Embora aprovados em universidades públicas, alunos que saem de escolas particulares estão optando por ficar em instituições privadas. Por medo de encontrar estruturas precárias, falta de professores e corte de recursos em projetos e programas, estudantes de classe média alta preferem pagar pelo ensino superior em faculdades particulares de ponta, com mensalidade de mais de R$ 3 mil.

É o caso de Isabella Alves Cabral, de 18 anos, que estudou no Colégio Mopi, na Tijuca, zona norte do Rio. Ela conta que sempre sonhou em entrar em uma universidade pública. Durante todo o ensino médio, dedicou-se aos estudos e simulados dos grandes vestibulares do país. Ela foi aprovada em Arquitetura na Universidade Estadual do Rio (Uerj), mas não quis se matricular – preferiu estudar na PUC-Rio, onde o curso custa R$ 3,8 mil ao mês. “Fiquei muito chateada, porque era meu sonho estudar na Uerj. Mas não me senti segura, lá não há nem previsão de quando as aulas vão começar.”

Com atraso nos repasses do Estado, em crise, a instituição fez nova alteração no cronograma semana passada. “Meus amigos que estudam na Uerj estão tentando sair de lá porque não têm previsão de quando vão terminar o curso.”

Heitor Ferreira, de 18 anos, até desistiu de fazer a segunda fase do vestibular da Uerj, já que a prova coincidia com a da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. Ele também fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e teve nota que o permitia entrar em Economia na Universidade Federal Fluminense (UFF), mas preferiu a FGV Rio – com mensalidade de cerca de R$ 3,5 mil para o curso. “Eu pensava em fazer universidade pública por ser gratuita e reconhecida, mas, pela situação de crise que enfrenta, o ensino não tem a mesma qualidade de algumas particulares”, afirma. Para ele, as instituições estaduais e federais sofrem com muitas greves, falta de infraestrutura e professores, o que desmotiva os estudantes. “É um investimento em que devo ter retorno rápido. Ouvi dizer que alunos da FGV conseguem estágio logo no 3.º ano.”

No vestibular de 2016, a Uerj teve uma queda de 16,4% de inscritos em relação ao ano anterior – foram 12,3 mil candidatos a menos. Para a sub-reitora de graduação, Tania Maria de Castro Carvalho Netto, houve uma “pequena queda” que pode ter sido influenciada pela grave crise enfrentada pelo governo estadual do Rio e como reflexo do desemprego da população. Tania também afirmou que a universidade não perdeu “seu prestígio” e a atual crise não afetou a qualidade dos cursos.

No entanto, segundo dados da própria universidade, no ano passado o número de alunos que solicitou transferência aumentou 36,7%. Em 2014 e 2015, 512 e 510 estudantes deixaram cursos na instituição. Em 2016, o número subiu para 700.

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São Paulo. André Lucas Ramalho, de 20 anos, foi aprovado em Engenharia de Produção na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mas preferiu fazer a matrícula na Escola Superior de Engenharia e Gestão (Eseg), onde conseguiu uma bolsa integral. “Apesar de ser menos conhecida do que a federal, eu tinha certeza de que teria uma boa estrutura e não enfrentaria problemas como greves, que poderiam atrasar meu curso.”

No semestre passado, Ramalho havia sido aprovado e começou a fazer o curso no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), mas disse ter ficado desmotivado com a estrutura que encontrou. “As salas tinham goteira, cadeiras e pisos quebrados. Nos laboratórios faltavam materiais desde béquer até gases para os experimentos”, diz. Por receio de encontrar situação parecida na UFSCar, ele decidiu ir para a particular.

Investimento. Em nota, o IFSP informou que, em quatro anos, realizou investimentos de R$ 9,2 milhões em equipamentos no câmpus São Paulo – e o Departamento de Mecânica, do qual faz parte o curso de Engenharia de Produção, recebeu R$ 1,1 milhão. Também informou que fez uma obra de R$ 4,5 milhões para o telhado, que deve ser concluída neste mês, além de outra reforma de R$ 1,2 milhão para a troca de piso nas salas e saguão. As cadeiras foram trocadas no início de 2016.

No entanto, informou que, com o contingenciamento “imposto” pelo governo federal, o orçamento para 2017 não traz recursos para novos investimentos em infraestrutura. A nota ainda aponta que as greves no IFSP têm “adesão mínima” de docentes e servidores. E afirma que a imagem do instituto vem sendo “positivamente construída, com reflexo no aumento de alunos matriculados e elevado índice de empregabilidade de seus egressos”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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