Se algum jovem da periferia das grandes cidades brasileiras se chamasse Eduardo Pazuello, mas fosse preto, pobre, tivesse o corpo tatuado, o boné com a aba para trás e topasse com a polícia em meio à noite, é bem provável que acabasse preso imediatamente. Ainda que jurasse ser trabalhador, seria preso — e sem nenhuma investigação e sem direito a dar a menor explicação. Isso ocorre nesse País, e alguns desses jovens vêem-se condenados porque vítimas de assalto os confundem com o ladrão na hora do reconhecimento facial. Repita-se: prisão imediata, eventualmente acompanhada de pancadas, e nenhuma investigação nem direito a explicações (tecnicamente falando, chama-se direito ao contraditório, peça vital para o Devido Processo Legal, fundamento do Estado de Direito).

   Ou seja: sem nenhuma base factual, haveria o flagrante.

   Então, por que o oficial general Eduardo Pazuello, branco, ex-ministro (incompetente) da Saúde, que transgrediu as regras das Forças Armadas e passou por cima das “leis” do Exército ao subir em palanque político de Jair Bolsonaro, ainda não foi preso pelo próprio Exército? Por que no caso do Pazuello três estrelas (general de divisão), que foi apanhado em flagrante delito, precisa haver investigação? Era para ser punido pelo Alto Comando do Exército já no instante em que estava (sem máscara) no palanque. Militares são proibidos de fazerem o que Pazuello fez. E se um Pazuello que seja mero recruta agir da mesma forma que o general, também a ele se dará prazo para a punição ou essa virá a cavalo? Ou, melhor: de moto?

   Mas no Brasil é assim: alguns policiais são filmados espancando meros suspeitos (não é para espancar ninguém) e abre-se investigação. Investigar o quê, se há vídeo mostrando a cena? Seguranças batem em preto e abrem-se apurações, mesmo com filmagens. No caso do ex-ministro, a filmagem é a exibição da transgressão em tempo real.

   Ao Exército cabe mostrar imediatamente que Pazuello passou de todos os limites de desrespeito em relação à instituição à qual pertence. Ou há ordem, obediência e hierarquia nas Forças Armadas ou elas se tornarão o caos. Tal ordem, obediência e hierarquia são exigidas pela Constituição do Brasil para que elas, as Forças Armadas, cumpram as suas funções constitucionais. Pazuello atropelou tudo isso no último domingo.