Empresário de sucesso no Brasil e nos Estados Unidos, Flávio Augusto da Silva decidiu que em 2022, quando completar 50 anos, vai se dedicar à filantropia. Por isso, já está se preparando para iniciar uma nova etapa da sua vida, na qual o “propósito não será mais ganhar dinheiro”. Neste cenário, não está descartada uma possível venda do Orlando City, clube adquirido por ele em 2013 e que disputa a MLS (Major League Soccer), a liga de futebol dos Estados Unidos.

A operação não seria novidade para Flávio, especialista em comprar barato e vender caro. Foi assim, por exemplo, com a rede de escolas de idiomas Wise Up, que ele vendeu em 2013 e recomprou dois anos depois por um terço do valor. No mês passado, o banco Itaú, por meio de seu fundo de investimentos de capital de risco, anunciou o investimento de R$ 200 milhões na rede de escolas de inglês de Flávio.

Há seis anos, o empresário adquiriu o Orlando City por US$ 120 milhões (cerca de R$ 485,7 milhões no câmbio atual). Hoje, o valor de mercado do clube da Flórida é de aproximadamente US$ 600 milhões (R$ 2,4 bilhões). As projeções apontam que até 2026, ano em que os Estados Unidos sediarão a Copa do Mundo, o valor deve chegar a US$ 1 bilhão (R$ 4 bilhões), quase dez vezes mais do que pagou em 2013.

“Não estou fazendo anúncio de venda. O anúncio é de que vou me dedicar à filantropia”, despista Flávio, para na sequência emendar: “Mas acredito que o ápice de um empreendedor de sucesso é quando o mercado passa a ter interesse naquilo que ele criou a ponto de quererem pagar por isso e, felizmente, sou procurado por investidores constantemente”.

O crescimento acelerado do Orlando City acompanha o desenvolvimento do futebol nos Estados Unidos. Na MLS, os clubes são donos da liga. Para efeito de comparação, em 2013 Flávio pagou US$ 70 milhões (R$ 283,3 milhões) em ações para que o Orlando City entrasse na MLS. À época, a liga tinha 20 clubes e valia US$ 1,4 bilhão (R$ 5,6 bilhões).

Para a próxima temporada, dois clubes das cidades de Sacramento e Saint Louis devem pagar uma taxa de US$ 200 milhões (R$ 809,5 milhões) cada para poderem entrar na MLS, o que elevará o valor da liga para US$ 5,8 bilhões (R$ 23,4 bilhões). Ou seja, uma valorização de 314% em um período de seis anos.

“O que define o valor de uma empresa é a sua performance financeira. O investidor precisa acreditar que, em dois ou três anos, a empresa vai se valorizar e isso permitirá a ele ganhar duas ou até três vezes mais o dinheiro que ele gastou no início. Quando comprei o Orlando City, eu acreditava nisso e deu certo”, diz Flávio.

Hoje, o empresário possui 78% das ações do clube. Mas esse número já foi maior. No passado, por exemplo, ele vendeu 8% dos ativos para investidores canadenses.

Mas, se os planos de Flávio são se dedicar a projetos sociais já em 2022, qual será o seu papel no Orlando City nos próximos anos? “Tenho várias alternativas. Posso fazer a venda completa, sair da operação, ficar no conselho ou vender uma parte minoritária. Nada está descartado e estabelecido.”

KAKÁ ATRAIU INVESTIDORES – Kaká é um capítulo à parte no processo de valorização do Orlando City. O ex-jogador defendeu o clube de 2015 a 2017 e virou a principal estrela do futebol nos EUA. “Ele colocou a liga no mapa, chamou atenção de investidores e anunciantes”, conta o empresário Flávio Augusto da Silva.

Sem uma estrela do porte de Kaká, a aposta do empresário para que o Orlando City passe a valer US$ 1 bilhão (R$ 4 bilhões) até 2026 é sustentada pela renovação dos contratos de transmissão de TV, venda de direitos digitais e regulamentação do mercado de apostas nos EUA.

Por isso, a valorização não está atrelada diretamente ao rendimento do time dentro de campo. O Orlando City atualmente ocupa a décima colocação da Conferência Leste da MLS de um total de 12 times. Em 13 jogos, foram seis derrotas, quatro vitórias e três empates.