Faltam só seis meses para a eleição presidencial, mas, por enquanto, só vi um jogo de marionetes: fulano dizendo que beltrano não vai, mas que sicrano vai, tudo dependendo das circunstâncias, que são do foro íntimo de cada um. Nesse espetáculo circense que há anos temos presenciado, dois fatores refulgem por sua ausência, e um que devia estar em casa, regando seu jardim, ocupa o espaço da campanha com seu incomensurável brilho.

A primeira brilhante ausência é a dos partidos políticos. Não me atrevo a dizer quantos são, porque já perdi a conta.
As siglas, sim, sempre aparecem, mas a função delas é só facilitar a vida dos profissionais de imprensa, facilitando-lhes lembrar a qual delas se associa cada candidato. Perguntar a elas ou a eles o que fariam se chegassem ao Planalto é perda de tempo. Não sabem. Só vão pensar nisso depois, quando tiverem assessores remunerados pelo erário. A verdade é uma só: temos duas ou três dúzias de partidos, mas desse mato não sai um candidato. Todos os alfarrábios de ciência política ou de Direito Constitucional afirmam peremptoriamente que partidos políticos têm entre suas funções básicas a de identificar candidatos viáveis para os diferentes cargos eletivos. O detalhe, infelizmente, é que esse capítulo os nossos dirigentes partidários não leram.

Outra função importante dos partidos é formular e se identificar um possível programa de governo. Mais ou menos como grudar um crachá na lapela, para que os eleitores possam distinguir um do outro. Mas aqui já estamos falando de uma coruscante ausência. Propostas de governo cintilam por toda parte, mas nossos candidatos escondem-se delas, como que temendo que seu brilho os ofusque. Não percebem que nossa outrora altaneira República Federativa do Brasil está prestes a se transformar numa República patrimonialista e corporativista, com os atributos adicionais de ser paupérrima, semianalfabeta e suscetível a variadas endemias.

Propostas de governo cintilam por toda parte, mas nossos candidatos escondem-se delas, como que temendo que seu brilho os ofusque

A presença imprescindível, que sempre marca o ponto sem um minuto de atraso, é a do populismo. Alémde pontual, ele adquiriu agora os dons da multiplicação e da onipresença.

Antes era só Lula, mas a ele veio se juntar Jair Bolsonaro. Em seus momentos de otimismo, meus leitores acreditam mesmo que um deles vai desmantelar o Estado patrimonialista e corporativista? Que vai dar um jeito na obscena diferença de valor entre as previdências pública e privada? Se acreditam, caros leitores, corram enquanto é tempo. Candidatem-se à Presidência da República.