Dom Odilo minimiza queda de católicos no Brasil e vê chance de reversão do quadro

Arcebispo de São Paulo aponta mobilidade religiosa e envelhecimento dos fiéis como causas da redução; admite falhas e defende ajustes na atuação da Igreja

Dom Odilo Scherer
Cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, em entrevista à ISTOÉ Foto: Leonardo Monteiro/ISTOÉ

O arcebispo de São Paulo, cardeal Dom Odilo Scherer, minimizou a redução de católicos no Brasil e creditou os dados pela migração religiosa apresentada nos últimos anos, além do envelhecimento dos fiéis. A declaração foi dada em entrevista à ISTOÉ.

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Dados do Censo de 2022 apontam que o número de católicos caiu 8,4 pontos percentuais em 10 anos, saindo de 65,1% para 56,7%. Paralelo a isso, o número de evangélicos saltou de 21,6% para 26,9%.

Para Dom Odilo, os dados foram menores que o esperado pela cúpula católica e vê chances de reversão nos próximos anos. O cardeal reforçou que a variação se deve ainda ao aumento da mobilidade com o avanço das religiões de matriz africana, impactando, também, as igrejas evangélicas.

“Os católicos diminuíram menos do que se previa a partir do Censo de 2010 e o número de evangélicos também cresceu menos do que se previa a partir do Censo de 2010”, afirmou o religioso.

“Nós tivemos uma mobilidade religiosa muito grande no Brasil nas últimas décadas. E nos interrogamos por que isso acontece. É um fenômeno que não diz respeito apenas à igreja católica, é um fenômeno religioso da migração, migração religiosa, que responde a um momento do estado de cultura que nós vivemos. Primeiro, a questão da liberdade, da autonomia. Segundo, pelo leque enorme de opções religiosas que no passado não existiam”, avaliou.

O arcebispo de São Paulo ainda vê um fenômeno de envelhecimento entre os fiéis e admite falhas que precisam ser estudadas pela Igreja. Dom Odilo reforçou que o avanço do debate sobre o uso da inteligência artificial pela Santa Sé, mas acredita que outras mudanças devem demorar para sair do papel.

“Da parte da Igreja Católica, há um fenômeno relativo ao envelhecimento dos católicos. Portanto, os dados do Censo vão nos fazer rever e reorientar algumas das nossas atividades, nossos modos de trabalho para atender melhor a esses públicos [mais jovens]”, explica.

“É preciso rever onde estamos eventualmente falhando e nós temos claramente percepção de onde nós temos falhas, mas não é fácil. As mudanças na Igreja Católica não são rápidas e fáceis, porque ela também tem princípios aos quais se atém”, completa.