É hoje, Brasil!

É hoje, Brasil!

Patrícia Favalle ?O que é que a baiana tem??, afinal, perguntam-se há décadas os olhos deslumbrados dos visitantes acidentais sobre os encantos de Gal Costa, Bethânia, Daniela Mercury e Ivete Sangalo. ?É coisa do Tio Sam, que continua querendo conhecer a nossa batucada!? ? entoa a voz rouca de Baby do Brasil. É nesse solo com margens continentais, cantarolado por versos de Vinicius de Moraes, que cisma em declarar um amor eterno (mas que seja infinito enquanto dure), que o estrangeiro se derrete ao som dos cavaquinhos, das cuícas e dos surdos estridentes que descem os morros rumo à apoteose. Por aqui, até os estereótipos, arquétipos e demais proparoxítonas de uso indiscriminado já sabem que o time de 300 milhões de cidadãos não quer mais saber das ideias prontas consolidadas pelo imaginário global. Na verdade, não estão mas nem aí para o tal do mulato inzoneiro. O cineasta José Padilha, por exemplo, cabe bem nessa neogeração de brasileiros de autoconfiança sedimentada. ?O Robocop pode até ser seu, mas a equipe será daqui. Também sabemos fazer cinema?, disse ele ao aceitar a missão de refilmar o longa-metragem homônimo de 1987. Outros que vêm brilhando sem os excessos tóxicos da modéstia supervalorizada, conscientes da qualidade do trabalho que realizam, são os chefs Alex Atala ? dono do sexto melhor restaurante do mundo, o D.O.M. ?, e Helena Rizzo, sócia do Maní, eleita a melhor chef do mundo de 2014, pela revista britânica The Restaurant. Nos tabuleiros dessa gente estrelada, sobram ingredientes genuinamente tupiniquins, da mandioca ao açaí, passando pelo guaraná e pela banana-prata. Sem sair da cozinha, na dobradinha mais famosa da gastronomia do lado de cá do Atlântico, o feijão com arroz ganha nuances de menu real, pelo menos na melodia construtiva de Chico Buarque. Ora ácidos, ora açucarados, mas sempre temperados, Caetano Veloso, Gilberto Gil e uma legião de ?mpbistas? seguem tinindo no podcast de muito inglês por aí. O que não falta pelas terras cabralistas ? numa alusão ao descobridor português que zanzou nessas bandas por volta de 1.500 ?, é o gingado escancarado por um desenho de Walt Disney. Sim, Zé Carioca nasceu de guarda-chuva, chapéu de palha e colarinho alto arrematado pela gravata borboleta, cheio de uma malemolência cadenciada por tico-ticos aqui e tico-ticos ali. Mas se engana quem imagina que a alma verde-amarela pode ser descrita pelos trejeitos acentuados do papagaio ou por 11 camisas da Seleção Canarinho, alguns repiniques, cachaça e frutas exóticas usadas como adereços no vestuário cotidiano das mulheres ? quase sempre retratadas com seus corpos esguios e quadris envolventes. Longe desse reflexo antiquado, está mais do que em tempo do mundo saber realmente o que é que o Brasil tem de bom na música, nas artes, na arquitetura, no cinema, no esporte e na moda. Music, please!

É hoje, Brasil!

Valesca Popozuda

Assim como o café, a música brasileira tornou-se artigo de exportação. E nesse contexto, há de tudo: de Tom Jobim e Nara Leão ao forró-brega de Gaby Amarantos e da banda Calypso até a Tropicália e os hits que incendeiam as pistas de dança, caso das letras sacanas das funkeiras Anitta e de Valesca Popozuda, sem deixar de fora o rock classicão dos Titãs, de Lulu Santos e do Ultraje a Rigor. Já João Gilberto, com seu tom afinadíssimo, prefere seguir na contramão da parafernália de som, enquanto a trupe do samba, puxada por Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Alcione, Zeca Pagodinho, Mart?nália e Diogo Nogueira adora um barulhinho bom. Marisa Monte ? e toda a velha-guarda da Portela ? também. Mostra a sua cara
É hoje, Brasil!

Os Gêmeos

Desde Aleijadinho, quando o rococó tupinambá fervia no eixo das Minas Gerais, as artes plásticas não pararam de revelar talentos promissores. Victor Meirelles, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Brecheret, Di Cavalcanti, Portinari, Lygia Clark, Wesley Duke Lee são alguns dos nomes que ajudaram a formar a identidade cultural brasuca, hoje comandada por gente do quilate de Nelson Lerner, Tunga, Maria Bonomi, Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Ernesto Neto e Vik Muniz. Das ruas para as galerias, os portfólios dos grafiteiros Osgêmeos, Zezão e Titi Freak ganharam notoriedade internacional. Antropofagia revisitada
É hoje, Brasil!

Jorge Amado

Se no campo visual o Brasil é considerado referência, não é diferente na literatura. São tantos (e excelentes) autores, que fica quase impossível criar uma lista de leitura obrigatória. Monteiro Lobato, Machado de Assis, Mário de Andrade, Rachel de Queiroz, Cora Coralina, Jorge Amado, Oswald de Andrade, Nelson Rodrigues e Manuel Bandeira abriram caminho para que a safra atual ganhasse notoriedade entre os amantes das letras. Antonio Prata, Tatiana Salem, Laura Erber, Vanessa Barbara, Javier Contreras e Daniel Galera merecem destaque. Linhas retas, ?pero no mucho…?
É hoje, Brasil!

Irmãos Campana

Há de se achar graça com a confusão que os turistas costumam fazer com os idiomas sul-americanos. Mas para por aí ? a capital do Brasil não é Buenos Aires, mas, sim, Brasília, uma cidade que saiu dos croquis de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer para entrar na história como um dos mais importantes ícones da arquitetura modernista. Nessa seara também figuram Burle Marx e seus jardins pomposos; Lina Bo Bardi, dona de riscados puristas; Athos Bulcão, com toda a maestria de sua azulejaria geométrica e Vilanova Artigas, líder da escola paulista. Com inspiração saindo pela tangente, impossível resistir à tentação de enumerar uma dúzia de outros bambas: Sergio Rodrigues, Alexandre Wollner, Irmãos Campana, Carlos Motta, Guto Índio da Costa, Hugo França, Paulo Mendes da Rocha, Zanini de Zanine, Ruy Ohtake, Marcio Kogan, Sig Bergamin e José Marton. Ufa! Terra em transe
É hoje, Brasil!

Fernanda Montenegro

Mazzaropi, Grande Otelo e Oscarito não tiveram a chance de ver as suas interpretações atravessarem oceanos, como já aconteceu com Fernanda Montenegro, Gloria Pires e Patrícia Pillar, que debutaram no red carpet do Teatro Kodak, em Los Angeles (endereço onde mora a estatueta do Oscar). Por sinal, a tevê brasileira é dona de respeito incomum no meio, com prêmios disputadíssimos e novelas traduzidas até para o cirílico e o hebraico. No cinema, após Cacá Diegues, Guel Arraes e Glauber Rocha, com seus arrasa-quarteirões vencedores do Festival de Cannes, é chegado o momento de assistir aos sucessos de Walter Salles, José Padilha e Bruno Barreto. Astros do pódio
É hoje, Brasil!

Pelé

Pelé, Garrincha, Didi, Leônidas da Silva, Sócrates, Ademir da Guia, Zico, Ronaldo… É possível montar dez times inteirinhos só com os craques brasileiros que estamparam o imaginário futebolístico das últimas décadas. Sorte nossa, já que estamos às vésperas de mais uma Copa do Mundo, que terá em campo Neymar, Daniel Alves e companhia. Mas como nem só de bola nos pés se constrói a hegemonia esportiva de um país, o Brasil também forma atletas de ponta em outras modalidades. César Cielo, da natação, Daiane dos Santos e Arthur Zanetti, ambos da ginástica artística, Rodrigo Pessoa, do hipismo, Robert Scheidt, da vela, e Bob Burnquist, do skate, são alguns ídolos que despertam a atenção dos torcedores. Tendência in
É hoje, Brasil!

Gisele Bündchen

Nas passarelas da moda, ao contrário dos espalhafatosos coloridos carnavalescos, sobram composições minimalistas, de tons neutros e recortes estruturados. Porém, o regionalismo não fica de fora, e do tecido de chita aos tricôs, as criações nacionais esbanjam personalidade. Foi assim que estilistas como Alexandre Herchcovitch, Gloria Coelho, Ronaldo Fraga, Oskar Metsavath, Vitorino Campos e Francisco Costa fizeram a crítica especializada se desdobrar em elogios. Antes deles, Zuzu Angel, Dener e Clodovil já haviam conquistado um séquito considerável de seguidores. Se nessa indústria temos um cordão de experts, é natural que muitas das beldades que preenchem os line-ups sejam nativas (e as lindas estão na contramão de se besuntarem de urucum!). O rol das tops vai de Raquel Zimmermann e Gisele Bündchen a Adriana Lima, Isabeli Fontana, Carol Trentini e Lea T ? sem dúvida, um time que é bem capaz de fazer o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo inteiro sambar!