Primeiro-ministro italiano recebeu apoio da maioria dos senadores, mas integrantes do M5S, membro da coalizão de governo, optaram por se abster. Se crise persistir, podem ser decretadas eleições antecipadas.O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, venceu nesta quinta-feira (14/07) uma moção de confiança no Senado, mesmo sem o apoio do populista Movimento Cinco Estrelas (M5S), membro da coalizão de governo. Ainda assim, o futuro de seu governo continua sob risco, após ele perder o apoio de um dos principais aliados.
A moção de confiança passou com 172 votos a favor e 39 contra, mas os senadores do M5S – que inclui partidos da extrema direita até a esquerda – se ausentaram depois de ter anunciado sua abstenção, por não estarem de acordo com um decreto de ajuda social perante a crise, que consideram insuficiente.
Após a votação, Draghi se reuniu com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, para decidir seu futuro político, depois de ter anunciado que não poderia governar sem o apoio do M5S. Como o sistema parlamentar que governa a Itália é complexo, não está excluído que ele obtenha um novo mandato e possa governar com outra maioria.
Mattarella também poderá pedir a Draghi que vá ao Parlamento nos próximos dias para um novo voto de confiança, a fim de avaliar se o primeiro-ministro ainda mantém o apoio de parlamentares que sustentam o seu governo. Assim, Draghi poderia seguir no cargo de primeiro-ministro, evitando a antecipação das eleições de 2023.
Mattarella aposta em Draghi, um ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), para ajudar a Itália a atravessar a pandemia de covid-19 e para aproveitar os bilhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência da UE.
Draghi foi convidado em fevereiro de 2021 por Mattarella para liderar uma coalizão heterogênea, que reúne quase todos os partidos representados no Parlamento. A única exceção é a sigla de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que permaneceu na oposição e é amplo favorito nas pesquisas.
M5S se distancia do governo
O M5S vem perdendo apoio popular, o que tem o levado a tomar posições mais distantes do governo. Esta semana, seu líder, Giuseppe Conte, explicou que o voto de protesto não significa que o partido queira abandonar a coligação.
Conte insiste que "está absolutamente disponível para ajudar o primeiro-ministro", desde que numa "fase completamente nova de governo", alegando que as medidas de ajuda social agora propostas "são insuficientes".
Ele vem reclamando há semanas das prioridades do governo, exigindo um alívio financeiro mais generoso para famílias e empresas atingidas pelos altos custos de energia, e o financiamento de um salário mensal garantido para quem não consegue encontrar trabalho.
Aumentando a crise no governo, o líder do partido de direita Liga, Matteo Salvini, anunciou que não apoiaria mais Draghi se o Movimento Cinco Estrelas deixasse a coalizão. Segundo círculos partidários, o Partido Democrata tampouco estaria mais disposto a formar um novo governo sem o M5S.
Eleições antecipadas
Uma queda do governo provocaria eleições antecipadas, e os próximos meses vão ser complicados devido ao aumento da inflação e às reformas pendentes exigidas pelo pacote de recuperação pós-pandemia financiado pela União Europeia, com cerca de 200 bilhões de euros.
A antecipação do pleito para o segundo semestre deste ano seria altamente incomum na Itália, por ser esse o período em que o governo tradicionalmente elabora seu orçamento, que deve ser aprovado até o fim do ano.
le/av (AFP, AP, Reuters, Lusa, ots)