Nada como um dia após o outro. Doze anos depois de estremecer Brasília ao denunciar que o governo Lula instrumentalizou o mensalão para comprar parlamentares no Congresso, Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, voltou a surpreender. Emplacou sua filha, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), como nova ministra do Trabalho. Na saída do gabinete do presidente Michel Temer na última quarta-feira 3, Jefferson chorou, após a confirmação da nomeação. “É o orgulho, a surpresa, a emoção que me dá. É o resgate, sabe? É um resgate. (O mensalão) já passou. Fico satisfeito”, desabafou o chefe do PTB.

O choro de Jefferson, de 64 anos, tem uma explicação. Apesar de ter denunciado a existência do esquema de corrupção petista, ele também foi considerado um político nefasto e acabou condenado no mensalão a 7 anos e 14 dias de cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo STF em razão do recebimento de R$ 4 milhões para apoiar o governo do PT em 2005. Jefferson, que depois rompeu com o PT, teve ainda cassado o mandato de deputado federal. Foi preso em fevereiro de 2014 e ficou 15 meses atrás das grades. Em março de 2016, o STF lhe concedeu o indulto. Em liberdade, retomou a presidência do PTB e orientou a bancada de 26 deputados na Câmara a apoiar as reformas do governo Temer desde o início. A nomeação da filha lavou a alma da família.

“Dirceu é o chefe”

Afinal, Jefferson sempre se considerou um injustiçado. Foi ele quem revelou que o publicitário Marcos Valério era responsável pelas malas de dinheiro destinadas aos deputados comprados pelos petistas e que o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, era o chefe da quadrilha. “Dirceu, saia rápido daí (do ministério da Casa Civil de Lula)”, disse o então deputado Jefferson. Dirceu caiu em junho de 2005 e reassumiu a vaga de deputado federal na Câmara. Mas Jefferson queria mais: a cassação de Dirceu. “Vossa excelência (José Dirceu) desperta em mim os instintos mais primitivos”, pregou o petebista. Dirceu foi cassado e em 2012 condenado a 7 anos e 11 meses por corrupção por liderar o mensalão. Teve a pena perdoada pelo STF em outubro de 2016. No final de 2005, porém, o próprio Jefferson também teve o mandato de deputado cassado. Dirceu e Jefferson estão hoje em situações opostas. Enquanto o petebista não se envolveu mais em falcatruas, Dirceu, ao contrário, foi um dos articuladores dos desvios na Petrobras. Como mentor do Petrolão, foi condenado a 30 anos de prisão e está em liberdade provisória. Cada um é responsável por traçar o próprio destino.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias