Dúvidas a respeito da velocidade da retomada da economia mundial voltam a assombrar os mercados e empurram as bolsas europeias e as dos EUA e o petróleo para o território negativo. Nesse ambiente e em meio a uma agenda de indicadores esvaziada, o investidor da B3 deve aproveitar para embolsar lucros recentes. Ontem, o Ibovespa subiu 2,24%, aos 98.937,16 pontos, alcançando no melhor momento do dia 99.256,85 pontos. Às 10h49, o índice cedia 0,10%, aos 98.836,77 pontos, após mínima aos 98.277,11 pontos.

Agora, na visão de especialistas em renda variável, o índice Bovespa precisa firmar nessa marca dos 99 mil pontos para ganhar sustentação e, a seguir, alçar novas pontuações. Porém, hoje, especificamente, os indicadores informados no exterior não devem contribuir para que isso aconteça. Após se aproximar dos 99 mil pontos, o Ibovespa deve dar um passo atrás e voltar a operar abaixo dos 98 mil hoje, estima o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada.

“Não tem muito motivo, a agenda está vazia. Pode ser um dia mais de correção”, estima o economista Carlos Lopes, do BV.

Do velho continente os dados informados não animaram. A produção industrial da Alemanha subiu 7,8% em maio ante abril, mas o resultado ficou baixo do esperado (10%). Já a União Europeia prevê uma contração mais profunda do que se imaginava este ano.

Quanto ao Brasil, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fez avaliações otimistas em relação à retomada da atividade. Disse ontem que a autarquia vê a recuperação econômica da crise do coronavírus em formato mais acelerado do que visto anteriormente.

Conforme ele, os dados sugerem que o pior para a atividade foram as duas últimas semanas de abril e que, depois disso, já “engrenou uma melhora” em maio. Campos Neto descartou a utilização de instrumentos de política monetária não convencionais. Ele ainda vê um espaço para a política convencional, mas que é residual e pequeno.

Para Lopes, ainda que alguns indicadores estejam mostrando reação, indicando retomada no Brasil, ainda é cedo para fazer ajuste de menos queda nas estimativas para o PIB brasileiro. “Ainda é difícil imaginar uma recuperação em ‘V'”, diz.

A despeito da sensação de que o pior dos efeitos da covid-19 na atividade tenha ficado para trás, o setor aéreo continua enfrentando dificuldades. As ações do setor devem ficar no foco das atenções, após o noticiário negativo envolvendo as aéreas.

A Azul começou a demitir funcionários de terra, que trabalham na manutenção de aeronaves e nos aeroportos. Segundo o Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA), mais de mil trabalhadores já foram dispensados em todo o País desde a semana passada, nem todos ligados à entidade. Já a Avianca Brasil, que estava em recuperação judicial desde dezembro de 2018, entrou com pedido de falência. Com dívidas de R$ 2,7 bilhões, a empresa estava sem operar desde maio do ano passado.

Na carteira teórica do Ibovespa, as ações da Azul reduziram a queda (-0,45%), enquanto as da Gol passaram a subir (0,84%), após o debate que pode levar à votação da MP 925, de socorro ao setor. Há pouco, o relator Arthur Maia (DEM-BA) recuou após queixa da Caixa e reduziu o saque do FGTS para aeronauta/aeroviário. O novo relatório prevê saques do fundo de até três salários mínimos ao mês em caso de suspensão de salários e ainda saque do FGTS de até um salário mínimo ao mês em caso de redução salarial.

Nem mesmo alta de 1,75% na cotação do minério de ferro, no porto chinês de Qingdao, hoje, a US$ 103,01 a tonelada, impulsiona as ações da Vale (-0,39%).

Já a noticia de que o presidente Jair Bolsonaro sancionou ontem a lei que permite a prorrogação do programa de suspensão de contrato de trabalho e corte de jornada (MP936), mas vetou o artigo que prolongava a desoneração da folha pode ser bem vista pelo investidor. Isso porque a prorrogação da desoneração da folha poderia pressionar ainda mais as contas públicas, que já estão infladas.

Em tempo. Fica no radar a expectativa do resultado do exame feito pelo presidente para covid-19, cujo numero de mortes pela doença já ultrapassa 65.500.