Dúvidas sobre a morte anunciada do líder do Boko Haram

O Exército do Níger anunciou na noite de quinta-feira que matou na semana passada um líder do grupo jihadista Boko Haram na bacia do Lago Chade, algo que vários especialistas questionam.

O Boko Haram, uma das principais organizações jihadistas da região, iniciou em 2009, na Nigéria, uma insurreição que causou cerca de 40.000 mortes e mais de dois milhões de deslocados, antes de se expandir para a bacia do Lago Chade, na fronteira entre Níger, Nigéria, Chade e Camarões.

“Em 15 de agosto de 2025 (…) as Forças Armadas do Níger, em uma operação cirúrgica de precisão exemplar, neutralizaram o tristemente célebre Bakura, cujo verdadeiro nome é Ibrahim Mahamadu, temido líder da seita Boko Haram, na ilha de Shilawa, na região de Diffa”, no sudeste do Níger, afirmou o Exército na noite de quinta-feira.

As autoridades nigerinas não apresentaram provas, e a AFP não conseguiu verificar de forma independente a morte desse importante combatente.

“Acredito que precisamos ser cautelosos. Já foi anunciado em muitas ocasiões a morte de certos líderes jihadistas, e muitas vezes isso foi desmentido. Por enquanto, temos apenas um anúncio das autoridades”, destacou Vincent Foucher, pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica da França) e especialista em Boko Haram.

Foucher, junto com outro especialista em grupos jihadistas da África Ocidental, que preferiu manter o anonimato, indicou que, segundo suas fontes, Bakura ainda estaria vivo.

No início da década de 2010, o então líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, foi dado como morto em várias ocasiões antes de reaparecer em vídeos. Ele morreu em 2021, e Bakura assumiu sua liderança.

O Níger sofreu os primeiros ataques desse grupo jihadista em 2015, em Bosso, cidade às margens do Lago Chade. Segundo o Exército, Mahamadu tinha cerca de quarenta anos e era originário da Nigéria.

Seu nome está associado ao sequestro de mais de 300 estudantes em Kuriga, na Nigéria, em março de 2024, bem como a atentados suicidas contra mercados, mesquitas e reuniões de civis, além de ataques contra os exércitos da Nigéria, Níger, Chade e Camarões, segundo as forças nigerinas.

bh/bam/ad/arm/lm/am/jc