Uma escola estadual de Carnaubal, no Ceará, e outra municipal, de Belo Horizonte, foram anunciadas entre as Melhores do Mundo (World’s Best School Prizes) em concurso promovido pela T4 Educação, organismo internacional que apóia oportunidades de aprendizagem, colaboração e lideranças de professores. Com prêmio de US$ 50 mil para cada uma das cinco categorias, a Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Joaquim Bastos Gonçalves venceu como a Melhor do Mundo por Apoio a Vidas Saudáveis de 2023. A Escola Municipal Professor Edson Pisani, de Belo Horizonte, ficou entre as três primeiras em Colaboração Comunitária, mas ganhou em uma categoria à parte, por votação pública, e ficou com o Prêmio Escolha da Comunidade. De toda forma, tanto a representante da capital mineira, que fica na favela Aglomerado da Serra, como a cearense, na Serra de Ibiapaba, a cerca de 400 quilômetros da capital Fortaleza, destacam-se pela percepção que a educação não se restringe à aprendizagem técnica, mas estendida ao envolvimento dos alunos e famílias, para transformação e crescimento de toda uma comunidade.

Formado em Educação Física, Helton Souza Brito é o diretor do colégio estadual de Carnaubal, que está em processo de implantação de ensino em tempo integral há um ano e reúne hoje 48 funcionários para 472 alunos adolescentes com turmas do ensino médio pela manhã e à tarde, mais um grupo de jovens e adultos à noite. Conta com sala de Atendimento Especializado Educacional (AEE), para alunos portadores de deficiência, com professora especialista. “A escola é um coração. Um recorte da comunidade. Tem como função primordial o ensino, mas também promover ações prioritárias ligadas à saúde — e também à saúde mental, às questões sócio-emocionais. Hoje estamos em um processo de recomposição de aprendizagem, pela lacuna enorme e global causada pela pandemia”, diz Helton.

“Os jovens estão adolescendo cada vez mais cedo e estão mais frágeis emocionalmente. Nem sempre falam, mas pedem socorro por atitudes que os professores precisam observar, para identificar fragilidades e encontrar meios para os jovens se apropriarem de conhecimento da melhor maneira possível, acolhendo e cuidando para formar cidadãos”, assinala o diretor. “Nosso município tem 18 mil habitantes e poucos recursos, com processo migratório grande para o Sudeste e Sul. A escola Bastos Gonçalves tem 57 anos e boa parte dos moradores passou por ela.”
O programa Adote um Estudante, com psicólogos voluntários, foi o destaque, segundo o diretor, para se incluir a escola entre as melhores do mundo. “Temos oficinas de arteterapia, questões ambientais, redação, leitura, além da educação física, podcasts. E estamos iniciando com robótica”, explica. “E, além do desafio de integrar mais as famílias dos alunos, trazendo-as para a escola, rompendo muros. Não deixamos de trabalhar e de aproveitar momentos.”

Assim, o dinheiro do prêmio deverá se aplicado na ampliação da sala de atendimento e possivelmente em outra, de acolhimento, porque muitos alunos ainda precisam ser visitados em casa, às vezes com apenas um cômodo, enquanto outros não têm sequer acesso à internet. “Ainda não temos ideia de como receberemos o prêmio. Mas vamos nos reunir para apresentar um plano detalhado de sua utilização.”

Escola sem muros

Escola brasileira entre as melhores do mundo (1)
Divulgação

Eleusa Fiuza é a diretora da Escola Municipal Professor Edson Pisani, para o ensino fundamental, com alunos de 6 a 10 anos. Mas também há educação para jovens e adultos no turno da noite. “Nossa escola está bem cravada no Aglomerado da Serra, tem 32 anos e sempre teve boa relação com a comunidade — que é o foco, para nós. Essa interação faz parte de um projeto político-pedagógico, porque a educação tem de ser transformadora e não apenas dentro de muros. Por isso temos muitos projetos da comunidade desenvolvidos aqui dentro”, diz, exemplificando com o “Busão da Comunidade” que, depois de dois anos de trabalho agora circula até o metrô. E com o “Ganchos”, onde o lixo de becos são pendurados em pregos com placa de identificação por número de casas — “O que também traz autoestima” –, para depois serem levados morro abaixo, para a coleta. “Somos muito importantes para as famílias. Pomnto de referência para muitas coisas.”

A Edson Pisani tem educação integral para 250 crianças e ainda uma casa alugada anexa, para os trabalhos no contraturno. “De manhã, chegam às 7h para tomar café aquelas até 5 anos, que à tarde seguem para aulas de dança, música, teatro, artesanato. De tarde, vêm as menorzinhas, de 1 e 2 anos, que ficaram na casa pela manhã”, explica Eleusa. Ficam com a gente o dia todo e vamos pensando em ações. foram plantados canteiros de flores onde eram pontos de lixo, temos vasos nas paredes, começamos com compostagem para aproveitar o lixo orgânico das muitas refeições na cantina, temos uma hortinha… Tornaram-se coisas do cotidiano para todos.”

A diretora fala da alegria quando a escola entrou para as dez primeiras do mundo na categoria Colaboração Comunitária e depois ter ficado entre as três (a vencedora foi uma instituição do Soweto, na África do Sul. E mais ainda quando a Edson Pisani simplesmente venceu como a melhor do mundo no voto popular. “Foi uma euforia geral. Fizemos uma festa com todo mundo, com palco e tudo na pracinha, no 4 de novembro, dia do anúncio ao vivo. Participar foi um grande aprendizado, uma forma de colocar a comunidade em evidência e mostrar que somos capazes de fazer muita coisa interessante. De que educação é o caminho e é possível, que pode ser eficiente, muito além de ensinar a ler e e escrever, mas valorizando auto-estima, formando cidadãos. Que qualquer espaço pode ser transformador. E que conscientização não tem volta.”