O dólar caiu abaixo de R$ 5,00 no pregão desta quarta-feira, o que não acontecia há um ano. Mas o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não deixou a moeda ficar muito tempo nesse patamar. O banco central dos Estados Unidos sinalizou a primeira alta de juros naquele país em 2023, o que fez o dólar se fortalecer no mundo e também ante o real. Em seguida, seu presidente, Jerome Powell, alertou para o risco para inflação norte-americana ficar mais alta por tempo acima do esperado. Com isso, os ativos de risco tiveram piora generalizada, as taxas de retorno dos juros longos americanos subiram e as moedas de emergentes pioraram em bloco.

No mercado doméstico, após cair a R$ 4,99 mais cedo, o dólar encostou nos R$ 5,09 após o Fed e as atenções agora se voltam para o final da reunião do Banco Central do Brasil.

No fechamento, o dólar à vista subiu 0,34%, a R$ 5,0600, enquanto o dólar futuro para julho tinha alta de 0,35%, a R$ 5,0675 às 17h21.

Na expectativa pela manutenção de juros pelo Fed, enquanto o BC brasileiro deve elevar as taxas nesta quarta para 4,5% e sinalizar novas altas, o dólar furou mais cedo a linha dos R$ 5,00. Desde o pregão de 10 de junho de 2020 que isso não acontecia. Operadores relataram entrada de fluxo externo e desmonte de posições contra o real. Dados do BC divulgados nesta quarta mostram que este mês, até o dia 11, o fluxo cambial está positivo em US$ 1,5 bilhão.

Como esperado, o Fed manteve os juros e o ritmo das compras mensais de ativos, sem novidades no comunicado. Mas foi no boletim das previsões que apareceram as mudanças. Inflação mais alta pela frente e dirigentes passando a prever ao menos duas altas de juros em 2023. Na entrevista à imprensa, Powell reafirmou sua visão de que a inflação mais alta é “transitória”, mas reconheceu que os índices de preços subiram “notavelmente” nas últimas semanas, com risco de se tornar mais altos e “mais persistentes” do que o esperado.

O economista do banco Wells Fargo, Jay Bryson, observa em nota que o comunicado em si do Fed não trouxe novidades, sem alteração na política monetária. A maior mudança foi no gráfico de pontos, que reúne as previsões dos dirigentes para a taxa de juros. Muitos deles anteciparam o momento de elevação dos juros: sete dirigentes esperam a primeira elevação já em 2022, enquanto 13 veem alta em 2023. Em março, quando o último gráfico de pontos foi divulgado, só quatro projetavam juro maior no ano que vem e em 2023 eram sete, ressalta Bryson.

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A mudança das projeções de juros ajudou a “azedar o mercado”, ressalta o estrategista-chefe da Avenue Securities, William Castro Alves. Ele destaca ainda que as projeções de inflação subiram, mas a do Produto Interno Bruto (PIB) também foram aumentadas. “Houve uma mudança na postura dos dirigentes do Fed sobre os juros.”

Passado o Fed, a dúvida agora é se o Copom vai sinalizar novos aumentos de juros pela frente e se o termo “parcial”, para se referir ao ajuste nas taxas, será retirado do comunicado. A analista de moedas do Commerzbank, Melanie Fischinger, avalia que se o termo for retirado, será positivo para o real, que deve ganhar força ante o dólar, pois a visão será de que o ciclo de altas será “completo”, podendo levar a Selic a subir mais, acima do nível considerado neutro.


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