21/02/2017 - 8:30
No início da década de 1980, quando o punk dava claros sinais de cansaço mundo afora, e os acordes estridentes das guitarras já estavam fadados ao fracasso antes mesmo da distorção do instrumento ser acionada por completo, surgia na cidade de Birmingham, no Reino Unido, uma sonoridade capaz de revolucionar para sempre a indústria da música.
O chamado new romantic do Duran Duran, subgênero do new wave, que incorporava referências do glam rock e colocava todo mundo para dançar, veio com força total. O baque foi tão violento que os teclados substituíram as guitarras. Os sintetizadores começaram a ditar as regras do jogo. A discoteca ganhava, portanto, a guerra contra o rock. Apareceram nomes como A Flock of Seagulls, Culture Club, Soft Cell e Spandau Ballet, maiores rivais do Duran Duran.
“Quase 40 anos depois, temos plena consciência de quão importante fomos para a década de 1980. Revolucionamos não só a música, mas a moda e tantas outras coisas. Há quem chame os anos 1980 de decadentes e cafonas, mas o que ninguém sabe é que muito do que está aí hoje em dia surgiu dentro daquele caleidoscópio de ideias bizarras”, conta John Taylor, baixista do Duran Duran, em entrevista ao Estado por telefone. A banda é uma das atrações do festival Lollapalooza, que será realizado no Autódromo de Interlagos, zona sul da cidade, nos dias 25 e 26 de março. Eles se apresentam no domingo, 26, ainda sem horário definido.
Se Simon Le Bon (vocais), Nick Rhodes (teclados), Roger Taylor (bateria) e John Taylor (baixo) foram capazes de criar uma nova sonoridade e, mais do que isso, serem os símbolos de uma geração polivalente e multifacetada no sentido de romper barreiras e incorporar elementos até então desprezados pelo punk e sua cultura do Do It Yourself (Faça você mesmo), parte deste histórico veio, na verdade, das ideias, digamos, “mirabolantes” de John. “Quando fundei a banda ao lado do Nick, eu jamais poderia imaginar que nós chegaríamos tão longe e, mais do que isso, que em pleno 2017 estaríamos aqui dando essa entrevista. Tenho um orgulho gigantesco desses caras e, obviamente, de tudo que alcançamos”, relata John.
Na estrada desde 1978 e com 14 álbuns na bagagem, em 2015 o Duran Duran lançou Paper Gods, seu último disco de estúdio. Elogiado pela crítica especializada, o trabalho recolocou os britânicos nas paradas de sucesso e mostrou que o grupo não estava restrito à “década perdida” e ao eterno espírito saudosista de 1980. Mark Ronson e Nile Rodgers, produtores de Paper Gods, souberam remodelar o som do quarteto para uma coisa mais atual e moderna. Em Paper Gods, o new wave visceral do Duran Duran transmite uma sonoridade jovial sem que a essência da banda desapareça. Em All You Need Is Now (2011), CD anterior, o Duran Duran, entretanto, já dava pistas de uma música mais robusta. Foi justamente nessa fase, quando fizeram uma longa e exaustiva turnê mundial, que eles readquiriram a confiança necessária para se aperfeiçoarem.
“Cada disco é um disco. Isso nos faz repensar no quanto tudo é mutável. Não existem verdades únicas e absolutas. Com o All You Need Is Now mudamos nossa maneira de fazer música. Em Paper Gods, consolidamos tais alterações. Mark Ronson e Nile Rodgers foram fundamentais nesse processo. Eles extraíram o melhor de cada um”, diz ainda John.
Biografia
Em 2014, chegou às lojas sua polêmica autobiografia, No Ritmo do Prazer – Amor, Morte e Duran Duran. O livro descreve de maneira intensa a ascensão do Duran Duran, dos primeiros ensaios até a euforia da década de 1980, passando pelos shows lotados no Madison Square Garden, em Nova York. Os relatos incluem sua sufocante e intensa relação com o álcool e a cocaína. A publicação também relata histórias interessantes envolvendo fãs histéricas que se jogavam em cima do quinteto (que ainda contava com guitarrista Andy Taylor em sua formação clássica). “Dada as devidas proporções, acho que consegui dizer aos fãs do Duran Duran tudo o que gostaria de dizer. O essencial, pelo menos. Claro que sempre falta alguma coisa, mas as pessoas precisam entender que é só um livro, um recorte. A cocaína te suga e o álcool consegue amenizar a dureza da vida e deixar a coisa toda um pouco menos pesada”, confessa.
Sobre sua vinda ao Brasil em março, John Taylor acredita que o show será totalmente diferente da primeira passagem da banda pelo País, em 1998. “Vamos tentar equilibrar o set com clássicos que, certamente, não podem ser deixados de lado, mas tentaremos explorar ao máximo o Paper Gods. Será algo totalmente diferente da nossa primeira visita de 28 anos atrás. O povo brasileiro é muito acolhedor e isso não mudou, claro. Reflete bem nos shows. Tem tudo para ser uma grande apresentação”, conclui o baixista.
CLÁSSICOS QUE ESTARÃO NA APRESENTAÇÃO
Come Undone -Balada chiclete de ‘pegada’
Save a Prayer – Resume a sonoridade do grupo e, certamente, de 1980
Hungry Like The Wolf – Riffs estridentes a transformam no maior clássico da banda
Ordinary World – Canção de casais apaixonados
A View To a Kill – Música quase sempre presente em festas dos anos 1980
A Matter of Feeling – Clássico dos karaokês
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.