Sambar sobre uma cama “antissexo” ou fazer da quadra uma passarela: com um toque de humor, Douglas Souza, ponteiro da seleção de vôlei do Brasil, revela os bastidores dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, conquistando milhões de seguidores nas redes sociais.

Esse “astral maravilhoso” de suas ‘stories’ no Instagram contagiou os brasileiros e rapidamente lhe rendeu milhões de seguidores, deixando em segundo plano o fato de que Douglas é um dos poucos jogadores reconhecidamente gay na delegação do Brasil, um país com altos índices de violência homofóbica e transfóbica.

Com um “Vou pular e vou sambar”, o ponteiro de 25 anos e 1,99 m de altura se ofereceu para testar com samba no pé a resistência da cama “antissexo” (por sua fabricação com papelão reciclado) à disposição dos residentes da Vila Olímpica de Tóquio, abrigo provisório para mais de 10 mil atletas e membros das delegações.

“Gente, vocês viram que quase quebrou a cama? Que fez um ‘trec’. Eu tô muito em choque. Eu tinha certeza que só a minha ia fazer isso. Tinha muita certeza. Ainda bem que não quebrou. Deu certo. Deu pra sambar, deu pra quicar”, disse Douglas em um post.

Em um ambiente olímpico com diversas restrições devido à pandemia da covid-19, seus relatos saciam com humor a curiosidade dos seguidores.

Os Jogos de Tóquio são “uma experiência totalmente diferente, mas eu estou amando porque eu estou aqui fervendo, eu estou me permitindo mostrar um pouco mais nos stories. Eu quero mostrar, colocar a galera aqui dentro, dentro de meu quarto, dentro da Vila”, explicou Douglas, nascido em Santa Bárbara do Oeste, no interior de São Paulo, em entrevista à revista Vogue Brasil.

Em seus vídeos bem-humorados, Douglas, campeão olímpico no Rio-2016, também mostrou que os atletas de alta estatura não cabem nas duchas dos apartamentos da Vila Olímpica, assim como as longas filas para lavar os uniformes na lavanderia e as caminhadas sob calor de 30ºC até o ônibus que leva a equipe brasileira aos treinos.

“Está muito quente… para que não tem condições físicas, gato!”.

– Passarela na quadra –

Douglas dança funk nos treinos, se refere a si mesmo indistintamente em gênero masculino ou feminino, canta os sucessos da estrela drag Pabllo Vittar ou simplesmente se elogia diante da câmera dos celular.

Essa dinâmica “para mim é uma coisa natural”, afirma Douglas, embora o mundo do vôlei sempre foi predominantemente heteronormativo.

E embora sua homossexualidade não seja o foco de seus vídeos nas redes sociais, Douglas tem consciência da importância de sentir-se integrado: “Hoje sou o único gay na seleção, mas eu amo, eu acho que cabe muito a mim ser esse representante [da comunidade LGBTQIA+]”. “É uma representatividade que a gente precisa muito”.

Douglas começou a bombar quando desfilou sensualmente, com o uniforme verde, meias brancas e tênis fluorescente na quadra onde treinava ao lado dos companheiros de seleção.

Segundo ele, o vídeo ficou conhecido como o ‘catwalk’, ou a passarela de Douglas, e viralizou após ser repostado por Camilla de Lucas, participante do último Big Brother Brasil 21.

“Eu nem sabia o que era ‘catwalk’, não fazia ideia, para mim era só um desfile”, mas com esse retuíte “tudo começou, as pessoas começaram a me olhar de uma forma diferente”.

Quando somou quase um milhões de seguidores em menos de 24 horas, Douglas se perguntou: “O que está acontecendo?”. A bicampeã olímpica do vôlei Sheilla Castro respondeu: “Você sendo você e o Brasil te seguindo”.

“Eu estou com medo de deitar, dormir e acordar e ser um sonho, mas eu estou muito feliz, muito obrigado por todo o carinho, todo o respeito”, agradece.