Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou em alta contra o real nesta quarta-feira, depois de ter chegado a ir abaixo do patamar psicológico de 5 reais mais cedo, com os investidores reagindo à decisão do Federal Reserve de adiantar para 2023 suas projeções para a primeira alta dos juros pós-pandemia nos Estados Unidos.

As novas projeções do banco central norte-americano mostram que uma maioria de 11 autoridades do Fed previu pelo menos dois aumentos de 0,25 ponto percentual nos juros para 2023, mesmo com a promessa de manter a política de apoio à economia por enquanto de forma a estimular a recuperação dos empregos.

“A possibilidade de aumento nos juros americanos mais cedo do que se estimava já é o suficiente para impactar, em certa medida, os ativos de risco”, comentou Paloma Brum, analista da Toro Investimentos.

O dólar negociado no mercado interbancário teve alta de 0,29%, a 5,0562 reais. Na B3, o principal contrato de dólar futuro ganhava 0,37%, a 5,068 reais.

A alta da moeda contra o real ficou em linha com o comportamento do dólar no exterior, com seu índice frente a uma cesta de rivais fortes subindo mais de 0,8%. Peso mexicano, rand sul-africano e lira turca, divisas emergentes cujo movimento o real tende a acompanhar, registravam perdas expressivas nesta tarde.

Juros mais altos nos Estados Unidos tendem a beneficiar o dólar.

Apesar da reação inicial dos mercados, “não vejo a reunião de hoje como uma mudança decisiva de cenário”, disse em post no Twitter Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos. “Acho natural a evolução gradual do Fed, de sua comunicação e de sua política monetária.”

Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office, ecoou sua visão, acrescentando que o cenário doméstico continua apontando para fraqueza do dólar à frente. Na mínima intradiária desta quarta-feira, a moeda norte-americana chegou a tocar 4,9926 reais na venda. A última vez que o dólar fechou um pregão abaixo dos 5 reais foi em 10 de junho de 2020 (4,9398).

“Temos a economia doméstica crescendo mais rápido do que o esperado anteriormente, um cenário fiscal melhor do que o previsto no início do ano e também temos o nosso Banco Central já elevando os juros. Todos esses pilares permanecem os mesmos, e a tendência é de que o real se valorize frente ao dólar.”

Agora, os investidores ficarão atentos à decisão do BC brasileiro sobre a taxa Selic, que será divulgada ainda nesta quarta-feira. A autarquia deve anunciar o terceiro aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual nos juros básicos, para 4,25%. As atenções também se voltam para o comunicado, já que o banco pode indicar um ciclo mais agressivo à frente ao abandonar seu compromisso com uma “normalização parcial” da política monetária, mostrou pesquisa da Reuters.

Um posicionamento mais “hawkish” (duro com a inflação) da autarquia tende a elevar a entrada de capital estrangeiro no Brasil, segundo especialistas, principalmente devido a estratégias de “carry trade”, o que beneficiaria o real.

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