A psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999) é celebrada nos países que levam a sério a saúde mental – no Brasil, Nação na qual são verdadeiros heróis os que hoje atuam nesse campo, Nise é por eles homenageada. Ela promoveu no País, a partir da década de 1940, uma revolução na abordagem da esquizofrenia e trocou a eletroconvulsoterapia pela arte. Ou seja: em vez de o paciente levar choque elétrico, ele se exprimia pintando.

E a pintura e a literatura derrotaram o choque elétrico
Ferreira Gullar: carinho pelos esquizofrênicos (Crédito:Divulgação )

Corte

De um inesperado, mas feliz encontro do poeta e crítico de arte Ferreira Gullar (1930-2016) com Nise nasceu uma preciosidade: Nise da Silveira, Uma Psiquiatra Rebelde. A obra revolucionou, o tempo passou, o livro sumiu.

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Atualmente ele é imprescindível a médicos e psicólogos que cuidam de esquizofrênicos nas áreas clínica ou psicoterapia. Está sendo relançado (editora Planeta). Há muito para comemorar, há muito para valorizar, há muito para aprender — e há muito para colocar em prática em relação aos ensinamentos de Nise. Textos de sua autoria e do poeta enriquecem a composição da nova edição.

ALEMANHA
Prisão para essa senhora. Já!

E a pintura e a literatura derrotaram o choque elétrico
Ursula Haverbeck: cruel defensora de Auschwitz (Crédito:Paul Zinken)

A alemã Ursula Haverbeck tem 95 anos de idade. Uma pequena parte da população e autoridades do país, minoria mesmo, a levam na galhofa. A esmagadora maioria, no entanto, acertadamente encara com a devida seriedade as suas atitudes. Ursula é nazista e vive propagando o ideário de Adolf Hitler. Mais uma vez ela está sendo julgada no Tribunal Distrital de Hamburgo por tal crime — já compareceu, também enquanto ré, em outros diversos julgamentos, foi condenada, cumpriu pena, saiu em liberdade, mas insiste em reincidir. Certa vez teve o atrevimento de encaminhar ao juiz um panfleto no qual nega que o nazismo tenha cometido atrocidades contra os judeus. A sua tese principal é uma aberração: diz ela que o campo de extermínio de Auschwitz era mero local de trabalho, e que “as mortes são invenções”. Historicamente, comprova-se que 1,1 milhão de pessoas foram nele exterminadas. Nesse momento em que a extrema direita se fortalece na Europa, pessoas como Ursula, independentemente da idade, até porque desde a juventude ela é nazista, têm de ser neutralizadas. É viúva de Gerorge Haverbeck, um ativo militante do nazismo. Fundou um colégio para enaltecer o famigerado Hitler, fechado em 2008.

EUA
A corrida à Casa Branca após a condenação de Hunter

Entre essas duas frases há uma diferença no simbolismo psicológico e na praxe jurídica, ainda que elas pareçam ter o mesmo sentido: todos são iguais perante a Justiça, como se diz no Brasil, e a Justiça é igual perante todos, conforme se fala nos EUA. O princípio brasileiro, aqui e nos demais países que o adotam, se constitui em mera retórica. O segundo enunciado produz verdadeiramente a arquitetura da isonomia. O mais recente exemplo é a condenação de Hunter Biden, filho do presidente dos EUA, Joe Biden. São três as acusações: mentir em um formulário sobre o uso de drogas ilícitas ao obter uma arma em 2018; possuir ilegalmente essa arma; e evasão fiscal. A pena máxima é de vinte e cinco anos de prisão e multa de US$ 750 mil, mas a própria legislação poupa dessa alta dosimetria os infratores primários. No campo político, a condenação veio na pior hora possível ao Partido Democrata. Tinha ele o objetivo de fustigar os republicanos com foco na recente condenação do ex-presidente Donald Trump, que de novo tentará chegar à Casa Branca. Tal plano, agora, está frustrado, porque os conservadores, direitistas e extremistas de direita passaram a ter a mesma munição para tentar desmoralizar o incumbente – ele assegurara que não se valeria da prerrogativa constitucional de concessão de perdão, caso o filho viesse a ser condenado. Anima o presidente pesquisa de intenção de voto feita pela Emerson College: 64% dos eleitores declararam que o resultado do julgamento não os abalaria. Ou seja: quem pretende reconduzir Joe Biden ao cargo segue disposto a fazê-lo.

E a pintura e a literatura derrotaram o choque elétrico
Hunter (em primeiro plano) acompanhado do pai, o presidente Joe Biden, na Base da Guarda Nacional Aérea em Delaware: munição aos republicanos (Crédito:Andrew Caballero Reynolds)