O crescimento da China perdeu força no terceiro trimestre, mas com uma desaceleração menos intensa que o previsto inicialmente graças ao aumento do consumo, em um cenário de crise sem precedentes do setor imobiliário.

O Produto Interno Bruto (PIB) do país subiu 4,9% em termos anuais no terceiro trimestre, anunciou nesta quarta-feira (18) o Escritório Nacional de Estatísticas (ONE).

O resultado é inferior ao registrado no segundo trimestre passado (+6,3%). Os analistas consultados pela AFP, no entanto, projetavam uma desaceleração mais intensa (+4,3%).

O setor imobiliário, que representa 25% do PIB da China, enfrenta grandes turbulências após duas décadas de crescimento vertiginoso.

Os problemas financeiros de grandes empresas do setor, como Evergrande e Country Garden, geram desconfiança entre os compradores, em um contexto de construções inacabadas e queda dos preços por metro quadrado.

Alguns indicadores econômicos, no entanto, registraram recuperação.

As vendas no varejo, principal indicador de consumo das famílias, tiveram forte aceleração em setembro (+5,5% em termos anuais), segundo o ONE.

O resultado supera com folga o de agosto (+4,6%) e as expectativas dos analistas entrevistados pela agência Bloomberg (+4,9%).

Um feriado nacional no fim de setembro ajudou a estimular os gastos com turismo e outros serviços.

– Famílias cautelosas –

“A economia chinesa começa a mostrar sinais de estabilização após uma série de medidas de estímulo, em particular para o consumo”, disse o economista Ken Cheung, do banco japonês Mizuho.

As famílias, no entanto, continuam cautelosas com suas despesas, com valores ainda inferiores aos gastos registrados antes da pandemia de covid-19.

A produção industrial manteve em setembro a tendência de agosto (+4,5%).

A taxa de desemprego, que na China é calculada apenas para os moradores das cidades e apresenta apenas uma imagem parcial do mercado de trabalho, caiu em setembro a 5% (contra 5,2% em agosto).

O índice de desemprego entre os jovens de 16 a 24 anos, que registrou o nível histórico de 21,3% em junho, não é publicado desde então.

A taxa de investimento em ativos fixos foi de 3,1% no fim de setembro (3,2% em agosto) e os investimentos no setor imobiliário registraram contração 9,1% no período de janeiro a setembro.

A China tem meta de crescimento “ao redor de 5%” este ano, um objetivo que pode ser difícil de alcançar sem um grande plano de estímulo, segundo alguns economistas.

“Serão necessárias medidas mais contundentes”, afirmou o analista Gene Ma, do Instituto de Finanças Internacionais (IIF).

No ano passado, o PIB do país asiático registrou crescimento de 3%, uma das menores taxas em quatro décadas.

“O pior já passou, mas a recuperação econômica continua marcada por dificuldades, em particular no setor imobiliário”, alertou Larry Hu, do banco de investimento Macquarie.

sbr/eb/meb/zm/fp/aa