Por Luana Maria Benedito

(Reuters) – A moeda norte-americana fechou em forte alta contra o real nesta segunda-feira, mesmo depois de o Banco Central irrigar o mercado de câmbio com mais de 1 bilhão de dólares por meio de venda líquida de contratos de swap cambial tradicional, em meio a riscos que vão da inflação global às incertezas fiscais domésticas.

O dólar à vista teve alta de 1,22%, a 5,5208 reais na venda. Essa foi a valorização diária mais acentuada do dólar desde o dia 4 deste mês, quando a moeda avançou 1,43%.

Na B3, em que os negócios vão além das 17h (de Brasília), o dólar futuro subia 1,04%, a 5,5315 reais.

Os leilões de swap cambial tradicional desta segunda-feira foram divididos entre oferta extraordinária de 10 mil contratos e oferta já prevista pelo calendário de 14 mil contratos, em meio a esforços do BC para suprir demanda por moeda estrangeira e amenizar distorções na taxa cambial. A autarquia vendeu todos os contratos ofertados, o equivalente a 1,2 bilhão de dólares.

Apesar de o Banco Central estar marcando presença nos mercados nas últimas sessões, especialistas apontam que suas intervenções não alteram tendências estruturais do câmbio.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

“A atuação do Banco Central não muda tendência da moeda; se muda, é apenas no curtíssimo prazo. O que o BC pode fazer é segurar a volatilidade” e evitar que o dólar suba fora de controle, disse Marcos Weigt, chefe de tesouraria do Travelex Bank.

Para Sidnei Nehme, economista e diretor executivo da NGO Corretora, tem faltado “proatividade” ao Banco Central nas intervenções cambiais e no combate à inflação elevada, de forma que as atuações da autarquia causam “ruídos e pequenas repercussões, mas não alteram o ‘status quo’ e nem a tendência”.

“Não acreditamos que ocorra mudança substantiva no comportamento do câmbio”, alertou Nehme em nota, prevendo manutenção da volatilidade em meio a riscos que vão da ameaça de greve dos caminhoneiros no Brasil à desaceleração econômica da China.

Dados recentes mostraram que a segunda maior economia do mundo –que também é a maior parceira comercial do Brasil– registrou seu ritmo de crescimento mais lento em um ano no terceiro trimestre, notícia que vem em meio a preocupação internacional com a alta dos preços.

Com apostas crescentes de que a inflação se mostrará mais persistente do que o imaginado inicialmente pelos principais bancos centrais, possivelmente forçando o Federal Reserve a antecipar seu cronograma para aumento dos custos dos empréstimos, os rendimentos dos títulos norte-americanos subiram bastante em pouco tempo, ressaltou Weigt, do Travelex.

Depois de tocar 1,21% em agosto, mínima em seis meses, o rendimento do Treasury de dez anos chegou a superar 1,60% recentemente. A perspectiva de juros mais altos nos Estados Unidos tende a beneficiar o dólar.

Com a alta deste pregão, o dólar acumula agora valorização de 6,34% em 2021.

Daqui em diante, disse Weigt, o que faria o dólar assumir tendência de queda e devolver alguns desses ganhos ante o real seria uma redução das tensões fiscais domésticas, como, por exemplo, com uma solução positiva para a conta de precatórios para 2022 ou a acomodação do Auxílio Brasil dentro do teto de gastos.

“Isso, sim, nos ajudaria a falar em uma taxa de câmbio mais próxima dos 5 reais. O que tem poder de mudar direção do dólar é o fundamento do Brasil e o ambiente externo”, não intervenções pontuais do Banco Central.

tagreuters.com2021binary_LYNXMPEH9H157-BASEIMAGE


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias