Mais de meio milhão de imóveis continuam sem eletricidade nesta sexta-feira, 12, na Grande São Paulo. Já são mais de 48 horas desde o início do apagão, que chegou a atingir 2,2 milhões de endereços na região, após rajadas de vento de quase 100 km/h desde a madrugada de quarta-feira, 10. Às 13h32 desta sexta, 669.497 estão sem luz, segundo a concessionária de energia Enel – o que também afeta o abastecimento de água.
A Enel afirma, em nota, ter reforçado antecipadamente seu número de técnicos nas ruas. Ao longo do dia, diz ter 1,6 mil equipes em campo para restabelecer a energia, além de disponibilizar 700 geradores para as áreas afetadas (veja abaixo). Procurada pela reportagem, a Sabesp ainda não se manifestou.
Veja, abaixo, histórias de moradores de São Paulo afetados pela falta de energia e d’água decorrente do vendaval de quarta.
‘É um descaso, né?’
A autônoma Fernanda Amaral estava desde as 7h15 de quarta-feira sem luz em sua residência na Rua Paulistânia, no Sumarezinho, na zona oeste da capital. Ela relata estar tomando banho de caneca com água fria há três dias. O abastecimento de água começou a faltar às 19h de quinta, 11. “É um descaso, né? Não dá para entender como 48 horas passam e nada acontece. Já se sabia da previsão de ciclone e não houve preparo”, critica.
O condomínio dela tem gerador, que foi usado para manter a energia no elevador, na bomba de água e no salão de festas, onde moradores utilizam para carregar o celular e a geladeira no local foi usada para guardar remédios. “O resto tudo sem funcionar, então a geladeira começou a perder calor. Muita gente saiu para comprar gelo. Mas não adiantou.” O gasto com diesel para manter o gerador funcionando foi de cerca de R$ 4 mil.
A energia em seu prédio foi restabelecida às 10h desta sexta, 51 horas após a interrupção. A água voltou às 11h30.
‘Vivemos um momento muito dramático’
O síndico Cláudio Del Rio está sem energia e sem água desde a manhã de terça-feira, 11, no prédio em que trabalha na Rua Senador César Lacerda Vergueiro, também no Sumarezinho. Ele relata indignação com a prestação do serviço da Enel e da Sabesp.
“Impacta demais na vida de cada morador, inclusive nos custos. Não temos mais como recorrer à contratação de água potável. As empresas dizem não ter mais como nos atender. O posto de gasolina também não tem mais óleo diesel. Vivemos um momento muito dramático”, conta. Ele aponta que a queda de energia no bairro é recorrente, e que o prédio em que é síndico comprou, na quinta, três caminhões pipa d’água, por cerca de R$ 1 mil.
‘Situação delicada para aqueles que estão sozinhos’
No condomínio Ways Vila Sônia, no bairro de mesmo nome, na zona oeste de São Paulo, a falta de energia obriga os moradores a comprarem galões de água mineral para as tarefas cotidianas.
A farmacêutica Débora Silvestre Zaremba, de 43 anos, havia separado um balde de água para escovar os dentes, mas a reserva já acabou. Com isso, precisou recorrer aos amigos e parentes. “É uma situação desesperadora. A gente não sabe mais o que fazer.”
A situação dela é ainda mais delicada porque está cuidando da mãe, Lázara, de 80 anos, com dificuldades de locomoção. Ela conta que o prédio de oito andares tem vários moradores idosos. “É uma situação delicada para aqueles que estão sozinhos, sem acompanhantes ou parentes.”
O que diz a Enel
A Enel afirma ter reforçado antecipadamente seu número de técnicos nas ruas. Diz a nota da empresa: “A região metropolitana foi atingida por um vendaval considerado histórico pelo Inmet, que perdurou por cerca de 12 horas. O evento climático causou danos severos à infraestrutura elétrica. Em algumas localidades, o restabelecimento é mais complexo, porque envolve a reconstrução da rede, com substituição de postes, transformadores e, por vezes, recondução de quilômetros de cabos.”