Com a reprodução de um hospital de campanha nos estúdios da Rede Globo e diversas normas de segurança, a série Sob Pressão ganhará um especial com dois episódios. A produção estreia na próxima terça-feira, 6 de outubro, e abordará a atuação dos profissionais de saúde na pandemia do novo coronavírus, prometendo muito realismo e emoção.

Já conhecida por mostrar o duro dia a dia de médicos e enfermeiras em um hospital da rede pública do Rio de Janeiro, a série agora muda de cenário: um hospital de campanha. A adaptação contou também com o uso constante de máscaras, álcool em gel, equipamentos de proteção individual e macacão, feitas não apenas para trazer realismo, mas também para proteger toda a equipe envolvida na produção.

“É um retrato muito real, é um documento, e todo documento é muito precioso, mais do que ficção, entretenimento”, comentou a atriz Drica Moraes durante coletiva de imprensa virtual, da qual o Estadão participou.

Para garantir que a série mostrasse a realidade da atuação médica na pandemia, a série contou novamente com o auxílio do médico Marcio Maranhão, cujo livro inspirou a produção e que estava atuando durante a pandemia. “A gente fez um processo de criação em que a realidade e a ficção se misturaram”, comentou Marcio.

Ele destacou que a ideia foi condensar três momentos vividos pelos profissionais da saúde na pandemia: o medo, incerteza e forte impacto inicial na área de saúde, o enfrentamento da doença, com aprendizados e dificuldades nesse processo e, por fim, o adoecimento dos profissionais, tanto pela covid-19 quanto por questões psicológicas devido a essa atuação. O próprio médico perdeu colegas para o novo coronavírus, mas ressalta que a série busca trazer “esperança” para o público.

“Quando a pandemia começou era inevitável associar a pandemia a um programa que fala sobre saúde. Decidimos oferecer algo que pudesse contemplar o assunto”, explica Lucas Paraizo, autor da série. A opção foi fazer o especial, mas ele destaca que a quarta temporada, prevista para 2021, mostrará as mudanças que a pandemia trouxe, tanto para relações pessoais quanto para a prática médica.

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O autor considera que é inevitável mostrar os efeitos da política ou da corrupção no sistema de saúde para a prática mostrada na série, mas que isso surgirá de forma orgânica. Ele destaca que a série é baseada na “medicina e ciência”, mas que “não abordamos um tratamento específico ou vacina, o foco é no drama dos personagens”.

“A pandemia é um fato, tem que ser respeitada, e seguir os protocolos da OMS [Organização Mundial de Saúde], a defesa [da série] é essa”, considera Drica Moraes, que vive a médica Vera. Exatamente por esses protocolos, a atriz precisou gravar as cenas de casa, já que faz parte do grupo de risco para a covid-19 por ter feito um transplante de órgão.

Já o diretor artístico Andrucha Waddington considera que a impossibilidade dos familiares visitarem os pacientes levou a uma mudança na relação entre médico e paciente, com mais proximidade, que será mostrada na série. “Foi exaustivo mas muito gratificante, é algo que vai fazer a sociedade pensar, o Sob Pressão tem um pouco dessa característica”, considera ele.

O objetivo da série, com toda a emoção que será mostrada nos dois episódios, é reforçar a mensagem de confiança nos profissionais da área de saúde, humanizando esse grupo, além da importância do sistema público de saúde.

Novos personagens e adaptações

Os personagens da série – Carolina (Marjorie Estiano), Evandro (Julio Andrade) Décio (Bruno Garcia), Charles (Pablo Sanábio), Vera (Drica Moraes), Keiko (Julia Shimura) e Rosa (Josie Antello) – estão de volta no especial. A equipe ainda ganha duas adições na nova temporada: o neurocirurgião Mauro (David Junior) e a enfermeira Marisa (Roberta Rodrigues).

Perguntados sobre a importância em mostrar profissionais da saúde negros, David Junior considera que essa representatividade é necessária: “É um projeto com uma mensagem política e social muito forte, pra gente é mais que um presente, é um privilégio estar presente. A gente tem conquistado um espaço necessário, urgente”.

“Foi um presente, não acho pesado [retratar a atuação na pandemia], acho lindo”, comenta Roberta Rodrigues, afirmando que espera que, no futuro, a necessidade de representação seja um tema mais natural nas produções. “[Os personagens negros] Estão salvando vidas, não tirando, é um divisor de águas na dramaturgia”, adiciona David.

Uma dificuldade que o elenco teve que enfrentar foi a necessidade de fazer as gravações usando todos os equipamentos de segurança. “O olho e a voz entregam muito a verdade, e dava dificuldade na captação [pelos equipamentos], a voz entrega muito a nossa emoção, onde a gente está, o que estamos sentindo. O corpo todo coberto, sobra só o olho”, considera Marjorie Estiano.

Julio Andrade destaca houve um “desgaste físico e mental” grande devido ao medo ligado à pandemia: “a gente saiu vitoriso, com a sensação que dá pra fazer, mas cansa muito mais, a sensação que eu tive foi que a gente fez uma temporada inteira”.

“É tenso, é difícil, é um pouco surreal pensar de algo que está fazendo dramaturgia com algo que está acontecendo, estamos protegidos como personagens mas protegidos como nós mesmos”, afirma Julia Shimura.


Já Josie Antanello considera que os episódios foram mais emocionantes que as temporadas anteiores: “O meu maior desafio foi lidar com essa emoção, pois são feridas abertas, estamos vivendo com essas histórias e isso nos emociona muito, contar essa história enquanto isso faz muito parte da nossa vida, foi muito forte”.

“Cada um tem um novo normal, como lida com a pandemia, os medos, e nós somos um conjunto, que trabalha com a emoção, os sentimentos, a instabilidade emocional é muito traiçoeira. Conseguir esse terreno firme era um desafio diário, contínuo”, destaca Marjorie.

Bruno Garcia promete que, mesmo com os personagens cheios de equipamentos, a série mostrará formas de humanização dos profissionais da saúde, incluindo o uso de crachás para que os pacientes possam reconhecer quem está cuidando deles. “A emoção de entregar o personagem com o que a gente pode, foi um grande aprendizado”, observa ele.

A série simbolizará não apenas a atuação dos profissionais da saúde na pandemia, mas também do próprio setor audiovisual. “Foi o primeiro elenco que entrou em campo, isso traz uma característica de desbravadores, precursores de um novo jeito de fazer”, lembra Drica, em referência à volta de gravações das novelas da Globo.

Assim, a série é um símbolo dos desafios e dramas de quem está na linha de frente no combate à pandemia, mas também resultado das adaptações que a mesma exigiu na sociedade. “É um retrato muito sólido do que é viver dentro de um hospital de campanha, sem fake news, houve uma pesquisa muito grande”, promete Andrucha Waddington.


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