Com a desistência do ex-governador João Doria (PSDB) de concorrer ao Planalto, a senadora Simone Tebet (MDB) passa a ser o principal nome da terceira via, hoje formada por PSDB, MDB e Cidadania. O quadro, porém, continua bastante desafiador para esse bloco, que segue sem empolgar o meio político nem tampouco os eleitores. O passado não explica o futuro, mas nos fornece pistas importantes.

O histórico de desempenho do MDB em disputas presidenciais com candidato próprio é ruim. O partido concorreu como cabeça de chapa em três situações desde a redemocratização. Em 1989, com o deputado Ulysses Guimarães, o “Senhor Diretas”, a sigla obteve 4,73% dos votos válidos. Em 1994, com o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, registrou 4,38%. Em 2018, com Henrique Meirelles, presidente do Banco Central na era Lula e ministro da Fazenda na gestão Temer, o partido só conseguiu 1,20%.

Em 2002, PSDB e MDB também marcharam juntos. O senador José Serra e a deputada Rita Camata concorreram como candidatos a presidente e vice, respectivamente. A chapa foi apelidada depois de “Serra Irrita”. Rita Camata foi escolhida para tentar atrair o eleitorado feminino, o que não aconteceu. Ambos foram para o segundo turno após registrarem 23,19% dos votos válidos no primeiro. É bom lembrar, contudo, que o PSDB ainda gozava de prestígio entre os eleitores por conta do sucesso do Plano Real.

O PSDB de hoje é menor do que o PSDB de ontem. O senador Aécio Neves quase venceu em 2014, quando contabilizou 54,5 milhões de votos. Tinha tudo para, em 2018, levar o PSDB de volta ao Planalto. Mas, atingido pela Lava Jato, foi responsabilizado pelo desempenho pífio do partido naquele ano, quando o ex-governador Geraldo Alckmin obteve apenas 4,76% dos votos válidos na corrida sucessória. Hoje, os índices de intenção de voto em nomes do partido variam entre 1% e 4%.

A terceira via chega a quatro meses da eleição presidencial dividida, com mágoas internas, falta de convicção, falta de unidade e sem conexão com o eleitor. No PSDB, ainda há quem defenda a tese da candidatura própria. O ex-governador Eduardo Leite alimenta esse sonho, mas não é o único nome cogitado na legenda. Fala-se também no senador Tasso Jereissati. A divisão também se faz presente no MDB: no Nordeste, a maioria quer marchar ao lado do ex-presidente Lula (PT).

O retrato da terceira via, hoje, não é bom: é formado por um partido em declínio (PSDB), outro que coleciona resultados supermodestos na corrida presidencial (MDB) e um partido pequeno, sem densidade eleitoral (Cidadania). Dificilmente ameaçarão Lula e o presidente Jair Bolsonaro.