23/11/2021 - 19:28
Arquétipo feérico das mil e uma noites, forjada a ferro e aço, movida por carros de alta vaidade e a moral dos milhões, ela está sempre inundada de Dólares, Euros e Bitcoins.
Se há um lugar onde a grana é mesmo plástica, este é o lugar. Aqui tudo brilha, até o brilho. E brilha até a noite, sempre insustentavelmente iluminada, crescendo devastadoramente sem nunca parar, inspirando sempre, até ao próximo crash da bolsa sem valores; da economia, da civilização ou nenhum deles; de acordo com o rigor maldito dos especuladores globais.
Os seus arranha céus de vidro espelhado são a metáfora perfeita para aquelas “leis” que determinam como canônico o crescimento permanente da economia humana. Como se todos estivéssemos destinados a rebentar, vítimas de uma inexplicável explosão de superávits, olhando serenamente o horizonte sustentável, quietos e sorrindo, sem qualquer pudor.
A cidade vive embriagada numa lei seca de faz de conta, se enfurecendo verticalmente, galgando terra ao deserto, trocando areia por concreto, como quem vende sonhos e água doce.
Geneticamente predestinada, ela se extinguirá ciclicamente, com a mesma certeza com que a areia se cristaliza em rosas de rocha; feitas da mesma beleza inodora e sem cor que decora as fachadas de seus edifícios públicos.
Nem precisava ter, porque ela é. A cidade é uma permanente Exposição Universal. Uma has been to be. Uma atriz beata, uma diva caricata, ao mesmo tempo velha e jovem, de Hollywood e Bollywood. Toda Marlene, toda Bergman. Sem Bogart, nem Garbo.
Como conta o poema de Fazza, esses foram três dias mágicos na minha vida; e durante esses três dias mágicos, eu me apaixonei e amei a cidade; durante três dias mágicos, dias sem explicação.