Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar registrou nesta sexta-feira a maior alta desde a primeira sessão do ano, ao fim de um pregão de vaivém em meio a clima negativo nas praças financeiras globais, mas nada que impedisse a moeda de emendar a segunda semana consecutiva de baixa, com investidores voltando a olhar para o Brasil em busca de pechinchas.

O dólar à vista subiu 0,75% nesta sessão, a 5,4579 reais na venda, após variar entre alta de 1,09% (para 5,476 reais) e queda de 0,23%, para 5,4048 reais.

O ganho percentual no fechamento é o mais intenso desde 3 de janeiro (+1,63%).

Alguns sinais de análise técnica já apontavam um ajuste para cima. O índice de força relativa de 14 dias (IFR-14) –que mede o quão fora de padrão foi a oscilação recente do preço de um ativo– havia ficado perto de 30 na véspera, linha a partir da qual o preço começa a ser visto como barato (no caso, o dólar estaria barato).

Além disso, com base nas Bandas de Bollinger –uma outra ferramenta de análise técnica–, o dólar havia rompido na quinta-feira a linha inferior (fechou abaixo de 5,4389 reais), mas sem convicção, o que chamou compras de oportunidade.

O mercado recebeu na parte da tarde informações sobre o Orçamento que o presidente Jair Bolsonaro precisa sancionar formalmente até esta sexta. Segundo dois membros do Ministério da Economia que falaram à Reuters sob condição de reserva, o texto manteve verba de 1,7 bilhão de reais para reajustes salariais e reestruturação de carreiras de servidores, num momento em que o governo enfrenta forte demanda de várias categorias.

A correção no câmbio nesta sexta, de toda forma, foi discreta, e ditada em parte por novo dia de deterioração no sentimento externo, com as bolsas de valores de Nova York em novo tombo.

Por outro lado, o cenário ainda forte para as commodities e a percepção de que por ora os movimentos de política monetária nos EUA estão precificados deram algum respaldo a alguns pares emergentes do real, como peso mexicano e peso colombiano, que haviam ficado para trás recentemente ante a moeda brasileira.

Todas as atenções dos próximos dias estarão voltadas para o banco central norte-americano, que na quarta-feira anuncia decisão de política monetária. Não se espera que o Fed mexa nos juros ainda, mas, sim, que possa sinalizar aumentos das taxas a partir de março, dar pistas sobre o número de elevações ao longo do ano e sobre quando, e em que ritmo, reduzirá seu estoque de ativos.

“Os ativos dos mercados emergentes parecem bem precificados para um tom duro do Fed. Contudo, desenvolvimentos específicos em emergentes e riscos de difícil precificação que emanam da escalada das tensões com a Rússia provavelmente manterão os investidores cautelosos”, disseram estrategistas do Barclays em nota.

Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, a tônica para a taxa de câmbio no Brasil por ora deverá ser ditada ainda pelos eventos internacionais, sobretudo a política monetária do Fed. Ele lembra que o real mais recentemente embarcou numa recuperação mais firme que alguns de seus pares uma vez que, no geral, o entendimento é de que a moeda está ainda descontada.

“Nossos problemas, nossos desafios nós já conhecemos. Nossos fundamentos de setor externo, balança comercial, fluxo financeiro… em tese trazem o câmbio (dólar) para baixo, temos ancoragem disso, mas ainda pode haver calor com o juro real americano no ano, e isso é tradicionalmente fator de alta para o dólar”, afirmou.

Na semana, o dólar acumulou baixa de 0,99% –a segunda semana consecutiva de perdas, já que entre os dias 10 e 14 o dólar já havia recuado 2,12%. Em janeiro, a cotação perde 2,07%.

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