afirmou Palis.

O nível do PIB no quarto trimestre de 2021 ficou 0,5% acima do registrado no quarto trimestre de 2019, antes de a pandemia atingir a economia. Palis classificou a diferença como “pouca”.

Só que, enquanto o consumo das famílias ainda ficou 1,3% abaixo do nível do quarto trimestre de 2019, a formação bruto de capital fixo (FBCF, medida dos investimentos no PIB) ficou 16,9% acima. Já o consumo do governo chegou ao quarto trimestre de 2021 0,7% abaixo do nível de igual trimestre de 2019.

Segundo Palis, a FBCF foi impulsionada pelos investimentos em bens de capital – com destaque para os importados, os caminhões e o maquinário empregado na agropecuária -, pelas obras da construção civil e pelo desenvolvimento de softwares.

Nas contas do IBGE, dentro da FBCF, a construção subiu 12,8% em 2021, as máquinas e equipamentos saltaram 23,6% e os outros ativos cresceram 11,2%. Além disso, o movimento de recuperação foi beneficiado por uma “demanda represada” nos investimentos, disse Palis.

Já sobre o desempenho do consumo das famílias, que ainda não retomou o nível de atividade anterior à pandemia, pesaram a inflação elevada, o aumento dos juros, diante do aperto da política monetária pelo Banco Central (BC), e as restrições remanescentes ao consumo de serviços presenciais, por causa da pandemia. Palis lembrou que, pelo lado da oferta, a atividade de “outros serviços”, que inclui diversas atividades que dependem do contato social, como bares, restaurantes, hotéis e lazer, ainda está abaixo do nível anterior à pandemia.

PIB per capita

O PIB per capita alcançou R$ 40.688,1 no ano de 2021, uma alta real de 3,9% em relação a 2020, mas ainda insuficiente para recuperar o que nível pré-pandemia. “O PIB como um todo cresceu mais do que tinha caído, mas, como a população nesse período continuou crescendo, ele (o PIB per capita) ainda está abaixo do pré-pandemia, ainda não recuperou o que foi perdido”, apontou Rebeca Palis.

Ela disse que o PIB per capita está abaixo do quarto trimestre de 2019 e também aquém do pico da série, que foi alcançado no primeiro trimestre de 2014. “O crescimento populacional fez com que o PIB per capita não se recuperasse dos efeitos da pandemia como o PIB como um todo”, contou. “Para (o PIB per capita) voltar ao patamar pré-pandemia, o PIB teria que ter crescido um pouco mais”, avaliou Rebeca.

Taxa de poupança

A taxa de poupança no País voltou a subir em 2021, passando de 14,7% em 2020 para 17,4% no ano passado, a mais elevada desde 2013, quando estava em 18,1%, conforme os dados são das Contas Nacionais apuradas pelo IBGE.

O resultado foi puxado pela população de maior poder aquisitivo, que ainda acumula poupança diante da não normalização de consumo de serviços presenciais, como os de recreação, justificou Rebeca Palis. “Os serviços presenciais deram uma recuperada no ano passado, mas esse consumo das famílias por serviços, apesar de terem crescido bastante, ainda não voltou ao patamar pré-pandemia”, disse.

Quanto à poupança da população de mais baixa renda, a coordenadora do IBGE acredita que haja necessidade de uma melhora mais expressiva do mercado de trabalho para que isso seja viável. “A gente teve crescimento da ocupação, não é que não teve influência sobre o crescimento da poupança, mas, pra população de mais baixa renda, o mercado de trabalho precisa melhorar um pouco mais”, afirmou.

Em 2021, a taxa de investimento foi de 19,2%, a maior desde 2014, quando estava em 19,9%.