Fechado desde 25 de junho, o Museum of Modern Art (MoMA) reabre no dia 21 renovado de corpo e, principalmente, de espírito. Responsáveis pela renovação do museu nova-iorquino ressaltam que tão ou mais importante quanto a ampliação de 3.716 m² para expor mais obras de arte é a nova forma com que elas serão exibidas ali: de maneira interdisciplinar, com mais diversidade e, principalmente, com muito mais das quase 200 mil obras do acervo que ele possui.

Há até quatro meses, quando fechou para a reforma, o museu dispunha sua coleção de pinturas, esculturas, desenhos, fotografias e outras artes visuais em galerias separadas e organizadas pelos departamentos especializados em cada mídia. O sistema foi mantido desde sua fundação, há 90 anos. Pela nova abordagem curatorial, em que todos os departamentos do museu devem colaborar na produção de exposições do acervo, obras de disciplinas diferentes vão ser justapostas nas galerias e alternadas em fluxo contínuo, a cada seis ou nove meses.

Com essas modificações, outro objetivo é aumentar a representação de artistas mulheres, latinos, negros, asiáticos e de outras regiões do mundo, dos quais a maior parte dos trabalhos na coleção permanente do museu nunca foi vista pelo público. As exposições especiais que marcam a reabertura são compostas totalmente por obras da coleção do MoMA.

A maior delas, Sur Moderno: Journeys of Abstraction, dá início a essa linha mostrando arte abstrata em vários tipos de mídias criada por alguns dos principais modernistas latino-americanos, como as brasileiras Lygia Pape e Lygia Clark.

Mais da metade dos cerca de 3 milhões de visitantes que o MoMA recebe por ano são pessoas que entram no museu pela primeira vez e esperam ver obras-primas do acervo, como A Noite Estrelada, de Van Gogh, As Senhoritas de Avignon, de Picasso, ou A Dança, de Matisse. Esses e outros ícones do museu devem permanecer como principal atrativo, mas serão vistos em menor número, em diálogo com outras obras e também com revezamento mais frequente.

“Não queremos esquecer nossas raízes em termos de possuir a maior coleção modernista”, salienta Leon Black, presidente do MoMA. “Mas o museu não enfatizava artistas mulheres nem o que artistas minoritários estavam fazendo e era limitado em geografia. Mas agora isso deverá fazer parte da realidade da sociedade multicultural em que vivemos.”

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Glenn Lowry, diretor do MoMA desde 1995, acrescenta que essas mudanças reposicionam a instituição como um espaço para experimentações em arte, retomando a visão de Alfred Barr, diretor do museu desde a criação dele, em 1929, até 1943. “O valor real dessa expansão não é apenas mais espaço, mas espaço que permite repensar a experiência da arte no museu”, afirma Lowry.

A ampliação do MoMA foi projetada pelo estúdio Diller Scofidio + Renfro (DS+R), sediado em Nova York, com colaboração do estúdio Gensler, da Califórnia. Os arquitetos reorganizaram a estrutura interna no lado oeste do museu, em direção à 6ª Avenida, acrescentando uma ala com galerias de alturas diferentes e flexíveis para acomodar obras de arte em várias mídias. A ala nova se estende à área que, até ser comprada pelo MoMA em 2011, abrigou o American Folk Art Museum.

Apesar da mistura de mídias, o museu não deve alterar a disposição das obras por períodos. Para orientação dos visitantes, deve ser mantida uma “coluna cronológica” que começa no quinto andar com o início do modernismo, entre 1880 e 1940.

Numa área na parte central do museu, reconfigurada pela ampliação, está o Studio, primeiro espaço dentro de uma instituição de porte internacional dedicado à programação ao vivo e experimental, o que engloba performance, dança, música, imagem em movimento, obras sonoras e outras formas de arte no gênero. Na reabertura, exibe-se ali a instalação sonora Rainforest V (variation 1), concebida por David Tudor.

Mostras especiais indicam novos caminhos

Entre as exposições especiais a maior em número de obras, Sur Moderno: Journeys of Abstraction, que será estendida até março, faz levantamento da arte abstrata e concreta da América Latina. As mais de 100 pinturas, esculturas e obras em papel da mostra foram doadas ao museu, entre 1997 e 2016, pela colecionadora venezuelana Patricia Phelps de Cisneros.

Betye Saar: The Legends of Black Girl’s Window marca a recente aquisição que o MoMA fez de 42 impressões da artista americana de 93 anos. O título da mostra individual, que vai até 4 de janeiro, faz referência a uma assemblage de fundo autobiográfico criada por ela em 1969. Com vídeos, fotografias e memorabília, member: Pope.L, 1978-2001, que termina em 4 de janeiro, se concentra em 13 apresentações que ajudaram a definir a carreira do americano Pope.L, 64 anos, conhecido por performances provocativas, engraçadas e às vezes absurdas, que abordam sobretudo conflitos sociais.

American Folk Art Museum foi demolido para expansão

Planejada por dez anos e a um custo em torno de US$ 450 milhões, essa renovação é o segundo avanço do MoMA, neste século, para ocupar mais espaço no centro de Manhattan. A anterior ocorreu 15 anos atrás, quando o edifício ganhou em torno de 1.400 m de área na ala leste, em direção à 5ª Avenida, com projeto do arquiteto japonês Yoshio Taniguchi e coordenada também por Gleen Lowry.

Desta vez, a expansão de 30% no espaço foi possível por causa da compra e demolição do prédio antes ocupado pelo American Folk Art Museum. Inaugurado em 2001 e sem recursos para cobrir o financiamento da sua construção, o vizinho à direita do MoMA, em direção à 6ª Avenida, foi adquirido em 2011 por US$ 31,2 milhões e se mudou para instalações menores e alugadas, 13 quarteirões acima do lugar onde ficou por 12 anos.

O prédio demolido ficava entre o MoMA e outro terreno que já lhe pertenceu, vendido pela instituição por US$ 125 milhões, em 2007, para uma incorporadora. Naquele lote está em fase de conclusão um edifício de 82 andares, projetado pelo arquiteto francês Jean Nouvel e onde, na sua nova expansão, o MoMA ocupa os três pavimentos inferiores.


A demolição do museu de arte folclórica foi lamentada por ele ter sido um dos primeiros exemplos de arquitetura do século 21 na área mais densa de Manhattan. Mas, segundo representantes do MoMA para justificar a derrubada do prédio, ele não se ajustaria aos planos de crescimento do museu por questões técnicas e estéticas. Por ser mais recuado no terreno, não haveria possibilidade de alinhamento entre os pisos das duas construções, e a fachada de placas de bronze opacas destoaria dos vidros que recobrem o MoMA.


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