Fora da propaganda eleitoral do prefeito Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição na capital paulista, o governador João Doria (PSDB) aposta na vacina contra o novo coronavírus produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan para entrar na campanha de candidatos do interior do Estado. A aparição nos programas eleitorais e o imunizante são parte da estratégia de Doria para se opor ao presidente Jair Bolsonaro numa prévia da disputa de 2022.

Enquanto é alvo de ataques dos adversários de Covas em São Paulo, onde sua gestão é considerada ruim ou péssima por 49% dos eleitores, segundo a pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo mais recente, Doria já gravou 60 vídeos de apoio a candidatos em cidades pequenas e médias do Estado. Na gravação, o governador apresenta um discurso padrão antes de pedir voto. “Em breve, com a chegada da vacina do Butantan retomaremos a normalidade em todo Brasil e aqui no Estado de São Paulo. Um novo desafio vai se apresentar no ano que vem, quando enfrentaremos os desdobramentos da crise econômica”, diz o governador, no vídeo.

O material foi enviado a candidatos em cidades como Guarulhos, Santos, Lins, Campos do Jordão e Iguape, mas ficará fora de campanhas importantes como a de Duarte Nogueira, em Ribeirão Preto, e Orlando Morando, em São Bernardo do Campo. “Não coloquei ninguém de fora de Ribeirão Preto (na propaganda). As discussões têm sido muito locais”, disse Nogueira. O tucano aparece com 17 pontos de vantagem para o segundo colocado na pesquisa Ibope de 27 de outubro. Em Ribeirão Preto, 41% do eleitorado desaprova a gestão do governador.

Já a candidata do PSDB em Guarulhos, Fran Corrêa, pretende divulgar os vídeos de Doria para seu eleitorado. “Vamos divulgar nas redes na reta final. Sempre deixei claro na campanha que sou parceira do governador. Não sinto rejeição a ele na cidade”, disse Fran, que aparece em terceiro lugar, com 5% das intenções de voto na pesquisa Ibope do dia 29.

O responsável por aproximar Doria e os prefeitos do interior é o presidente do PSDB paulista e secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi. Segundo ele, o governador recebeu cerca de 300 pedidos de gravação de apoio e enviou vídeos também para candidatos do partido em Porto Alegre, Rio Branco, Palmas, João Pessoa, Vitória, Porto Velho, Goiânia, Boa Vista e Caruaru.

“Nossa avaliação é que todos os passos do Bolsonaro são pensando nas eleições. João (Doria) tem uma base forte organizada em São Paulo”, disse Vinholi. A expectativa no Palácio dos Bandeirantes é que a vacina do Butantan funcione como resistência ao bolsonarismo. Em outra frente, Doria também vai antecipar sua “pré-campanha” com empresários e eleitores de direita não alinhados ao Palácio do Planalto.

O tucano tem batido na tecla de que promoveu o “maior pacote de ajuste fiscal” já feito no Estado. Em votação na Assembleia Legislativa no último dia 14, foi aprovado por 48 votos a 37 o texto-base do plano elaborado por Doria. A proposta extingue estatais e fundações, reduz benefícios fiscais na cobrança de impostos e autoriza um plano de demissão voluntária que pode atingir cerca de 5 mil servidores estaduais.

A estimativa preliminar do governo é de que o pacote resulte em R$ 7 bilhões a mais para os cofres estaduais – na proposta original, a previsão era de R$ 8,8 bilhões de economia.

Protesto

A medida e a vacina do Butantan foram os dois temas centrais de um ato anti-Doria realizado na semana passada na Avenida Paulista, região central, liderado pelos bolsonaristas Gil Diniz (PTB), deputado estadual, e Bia Kicis (PSL), deputada federal. Os manifestantes se referiram ao imunizante como “vachina”. Bolsonaro disse que não pretende comprar lotes da vacina da Sinovac.

Há praticamente 26 anos no controle do governo paulista, o PSDB chefia hoje 220 das 645 cidades do Estado. Deste total, 115 prefeitos tentarão a reeleição, segundo a legenda. O PSDB ampliou sua base política em São Paulo em 2020 e atraiu 50 novos prefeitos até o limite do prazo de transferência partidária. A investida reforçou o projeto eleitoral de Doria. Em 2016, o PSDB havia contabilizado a filiação de 20 novos prefeitos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.