Um caso de morte durante um tratamento estético chocou o País na semana passada. O empresário Henrique da Silva Chagas, 27 anos, morreu deitado na maca de uma clínica de São Paulo, logo após ser submetido a um procedimento de peeling de fenol, substância corrosiva, perigosa, com venda controlada oficialmente e que exige conhecimento profundo para ser utilizada. As imagens do sofrimento final de Chagas, captadas por câmeras de segurança, impressionam.

Natália Fabiana de Freitas Antônio, dona da clínica e responsável pelo procedimento, se apresenta na internet como digital influencer, ou influenciadora digital. Nas redes sociais, adota um sobrenome bem mais pomposo do que os de batismo: Natália Becker. Não possui diploma reconhecido em medicina, estética corporal ou qualquer outra profissão da área. Sua formação se limita a um curso ligeiro, de apenas um mês, online, com uma esteticista paranaense. O fenol usado na clínica também é comprado pela internet.

A morte de Chagas é apenas a mais recente consequência, no País, da forma exagerada e leviana com que cidadãos de vários cantos do mundo, mas particularmente brasileiros, tratam e incensam os autodenominados influenciadores digitais. Pessoas despreparadas ganham dinheiro, notoriedade e prestígio transmitindo conteúdos duvidosos, falsos e até mesmo perigosos, como no caso do empresário, a multidões de incautos acumulados nas redes sociais. A internet é inquestionavelmente uma conquista da humanidade. Mas o uso do rótulo de influenciador por fraudadores que lucram fingindo ser o que não são é um de seus efeitos colaterais mais negativos. É a praga dos falsos influenciadores digitais, que, além de tudo, geram confusão ao se misturarem, na rede, com os discursos dignos de respeito.

Assim que se certificou da morte de Chagas, Natália desapareceu. Não sem antes tirar suas redes sociais do ar, por sinal, um procedimento padrão de influencers de mentira em casos do tipo. Deu as caras na delegacia dois dias depois, livre do risco de uma eventual prisão em flagrante. Numa entrevista, disse “não ser médica para pedir exame a paciente”. Este é, precisamente, o problema: Natália não é médica – nem nada. De acordo com o delegado Eduardo Luís Ferreira, do 27º Distrito Policial de Campo Belo, zona sul de São Paulo, onde o caso é investigado, ela será indiciada por homicídio com dolo eventual, ou seja, quando se assume o risco da ocorrência. Será mais um falso influenciador digital a responder por erros graves cometidos na internet. Mas, infelizmente, tudo indica que não será o último.