O mercado tenta encontrar um novo patamar para o dólar após a frustração na expectativa de entrada de recursos no País com o leilão do excedente da cessão onerosa, realizado quarta-feira. Segundo operadores, esta quinta foi de ajustes técnicos para a moeda, que deve seguir mais valorizada, acima dos R$ 4, por razões sazonais. No fim do ano, é comum o aumento da procura por dólares por parte de empresas e fundos, que enviam remessas ao exterior.

No fim do pregão, a moeda terminou cotada em R$ 4,0930, uma alta de 0,25% e o maior valor desde 21 de outubro. A moeda americana chegou a ter queda ante o real pela manhã, influenciada por um exterior favorável, com mais apetite a risco. Logo após a abertura, marcou a mínima do dia, aos R$ 4,04. O bom humor externo, no entanto, não foi suficiente para segurar um segundo dia de reposicionamento de investidores.

No fim da manhã, o resultado de um segundo leilão frustrado piorou o incômodo dos investidores e o dólar escalou até tocar os R$ 4,1022 na máxima do dia. A 6ª rodada de licitações de partilha terminou com apenas um dos cinco blocos licitados. A Petrobras, com a chinesa CNODC, arrematou o campo mais nobre, de Aram, numa surpresa para o governo, segundo admitiu o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone.

A notícia desagrada por vir na esteira da frustração com o leilão do excedente da cessão onerosa. Das quatro áreas ofertadas, apenas duas foram arrematadas, ambas pela Petrobras, que teve em um dos campos a participação de duas empresas chinesas. Assim, a expectativa de uma entrada massiva de dólares por meio de interessados estrangeiros – que pressionou a moeda americana para baixo nos últimos dias – não se concretizou.

“A expectativa era de fluxo muito grande, o gap que teve do resultado, em termos de fluxo de entrada, foi uma diferença muito grande. No meu cenário, acho que todo o movimento de apreciação recente do real foi relacionado mais a (espera de) fluxo e menos a fundamento. Uma vez que você quebrou isso, vai ter fluxo de saída pela sazonalidade”, disse o diretor da Absolute Invest, Roberto Serra. Para ele, de agora até o fim do ano, o dólar deve oscilar bastante, mas haverá “muito mais dias de câmbio piorando”.

O economista e sócio da Journey Capital, Victor Candido, também pontua que o movimento dos últimos dias tem sido mais técnico e menos baseado em fundamentos. Ele pondera, contudo, que retirados os fatores sazonais, há fatores que podem favorecer o real em médio prazo. “Se confirmar a trégua com a China, se mercados continuarem nessa toada de tomar risco, o Brasil continua ganhando. É um bom emergente, vai ter fluxo”, disse. O dólar nesta quinta teve um dia de queda frente à maior parte dos emergentes, com um melhor apetite a risco.

Para Candido, apesar da alta que levou o dólar a ganhar R$ 0,10 nos últimos dois dias, a moeda não teve movimentos bruscos durante à tarde, o que pode indicar que encontrou um novo patamar de acomodação.