O dólar apresentou valorização diante de moedas de países emergentes e de algumas divisas fortes nesta terça-feira, 28, em meio à forte confiança do consumidor dos Estados Unidos e à perspectiva de juros mais altos em solo americano após a divulgação de um documento do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) referente à reunião de política monetária do início deste mês.

Próximo ao horário de fechamento das bolsas em Nova York, o dólar subia para 111,19 ienes, enquanto o euro avançava para US$ 1,1698 e a libra cedia para US$ 1,2870. Entre emergentes, a moeda americana era cotada a 67,922 rublos russos e a 6,2680 liras turcas.

Após um 2017 predominantemente positivo, o cenário para os mercados emergentes se mostra mais difícil até agora em meio ao temor de um conflito comercial mais amplo no mundo e a incertezas nas relações geopolíticas, além do cenário de maior aperto nas condições monetárias nas economias desenvolvidas. Na segunda-feira, com o pano de fundo azulado pintado pelo acordo comercial firmado entre EUA e México, houve um alívio no ímpeto altista do dólar, o que não se refletiu hoje à medida que ainda ficam questões envolvendo o Canadá e outras relações comerciais de Washington.

Apesar do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, ter afirmado que houve “muito progresso positivo” entre americanos e mexicanos, principalmente no setor automotivo, as incertezas quanto à entrada do Canadá no pacto comercial da América do Norte permanecem. Durante a manhã, o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Larry Kudlow, disse que, para a entrada de Ottawa, a questão dos laticínios deve ser abordada. “Eles têm de consertar isso”, disse, referindo-se às tarifas canadenses aplicadas no setor, cuja alíquota é superior a 200%.

“Acreditamos que o acordo bilateral EUA-México reduziu significativamente o risco de o México acabar sem um acordo. Apesar de também sermos cautelosos, vemos espaço para uma recuperação moderada do peso nos próximos meses”, escreveu You Na Park-Heger, do Commerzbank, em nota a clientes. Mesmo assim, a moeda mexicana sucumbiu diante do avanço do dólar ante emergentes e, no fim da tarde, a divisa americana era cotada a 19,0601 pesos mexicanos.

Os analistas do UBS, por sua vez, alertam contra a extrapolação do otimismo vindo do acordo EUA e México devido às relações não muito positivas entre Washington e Pequim. “Documentos do governo Trump demonstram que as preocupações atuais sobre a China vão além da questão restrita ao comércio, sugerindo que elas não irão se dissipar facilmente”, apontou o banco suíço. No início da tarde, o secretário do Comércio americano, Wilbur Ross, foi fiel a essa interpretação ao afirmar que não houve avanço nas conversas entre autoridades chinesas e americanas na semana passada.

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O cenário comercial ainda nebuloso se somou à perspectiva de que o Fed possa ser um pouco mais agressivo na elevação de juros. Apesar do presidente do banco central, Jerome Powell, ter pregado o gradualismo no aperto monetário em Jackson Hole, um documento divulgado pelo Fed durante a tarde deu apoio a essa visão, ao mostrar que Loretta Mester, que comanda a distrital de Cleveland, e Esther George, que é presidente do Fed de Kansas City, votaram a favor do aumento da taxa de desconto em 25 pontos-base, para 2,75%, na reunião de política monetária do banco central do início deste mês. Os outros dirigentes, no entanto, votaram a favor da manutenção da taxa.

O dólar ainda teve ajuda da confiança do consumidor dos EUA, que, de acordo com o Conference Board, subiu de 127,9 em julho para 133,4 em agosto, no maior nível desde agosto de 2000. “O sentimento forte não é particularmente surpreendente, dado o mercado de trabalho apertado e altas recordes nas ações. Além disso, ele é consistente com uma previsão econômica sólida de curto prazo para os EUA”, afirmou o economista Jon Hill, do banco de investimentos canadense BMO Capital Markets.

Destaque, ainda, para o peso argentino, que voltou a marcar o menor nível em relação ao dólar na história. Para a agência de classificação de risco Moody’s, com as taxas de juros a 45%, o Banco Central da República da Argentina (BCRA) deve conter momentaneamente a depreciação da moeda em relação ao dólar, mas a economia ficará sufocada. A Moody’s acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) argentino apresente contração de 1% este ano e que o recuo possa se estender até o próximo ano. Para tentar impedir novas mínimas do peso, o BCRA fez dois leilões de dólares, onde ofertou US$ 600 milhões, com o mercado tomando apenas US$ 200 milhões.

Na África do Sul, o rand apresentou ganhos durante a manhã, após o comitê do Parlamento do país arquivar um projeto de lei de expropriação de terras que havia sido criticado por Donald Trump. O Parlamento, porém, diz que o projeto pode ser apresentado de novo posteriormente. No entanto, com o avanço do dólar ante emergentes, o rand perdeu fôlego ao longo do dia, com a moeda americana a 14,2230 rands no fim da tarde.


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