Teoricamente, campanhas eleitorais servem para esclarecer as questões e indicar a cada eleitor qual deve ser o candidato ou partido de sua preferência. Na prática, sabemos que isso raramente acontece; no mais das vezes, os contendores se aferram a chavões ou se insultam mutuamente, deixando de lado a substância das questões. Isso, infelizmente, ocorre por toda parte; é um traço negativo das democracias no mundo atual.

Outra dificuldade, menos perceptível a olho nu, é que sempre há muitas questões numerosas, todas em tese importantes e urgentes, mas, não sendo possível enfrentá-las todas ao mesmo tempo, é imperativo fixar prioridades. Determinar o que vem primeiro e o que pode ficar para mais adiante.

Na conturbada situação que o Brasil tem vivido, a sucessão presidencial está profundamente afetada por essa distorção. O combate ao crime é uma questão importante? Claro que é. Só um louco dirá o contrário. E o combate à corrupção? Óbvio que é. E ambas têm estado no topo da agenda. Na questão da segurança, tivemos a intervenção do Exército no Rio de Janeiro; na da corrupção, a Operação Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e os tribunais superiores atingindo o limiar do grotesco, de tanto bater cabeça.

Como antecipei, o fato de determinado problema, como o da insegurança, estar levando a sociedade a um quase desespero não o transforma automaticamente numa prioridade factível. É o caso da segurança. Alguém em sã consciência acredita que seremos capazes de reduzir a criminalidade violenta a um nível aceitável em menos de vinte anos? Duvido e faço pouco. Até porque, para controlar a insegurança generalizada, teremos de investir um montante de recursos financeiros de grande vulto, que no momento inexistem.

O mesmo pode ser dito a respeito do azedume que hoje prevalece na área dos costumes, valores e comportamentos sociais. Tentar equacionar tais divergências na base da “energia” ou da “vontade política” é o caminho mais curto para exacerbá-las e torná-las praticamente insolúveis. Resumindo: o que tem solução e precisa ser resolvido com urgência urgentíssima é a crise econômica: reformas, reajuste, reorganização do Estado. Essa é a agenda sine qua non do próximo quatriênio presidencial.
Quem fez a lambança, todos sabemos: o PT e, em particular, o governo Dilma. Quem tem credibilidade para tentar superá-la? Essa é a questão que ora nos deve ocupar.

Alguém em sã consciência acredita que seremos capazes de reduzir a criminalidade violenta a um nível aceitável em menos de vinte anos? Duvido e faço pouco

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