Milhões de espectadores, equipados com telescópios, câmeras com filtro e óculos especiais, observaram neste sábado (14) o “anel de fogo” formado por um eclipse anular do Sol, que avançou pelo continente, do norte até a América do Sul.

No Planetário de Bogotá, um centro astronômico na capital da Colômbia, cerca de mil pessoas vibraram ao meio-dia quando as nuvens deram trégua e permitiram que o eclipse fosse admirado.

O mau tempo ameaçou impedir a visualização, mas o “anel de fogo”, efeito criado pelo fato de a Lua não cobrir completamente o Sol, pôde ser visto por alguns segundos, provocando sorrisos e lágrimas de felicidade.

Xiomara Cifuentes emocionou-se até às lágrimas. Com seu marido e três filhos pequenos e adolescentes, ela observava através de um telescópio feito de papelão.

Inicialmente, quando o céu estava encoberto, foi “angustiante”, disse à AFP. Depois, tornou-se “muito emocionante”. Será “uma memória agradável” para a família no futuro, acrescentou a funcionária pública de 41 anos.

Protegido com óculos especiais, Jhoan Vinazco, um estudante universitário de 25 anos, viu pela primeira vez um eclipse solar. Foi “um momento bastante bonito (…) algo indescritível, sem palavras”, afirmou.

O eclipse começou a ser visível nos Estados Unidos, no estado do Oregon, pouco depois das 09h00 locais (13h00 de Brasília), na costa do Pacífico. Seguiu seu caminho para o sul e, na cidade de Albuquerque, no estado do Novo México, foi recebido com aplausos.

Depois, foi visto no México, Honduras, Costa Rica, Panamá e outros lugares da América Central, além da Colômbia e do Brasil, antes de terminar ao anoitecer no Oceano Atlântico.

Em Manaus, capital do Amazonas, o eclipse pôde ser observado apesar do céu cinzento devido à nuvem tóxica que envolve a cidade por causa dos incêndios na Amazônia.

A Nasa, que transmitiu o fenômeno ao vivo entre as 12h30 e 14h15, horário de Brasília, instou as pessoas a tomarem precauções e usarem óculos de visão solar, nunca óculos de sol normais, para preservar sua visão.

– Eclipse com Sons –

Antes de chegar à América do Sul, o fenômeno atraiu multidões em universidades, observatórios astronômicos e sítios arqueológicos em Honduras e México, como as majestosas pirâmides de Teotihuacán, o Vulcão Masaya na Nicarágua e praias do Caribe na Costa Rica.

Na península de Yucatán (leste), onde o fenômeno foi mais visível no México, centenas se reuniram no Grande Museu Mundo Maia. “Presenciar um eclipse aqui é uma experiência inesquecível e cheia de energia”, comentou Pierre Durand, um antropólogo francês de 42 anos.

Na América Central, o eclipse foi visível em algumas cidades de todos os países, às vezes com dificuldade devido às nuvens.

Em Penonomé, a 160 km da Cidade do Panamá, Carlos Ramírez recebeu o eclipse vestido como um viajante do espaço exterior. “Desde criança, sonhei em ser astronauta (…) Achei o evento espetacular aqui no Panamá”, disse à AFP Ramírez, um guia turístico de origem colombiana, de 55 anos.

Até mesmo para os não videntes houve uma oportunidade. Santos Espinal, de 54 anos, estava entre uma dezena de pessoas cegas que apreciaram o eclipse no Observatório Astronômico da Universidade Nacional de Honduras, por meio do sistema tecnológico “Light to Sound” (“Luz para Som”, em inglês).

“À medida que o eclipse muda, o som também muda”, disse à AFP, emocionado.

– Foguetes –

O acontecimento também serve de aperitivo para um eclipse total que vai acontecer em abril de 2024.

Ambos os eclipses serão “absolutamente impressionantes para a ciência”, disse Madhulika Guhathakurta, cientista do programa de heliofísica da Nasa.

Os eclipses solares têm efeito notório na atmosfera superior, assim como na ionosfera, que está cheia de partículas carregadas e é responsável por refletir e refratar as ondas radiais.

“Apesar de os efeitos atmosféricos dos eclipses solares terem sido estudados por mais de 50 anos, ainda há muitas perguntas sem resposta”, comentou Guhathakurta.

Para estudar esses efeitos, a Nasa vai lançar três foguetes do Campo de Mísseis de Arenas Blancas, no Novo México, para coletar informação dos campos elétrico e magnético, a densidade de elétrons e a temperatura.

Um eclipse total foi registrado em 2017 nos Estados Unidos. Depois do eclipse total de abril do ano que vem, o próximo ocorrerá apenas em 2044, enquanto um novo eclipse anular está previsto para 2046.

Outro eclipse total também será visível da Espanha, em agosto de 2026.

O Sol é cerca de 400 vezes maior do que a Lua, mas também está a uma distância 400 vezes maior do nosso planeta. Por isso, os dois astros parecem ter um tamanho similar quando observados da Terra.

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