Com uma economia em crescimento, uma política externa assertiva e investimentos ambiciosos, o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, quer que o país, antes atrás da Cortina de Ferro, ocupe um lugar na primeira fila da União Europeia.
A invasão russa da Ucrânia colocou os holofotes no leste da UE, particularmente na Polônia, a quinta maior economia do bloco que, diferentemente de potências históricas como França e Alemanha, continua crescendo.
Aproveitando os ventos favoráveis, o primeiro-ministro anunciou na segunda-feira um plano de investimento recorde de cerca de 160 bilhões de dólares (924 bilhões de reais) para fortalecer a segurança do país e manter o dinamismo econômico.
As medidas propostas incluem a construção de um parque eólico gigante no mar Báltico, a criação da primeira usina nuclear do país, a modernização do exército e o envio do primeiro polonês ao espaço.
O objetivo final, diz Tusk, é “ultrapassar” as potências tradicionais da UE até a década de 2030 e garantir a segurança do país após a invasão russa de sua vizinha Ucrânia.
“A guerra está atrás da nossa fronteira”, disse ele em um discurso na Bolsa de Valores de Varsóvia na segunda-feira.
“Esse progresso no investimento deve garantir a nossa segurança”, insistiu o primeiro-ministro, que acredita que alguns países da Europa Ocidental “às vezes menosprezam” a Polônia.
Embora politicamente o governo de Tusk tenha decepcionado muitos de seus apoiadores ao fazer pouco progresso nas reformas prometidas (especialmente nos direitos das mulheres), sua influência em Bruxelas não para de crescer.
O contraste é claro com os oito anos de governo ultraconservador e isolacionista que o precederam e que entraram em conflito com a UE.
Com Tusk, a Polônia espera se tornar um ator importante em Bruxelas, especialmente no caso de negociações de paz na Ucrânia prometidas pelo americano Donald Trump.
“Devido à geografia e à geopolítica, além de sua ajuda à Ucrânia, a preocupação da Polônia é ter voz” nessas negociações, diz o analista Tomasz Bielecki.
A Polônia é um dos poucos membros da UE que chega perto de cumprir a exigência de Trump de gastar 5% do PIB em Defesa (a meta para este ano é 4,7%) e Tusk argumenta que a Europa deve cuidar de sua própria segurança.
“Se a Europa quiser sobreviver, precisa se armar. Não é nossa escolha. Eu não sou militarista”, disse ele.
Enquanto a Europa se prepara para a turbulência do segundo mandato de Trump, o líder polonês adota cada vez mais o estilo do presidente americano, pedindo aos europeus que “mantenham a cabeça erguida” e tornem a Europa “grande novamente”.
Embora Tusk tenha declarado com orgulho que “o céu não é um teto” para a Polônia, suas ambições têm certos limites.
Na União Europeia, onde o PIB é um indicador do poder político, este ex-país soviético está muito atrás de líderes históricos como Alemanha, França e Itália.
E a visão sobre o lugar da Polônia na UE também depende das eleições presidenciais de maio.
Os eleitores terão que escolher entre o prefeito poliglota de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, um aliado de Tusk, e o ex-chefe do instituto de memória histórica, o nacionalista Karol Nawrocki, que apelou ao crescente sentimento anti-ucraniano do país.
Enquanto Trzaskowski é um defensor ferrenho da UE, Nawrocki tem o apoio do partido ultraconservador PiS (anteriormente no poder e estreitamente alinhado com Trump) e argumenta que a Polônia deve assumir a liderança nas relações europeias com o imprevisível líder dos EUA.
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