22/04/2024 - 8:50
Nas águas tranquilas de um lago, uma pequena embarcação cinza navega de um lado ao outro. É um dos drones navais ucranianos que permitiram a esse país, que não conta com navios de guerra, enfrentar a poderosa frota russa no mar Negro.
Da margem, um soldado pilota os movimentos da embarcação.
“Treze” – seu nome de guerra – faz uma demonstração do Magura V5, um drone naval de fabricação ucraniana, à qual a AFP foi convidada, em um local não divulgado a pedido do Exército.
“Alcança até 80km/h e pode levar uma ogiva de 320 quilos” de explosivos, explica o militar do Serviço de Inteligência ucraniano, uma estrutura conhecida por suas operações ousadas contra a Rússia, frequentemente com drones aéreos ou navais.
É com esse tipo de aparelho de 5 metros de comprimento com o qual a Ucrânia conquistou diversas vitórias frente à poderosa frota russa no mar Negro. É o único grande sucesso do Exército ucraniano desde o final de 2022.
No total, Kiev afirma ter destruído 30% dos navios de guerra russos, incluindo o patrulheiro Sergei Kotov, destruído em 5 de março, a corveta lança-mísseis Ivanovets, atingido em 1º de fevereiro, e o Caesar Kunikov, destruído treze dias depois em frente à Crimeia.
Segundo a Marinha ucraniana, estas vitórias obrigaram os navios russos a se retirar para portos mais a leste e inclusive no Mediterrâneo.
“Com um pequeno número de drones navais, paralisamos a frota inimiga”, se orgulha “Treze”.
“Se abrirem hoje um mapa do Mar Negro, não verão nenhum navio de guerra russo”, afirma.
Equipado com uma hélice idêntica a de uma moto aquática e uma lataria de alumínio, o Magura V5 é simples e muito barato de fabricar.
“Comparado ao preço de um navio de guerra, pode-se dizer que o drone é de graça”, diz.
Uma análise compartilhada por Huseyn Aliyev, especialista em Leste Europeu da Universidade de Glasgow. Em comparação aos navios russos, os drones “não custam nada”, diz à AFP o pesquisador, que descreve “uma situação muito incomum que nunca ocorreu” em nenhum outro conflito.
Para Aliyev, o número de drones envolvidos em operações terrestres e marítimas aumentaram “incrivelmente” nos dois anos anos de invasão russa da Ucrânia.
“Provavelmente é a arma número um atualmente, mais importante que a artilharia e os veículos blindados”, afirma.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, referiu-se recentemente ao Magura V5, afirmando que com esse tipo de aparelhos, a Rússia “compreende que a agressão (à Ucrânia) tem um preço”.
Em fevereiro, Zelensky assinou um decreto para a criação de uma divisão de drones dentro das Forças Armadas ucranianas.
Segundo Aliyev, os drones marítimos deram à Ucrânia uma “vantagem considerável” e uma experiência “que nenhum outro país possui”.
O arsenal de Kiev inclui toda uma gama de aparelhos não tripulados, como submarinos e lanchas.
“Não dependemos de ninguém e ninguém afundou tantos barcos como nós”, assegura Treze.
“Estamos um passo à frente, embora a guerra evolua constantemente”, avalia.
O militar afirma que os russos estão tentando encontrar uma solução para conter e destruir os Magura V5.
“Isso é apenas o início da guerra dos drones”, assegura.
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