Dólar tem ajuste para baixo ante real após salto recente, mas ainda caminha para alta semanal

Dólar tem ajuste para baixo ante real após salto recente, mas ainda caminha para alta semanal

Por Luana Maria Benedito

(Reuters) – O dólar tinha queda contra a moeda brasileira nesta sexta-feira, num movimento de ajuste após salto recente para perto da marca de 5,50 reais, mas ainda caminhava para sua segunda semana consecutiva de ganhos e seguia próximo de devolver completamente as perdas acumuladas até agora em 2022.

Às 10:31 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,98%, a 5,4429 reais na venda.

Na B3, às 10:31 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,04%, a 5,4520 reais.

A desvalorização do dólar nesta manhã vinha na contramão de alta de 0,2% do índice da moeda norte-americana contra uma cesta de rivais fortes, mas estava alinhada aos leves ganhos de algumas divisas emergentes ou sensíveis às commodities, como dólar australiano, rand sul-africano e pesos chileno e mexicano.

Alguns participantes do mercado descreveram a movimentação desta manhã como um ajuste técnico, depois de na véspera o dólar ter subido 0,66%, para 5,4966 reais, maior valor desde 24 de janeiro (5,5070 reais). Nas máximas intradiárias de quinta-feira, a divisa norte-americana chegou a superar os 5,51 reais.

Após oscilações expressivas no preço do dólar, é natural haver eventual correção no sentido oposto, conforme operadores realizam lucros.

Apesar da queda desta sessão, o dólar estava a caminho de registrar alta de quase 1% em relação ao fechamento da última sexta-feira, o que marcaria sua segunda semana consecutiva de ganhos. No mês, a divisa norte-americana avança mais de 4%, e, nos níveis desta manhã, basta valorização de cerca de 2% para que a moeda devolva completamente as perdas que ainda acumula frente ao real em 2022.

“Tudo o que era um cenário positivo para o real no inicio deste ano está se revertendo”, disse à Reuters Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, referindo-se a um salto global nos preços das commodities e ao agressivo ciclo de aperto monetário do Banco Central do Brasil, que colaboraram para uma desvalorização de 14,5% do dólar no primeiro trimestre deste ano.

“O juro real americano tem subido, finalmente, e esse diferencial de juros (entre Brasil e Estados Unidos) foi piorando na margem”, explicou Caruso. O banco central norte-americano, o Federal Reserve, já elevou os custos dos empréstimos do país em 1,50 ponto percentual desde março deste ano, e deve dar sequência a seu aperto monetário na semana que vem, promovendo nova alta de 0,75 ponto.

Além de tornar o dólar globalmente mais interessante, por atrair recursos para o mercado de renda fixa norte-americano, uma taxa de juros mais alta nos EUA alimenta os riscos de uma recessão, já que tende a frear os gastos de empresas e famílias, o que tem pesado nos preços de commodities e aumentado a aversão a risco, penalizando o real, acrescentou Caruso.

Ele afirmou que o movimento recente de depreciação do real é majoritariamente explicado pelo exterior adverso, “mas o cenário doméstico é a cerejinha do bolo”, em meio à deterioração da credibilidade fiscal do país na esteira de medidas do governo para ampliar e criar benefícios sociais. Nesse contexto, uma medida comumente acompanhada do risco-país do Brasil chegou a saltar acima de 300 pontos-base mais cedo neste mês, rondando níveis de maio de 2020.

Daqui para frente, “se em algum momento a gente chegar a ver o dólar abaixo de 5 reais eu ficaria muito surpreso, acho muito difícil”, disse Caruso, vendo os 5,20 reais como nível que tende a chamar compradores.

“Em mercados de alta volatilidade, é dificil ficar otimista.”

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