Coincidência ou não, Don Giovanni subiu ao palco do Teatro São Pedro, na noite de sábado, na véspera do aniversário de 230 anos da obra, estreada em 1787. Que a ópera tenha seguido no repertório desde então não chega a ser surpreendente quando se ouve a perfeita combinação entre texto e música – e a investigação da alma humana que ela possibilita.

Mas a produção paulista não relembrou apenas a genialidade do compositor. Apesar dos mesmos cenários, figurinos, diretor, o Don Giovanni estreado no sábado acabou resultando em um espetáculo diferente daquele apresentado em Belém no início de setembro, relembrando outra das verdades do mundo da ópera, a de que, em uma mesma montagem, um elenco novo pode dar outros significados a uma história.

A construção repleta de nuances e coloridos do barítono Leonardo Neiva dá a Don Giovanni uma dimensão ampla. Cômica, com certeza; com o desejo como protagonista; mas sem abrir mão do senso trágico que, construído ao longo da ópera, dá maior sentido à cena final, em que ele se recusa a se curvar perante o Comendador, preferindo ser tragado pelo inferno em vez de se arrepender do modo como viveu.

Paradoxalmente – ou não, para uma obra definida como um “drama brincalhão”, na tradução de Leonardo Martinelli para “dramma giocoso” – o senso teatral do baixo-barítono Saulo Javan como Leporello reforçou o caráter cômico da narrativa, encontrando eco no desempenho de Luciana Bueno como Donna Elvira, de Gustavo Lassen como Masetto ou de Carla Cottini como Zerlina. Rosana Lamosa oferece uma Dona Anna construída de maneira sólida, que se ressente da falta de um Don Ottavio (o tenor Caio Duran) mais expressivo e de voz mais adequada.

A leitura do maestro Claudio Cruz é atenta ao estilo mozartiano, com especial foco às articulações e ornamentações. Os pontos altos foram os momentos de maior introspecção, como as árias Non mi dir, de Donna Anna, ou Mi tradi, de Donna Elvira, em que pesem outras passagens nas quais a tensão teatral acabou se perdendo.

DON GIOVANNI

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Teatro São Pedro. Rua Barra Funda, 161, tel. 2122-4070.

2ª (30), 4ª e 6ª, 20h; dom., 17h.

De R$ 30 a R$ 80.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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