O Brasil comemorou nessa quarta-feira, 26 de outubro, o centenário de nascimento daquele que foi um de seus maiores “intelectuais orgânicos”, na conceituação teórica gramsciana: ele pensava e ele agia. Chamou-se Darcy Ribeiro. Era antropólogo, educador, etimólogo, escritor e político.

Darcy Ribeiro foi um dos primeiros a defender as populações indígenas, incluindo essa defesa em uma agenda política, e também fez-se pioneiro na luta pela saúde ambiental. Deu ao Brasil uma identidade, trabalhou o quanto pôde pela democracia social.

Ele foi ministro da Educação e ministro da Casa Civil no governo democraticamente eleito de João Goulart, apeado do poder pelo golpe militar de 1964, que mergulhou o Brasil nas trevas da ditadura dos fardados. Darcy foi exilado, claro. Quem pensava um Brasil sob a ótica da democracia era rotulado de comunista pelos homens de ombros estrelados e, então, viam-se perseguidos.

É essa ditadura, exatamente essa ditadura, que Jair Bolsonaro quer de volta ao Brasil: uma Nação sem instituições democráticas, sem habeas corpus, sem devido processo legal, sem Estado de Direito. Sem liberdade de Expressão. Sem Ciência, sem Cultura, sem Artes, sem Educação, sem cuidados com a Saúde. Um País desprezando mulheres, pretos, pobres, indígenas, população LGBTQIA+ e defensores do meio ambiente. Não é sem motivo e perversas intenções, portanto, que Bolsonaro elogia torturadores da época da ditadura militar, responsáveis por centenas de mortes e desaparecimento de corpos de oponentes políticos.

Veio de Darcy um dos mais vibrantes discursos contra a ditadura. Ele estava em Paris e falou na Universidade Sorbonne, quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa. Foi a maior pancada oral que os militares tomaram. Darcy transformou todas as suas conquistas em derrotas, mas avisou que estaria se sentindo péssimo se estivesse no lugar daqueles (os militares autoritários) que imaginavam tê-lo vencido. Eis um trecho que correu o mundo e hoje está nas bibliotecas oficiais de diversos países como sendo uma das grandes falas da história da humanidade:
“Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os indígenas, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.

No próximo domingo, na urna eletrônica, lembre-se das palavras de Darcy. E vote na democracia e pela democracia, vote com o mesmo estilo, vote com a mesma inteligência, vote com a mesma classe com que Darcy arrasou os ditadores.

Pleno de ironia contra tiranos negacionistas e defensores de regimes obscurantistas, o que Darcy Ribeiro fez foi o Elogio da Democracia.