A direita bolsonarista está em crise existencial.  

O próprio Jair Bolsonaro apontou o drama na sua live desta quinta-feira, ao reclamar da “direita burra” que o ataca pela indicação de Kassio Marques, o do currículo fantasiado, para uma vaga no STF. 

Bolsonaro associou a burrice de quem o critica à inexperiência, dizendo que eles ainda carregam “o cheiro das fraldas”. É um detalhe revelador. 

No esquema de Bolsonaro, em contraposição à direita burra não temos uma direita ilustrada, mas sim uma direita experiente e pragmática. 

A lição que o presidente gostaria que os desiludidos aprendessem se resume em uma frase: “É o poder, estúpido!” 

Trata-se de compreender que as atuais escolhas são ditadas por duas necessidades: proteger o mandato e abrir caminho para a reeleição. 

(Há também a necessidade de proteger a prole, mas essa fica entre parênteses. Repetindo o que eu já disse aqui, neste momento Bolsonaro não tem convicções, tem família e um projeto de poder.) 

Para Bolsonaro, o seguidor ideal é Abraham Weintraub, que engoliu o remédio, ainda que a contragosto, dizendo no outro dia que a nomeação de Kassio Marques é frustrante para quem desejava “explodir o Mecanismo”, mas ainda não é a senha para abandonar o capitão: ele estaria apenas lidando com as circunstâncias para voltar à carga mais tarde. 

Mais tarde quando? Num segundo mandato, obviamente. 

Se o presidente foi ou não domesticado, se ele abandonou para sempre suas pretensões golpistas ou pretende reavivá-las caso seja reeleito, com certeza é uma questão crucial – e não apenas para os bolsonaristas.

Antes disso, no entanto, vem a própria eleição de 2022.

Bolsonaro só pensa nisso e só age em função disso.

O Centrão fisiológico se aliou ao presidente e têm tudo para acompanhá-lo até o final, porque eles compartilham o projeto de inviabilizar Sérgio Moro como candidato. 

A esquerda têm pronto o discurso de oposição.

Como sempre, é o Centro democrático que continua boiando, sem plataforma ou projeto visível. Parece satisfeito com o fato de Bolsonaro estar contido e com o encaminhamento de “reformas estruturantes”.

Para onde isso leva? Não ao poder, estúpido. E então descobriremos o que uma esquerda ressentida ou um Bolsonaro empoderado querem fazer do país.