O médico Drauzio Varella participou de uma live na noite de ontem (24), com o rapper Mano Brown e revelou que já foi parado por policiais porque estava acompanhado de dois amigos negros.

“Você sabe que eu já fui preto um dia, né? Um dia só, e não gostei”, contou Drauzio. “Eu achava que o senhor era preto quando olhei daqui”, brincou Brown .

Varella continuou contando o ocorrido: “Eu saí uma noite para tomar um chope e ouvir um samba em um bar na avenida Antártica (SP). Na hora de ir embora, falei ao meu amigo que pegaria um táxi, e ele: ‘Não, espere, meu filho vem pegar a gente’. Era um menino de 19, 20 anos com o carro. Entramos, eu no banco de trás e os dois na frente, pai e filho. Andamos uns 200 metros, o menino disse: ‘Vamos ser abordados”.

Ele ainda citou alguns momentos marcantes ao ver seus dois amigos sendo repreendidos pelos policiais, mesmo sem terem cometido nenhum crime. “O menino já sabia. Encostou o carro, vieram dois guardas com revólver na mão apontando para a cara da gente, eu levantei os braços, eu já era conhecido com essa coisa de televisão. Falei: ‘Vocês me conhecem?’. Eles: ‘Conhecemos o senhor, não conhecemos esses dois aí’. E foram com o revólver na cabeça dele. E eu gritando com os caras: ‘Para, são meus amigos!'”.

Mano Brown questionou: “Os manos são ‘negão’, né?”. “É, acharam que estavam me raptando ou qualquer coisa dessa. Precisei gritar com eles”, respondeu o médico.

O rapper aproveitou a oportunidade para ensinar como é a estrutura racista em torno do episódio vivido por Drauzio Varella. “A mentalidade racista está em todo mundo, naquele exato momento, funcionando ao mesmo tempo. Cada um no seu lugar de fala. Os dois ‘negão’ porque estão vendo a vida por um triz ali, os caras [policiais] porque estavam vendo o senhor no meio, um branco no meio de dois ‘negão’. Se tem um descuido, pelo racismo, pela lógica errada da leitura antecipada que leva à tragédia, a leitura de um cara quando tem um branco no meio de dois ‘negão’: ‘Ele é vítima, temos que proteger esse branco agora, depois a gente vê quem está certo’. O Brasil é isso aí”, concluiu.