Um dos ciclos olímpicos mais longos da história chega finalmente ao fim neste domingo, um ano após o previsto inicialmente, por conta da disseminação da pandemia de Covid-19. Só esse elemento já seria suficiente para aumentar o nível de stress e ansiedade dos atletas, que já são pressionados para conseguir resultados em um país com pouco investimento em esporte olímpico.

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Esse é o caso de Darlan Romani, do atletismo, que perdeu patrocinador, teve covid, e precisou treinar em um terreno baldio para se manter em forma para os Jogos. O atleta de arremesso de peso que se pressionava por medalha, acabou adiando novamente os sonhos para os Jogos de Paris, em 2024, depois de um frustrante quarto lugar.

Outro atleta muito pressionado pelo própria ansiedade de realizar o sonho olímpico foi o nadador Bruno Fratus, que chegou a entrar em depressão após os Jogos do Rio e conseguiu se reerguer com a ajuda da esposa e treinadora. Nos 50m livre, Fratus se superou e levou o bronze, realizando o sonho de criança.

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Nos esportes em grupo, a pressão para um resultado positivo da seleção masculina de vôlei após uma derrota avassaladora para o Comitê Olímpico Russo na primeira fase fez com que a equipe se perdesse no terceiro set das semifinais, contra os mesmos russos, em um momento onde a vitória parecia quase certa. O mesmo aconteceu com a seleção feminina de futebol. Sempre pressionadas por um ouro olímpico, as atletas caíram nas quartas de final contra o Canadá, um adversário que o país tinha um retrospecto positivo em jogos anteriores.

Para falar sobre isso, o LANCE! convidou o especialista em alta performance, Edison Edwin, para falar como os atletas de alta performance podem evitar um vacilo neste momento crucial dos Jogos. O vôlei masculino ainda luta pelo bronze, já o feminino, por uma vaga na final. O futebol masculino joga pelo ouro neste sábado, contra a Espanha. Também teremos duas lutas pelo ouro no boxe com Herbert de Souza e Bia Ferreira, e dias decisivos para as ambições de Isaquias Queiroz, da canoagem.

– Os atletas de alta performance têm a ansiedade como acompanhante durante a vida toda. É uma vida de cobranças externas e internas. O bom desempenho em qualquer competição vai sempre depender de como ele está técnica e emocionalmente. A ansiedade ativa determinadas áreas do cérebro que direcionam para uma execução mais eficiente. Porém, quando em excesso, desencadeia o inverso, e traz a um pior rendimento. Um atleta sob muita pressão, aumenta seu nível de ansiedade e tende a ter um baixo desempenho pela consequente queda de concentração. O corpo precisa de atenção e treinamento, a mente também. Fortalecer a parte psicológica é fundamental para a competição – avalia.

Edison Edwin aponta que nesta reta final, em um momento em que as questões técnicas, físicas e táticas estão muito niveladas, o fator psicológico pode ser o grande diferencial.

– Os atletas devem incluir em seu dia a dia, esse cuidado psicológico para lidar com essa pressão. Todos estão em busca da vitória, do reconhecimento, da glória. Existe uma enorme pressão para manter esse equilíbrio emocional, e a pessoa tem que ir em busca dessa blindagem. Saber que pode confiar em si mesmo e no colega ao lado, faz com que um time se torne muito mais forte mentalmente.

– Uma das ferramentas importantes é reconhecer os pensamentos negativos que se repetem e que podem ampliar os sintomas de ansiedade. Esses sabotadores internos aparecem na mente de todas as pessoas e a alta pressão psicológica faz com que eles falem mais alto. Pensamentos como “estou atrás no placar e o tempo está acabando”, “se eu errar, está tudo acabado”, elevam a pressão e atrapalham muito o rendimento final.

O especialista aponta um momento evidente de controle emocional que garantiu uma medalha de ouro para o Brasil nesses Jogos Olímpicos, no surfe.

– Todos estão suscetíveis à frustrações. O vencedor vai ser aquele que diante do problema, controla a ansiedade e foca na resolução: Ítalo Ferreira, teve sua prancha quebrada durante a prova. Trocou a prancha e conseguiu vencer. Alguns segundos de ponderação, dúvida e medo, provavelmente teriam sido fatais para o tão sonhado ouro.

– O desafio é ir em busca do entendimento de que, seja no esporte individual ou coletivo, a maior competição do atleta é com ele mesmo. O objetivo não é ser diretamente melhor que outra pessoa, mas ser melhor do que ele mesmo e superar seus próprios limites. Quando isso acontece, aumentam as chances da vitória.



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