Os acusados de envolvimento na morte da ex-vereadora Marielle Franco, Domingos e Chiquinho Brazão, possuem 162 imóveis que variam de casas, apartamentos e terrenos, no próprio nome, no de empresas administradas por eles ou registrados pelos outros quatro irmãos que fazem parte do “império econômico”. O valor das propriedades somadas chega a R$ 120 milhões. As informações foram divulgadas pelo Uol durante a manhã desta segunda-feira, 1º.

Além dos imóveis, os irmãos possuem quatro postos de combustíveis. Outros 29 estabelecimentos de mesma natureza estão ou já foram registrados no nome de sócios de Domingos e Chiquinho Brazão apontados pela PF (Polícia Federal) como possíveis laranjas.

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Os irmãos Brazão são acusados por delação de Ronnie Lessa de serem os mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, mortos em 2018. Domingos é suspeito de se associar a milicianos para fins eleitorais e de “atividades imobiliárias”. O poder político do sujeito possibilitou que Chiquinho também entrasse na vida pública e se tornasse deputado federal.

Domingos Brazão

Atualmente, 142 imóveis estão no nome de Domingos, apenas oito registrados na pessoa física. As outras propriedades são de empresas controladas pelo acusado, a Superplan Administração de Bens e Participações e a FB Participações – ter propriedades no nome de pessoas jurídicas não é uma prática ilegal.

O investigado é ex-dono de um ferro velho que se tornou vereador do Rio de Janeiro em 1996 e, posteriormente, deputado estadual por quatro mandatos, até ser nomeado como conselheiro do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) em 2015.

A maior parte das propriedades está localizada na zona oeste da capital fluminense, área em que a família Brazão exerce força política e que também sofre com a atuação de grupos milicianos. Os imóveis foram adquiridos de 2001 até 2023.

Apenas entre 2017 e 2019, o político registrou 99 novos imóveis, dentre estes, apenas um não está no nome da Superplan. O número é composto por salas e lojas de dois edifícios comerciais na zona oeste do Rio de Janeiro. As obras dos prédios foram feitas pela companhia de Domingos e a construtora Martinelli.

Outras propriedades incluem um apartamento que já pertenceu ao doleiro Dario Messer, na Barra da Tijuca, e um galpão que é alugado a uma firma da atacarejo no valor de R$ 65 mil por mês, em Campo Grande.

A casa em que Domingos Brazão reside, no condomínio Santa Lúcia, na Barra da Tijuca, não está no nome dele ou de qualquer uma de suas empresas. A propriedade também não aparece no registro de imóveis do Rio de Janeiro. É possível que o local esteja sob posse do investigado por conta de contratos de gaveta, firmados entre particulares. Tal arranjo informal serve para adiar o pagamento de tributos de transmissão ou para omitir bens adquiridos com dinheiro que não é de origem lícita.

Família Brazão

Há suspeitas de que a família Brazão tenha enriquecido pela atividade de milícias e de corrupção no poder público. Desde 1996, quando entraram para a política, os investigados estariam utilizando postos de gasolina para lavar dinheiro de origem desconhecida.

Chiquinho Brazão, reeleito deputado federal em 2022, possui 11 imóveis em seu nome, em sociedade com os irmãos Domingos e Pedro – Manoel Inácio Brazão, deputado estadual do Rio de Janeiro pelo União Brasil e vice-presidente da Assembleia Legislativa do estado. O indivíduo não é acusado de envolvimento no caso Marielle – ou no da holding 3X, sociedade que possui com um filho.

Pedro Brazão é dono de um apartamento, duas salas de escritório e 11 terrenos e imóveis comerciais em sociedade com os outros dois irmãos. Deolinda, Dolores e Maria Lúcia Brazão, que estão fora da política, possuem cinco propriedades. Cada uma das três possui sua própria clínica de exames médicos para carteira de motorista.

Origem do dinheiro

Os montantes utilizados pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão para adquirir propriedades são investigados pelas autoridades. Em outras oportunidades, os dois afirmaram que sempre tiveram atividade empresarial paralela à política. Indícios de desvios de recursos de emendas foram identificados no aparelho celular de Chiquinho após ambos serem presos.

Desde 2003, foram observadas 190 operações imobiliárias de compra e venda, a maioria entre 2018 e 2023. Algumas das transações superam valores de mercado, como, por exemplo, um terreno de um galpão adquirido por R$ 2 milhões em 2017 pela Superplan e vendido por R$ 22 milhões quatro anos depois.

Em julho de 2011, Domingos teria comprado um imóvel em Jacarepaguá por R$ 1,6 milhão e revendido o apartamento por R$ 3,1 milhões em 2012, dobrando o capital declarado em apenas sete meses.

Conforme a PF, um lucro de 714% observado em uma única transação representa uma suspeita de que as vendas estariam sendo utilizadas para limpar dinheiro de origem ilícita.

Fora do mundo imobiliário, a família possui postos de gasolina por meio de sociedade direta ou de suas empresas. As companhias são compostas por algum dos Brazão em parceria com Alice Mello Kroff, esposa de Domingos. Outras três propriedades que pertenciam aos familiares e eram de mesma natureza tiveram CNPJ encerrado pelos sócios ou pela Receita Federal.

Entretanto, a PF aponta que 29 postos de gasolina pertencem a indivíduos que seriam laranjas dos Brazão, por já terem sido parceiros em outros empreendimentos e estiveram em seus gabinetes.

Defesa dos Brazão

Roberto Brzezinski Neto, advogado que defende Domingos Brazão, não comentou a evolução dos patrimônios imobiliários do investigado e o tema não está relacionado às acusações a que respondem no STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo Brzezinski, Domingos é acusado de homicídio apenas com base na palavra de Ronnie Lessa e que não há qualquer prova da versão dada pelo delator.

Cléber Lopes de Oliveira, advogado de Chiquinho Brazão, declarou que não comentaria o assunto por não ter relação com as acusações feitas no STF.