Dorival deseja melhoras a Tite e explica por que trocou descanso por desconforto no Corinthians

Dorival Júnior ouviu propostas de muitos clubes, entre eles o Santos, desde que foi demitido da seleção brasileira. Não aceitou nenhuma, pois queria mais tempo para descansar e colocar a cabeça no lugar, mas uma oferta do Corinthians, único dos grandes paulistas que nunca treinou, mudou seus planos. Apresentado no CT Joaquim Grava nesta terça-feira, o treinador está disposto a viver a pressão do clube alvinegro, que passa por uma crise política, mas fez um reflexão sobre o quanto o ambiente do futebol afeta a saúde mental dos profissionais do meio.

“O nível de cobrança e preocupações de um profissional do futebol é muito alta. As pessoas às vezes não têm ideia do que isso representa e o que isso provoca em todo o contexto familiar e de pessoas”, disse o novo treinador corintiano.

Cuidar da mente foi o motivo que fez o ídolo corintiano Tite não estar no lugar que agora é ocupado por Dorival. O campeão mundial e da Copa Libertadores chegou a ter um acordo para assumir o clube, mas sofreu uma crise de ansiedade na véspera do acerto e decidiu que ainda não era a hora de voltar a trabalhar.

“Imagino o que o Tite deva ter passado, esteja naturalmente passando, que acontece uma recuperação rápida. É uma pessoa que eu tenho um respeito e um carinho muito grandes. Fui atleta junto com ele. É uma situação que todo esportista corre um risco muito grande. O nível de cobrança é de um nível altíssimo. Chega ao absurdo de as pessoas se descontrolarem dentro de suas casas”, afirmou.

“É uma atenção que deveríamos dar de uma maneira um pouco diferente e prepararmos um pouco mais nossos atletas e profissionais, para que pudessem entender e suportar, porque a carga é muito pesada. Gostaria que um dia vocês pudessem acompanhar o dia a dia de um treinador, de uma comissão técnica, para entender aquilo que é após uma partida. Isso é maçante”, concluiu.

Apesar da amizade com Tite, Dorival não chegou a procurar o gaúcho para conversar sobre a ida ao Corinthians, até em razão do momento de saúde vivido por ele. “Não falei com ele, até respeitando a situação. O que eu vejo é que temos que nos preocupar com a recuperação do Tite do que propriamente com outra situação.”

Diferentemente de Tite, o novo comandante do Corinthians sentiu que estava pronto para trabalhar novamente, mesmo após a frustração recente na seleção brasileira. “Eu só viria a um clube quando em me sentisse recuperado desse momento que foi marcante e registrou no meu íntimo. Eu não viria se não estivesse recuperado.”

O treinador de 63 anos está ciente de que chega em um ambiente desconfortável. Na segunda-feira à noite, poucas horas antes da apresentação, as contas do primeiro ano de gestão do presidente Augusto Melo foram reprovadas pelo Conselho Deliberativo, o que, segundo o estatuto do clube, permite um novo pedido de impeachment de Melo.

“Minha preocupação é esportiva, técnica, dentro de campo. Jamais vou entrar em outra área que não me compete. Vou tentar entregar o meu melhor e buscar os melhores resultados possíveis”, limitou-se a dizer quando questionado sobre a efervescência no Parque São Jorge.

Dorival se animou com as conversas que teve com o gerente de futebol Fabinho Soldado, por isso aceitou o convite, apesar da demora de alguns dias para finalmente dizer o “sim”. Antes, ele não havia aceitado conversar com as outras equipes que o procuraram.

“Agradeço todas as equipes que entraram em contato. Eu precisava de uma parada necessária. Foi marcante, até pelo sentimento de ter chegado e os resultados não saírem do jeito que gostaria. Me interessei muito por tudo que o Fabinho me colocou, fizemos uma parceria vitoriosa e espero poder reeditar esse momento. Agradeço as equipes que me contataram, peço desculpas por não abrir conversar com nenhuma delas”, comentou.

Nas conversas com o Soldado, não ouviu grandes promessas de reforços e garante que essa não era uma preocupação sua neste momento. “Nunca cheguei em clube que tenha feito pedidos antecipados à diretoria. Nós muito mais provocamos vendas do que aquisições. Não chego preocupado com possíveis e novas contratações.”

Outro elemento que seduziu Dorival foi a torcida corintiana, que ele mesmo já havia elogiado em outras oportunidades, quando enfrentou o time. “Faltava no meu currículo, podem ter certeza que farei tudo que estiver ao meu alcance”, disse. “Para mim, (a torcida) sempre foi um diferencial. Não tenho dúvidas que fluirá de uma maneira muito positiva. Nunca deixou o time ao léu. É uma torcida que define campeonato.”