Dólar retoma tendência de queda ante real após salto pontual por dados de emprego dos EUA

Dólar retoma tendência de queda ante real após salto pontual por dados de emprego dos EUA

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar teve salto pontual frente ao real nesta sexta-feira após dados de emprego norte-americanos robustos, mas logo retomou tendência de baixa vista esta semana depois que esperanças de alguma desidratação da PEC da Transição sustentaram o apetite de investidores por risco nos últimos dias.

Por volta de 11h13 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,3%, a 5,1822 reais na venda, mas, chegou a saltar 0,78% mais cedo, a 5,2382 reais, depois que um relatório mostrou forte criação de empregos na economia norte-americana em novembro.

A criação de vagas fora do setor agrícola dos EUA totalizou 263 mil no mês passado, disse o Departamento do Trabalho, acima dos 200 mil empregos esperados por economistas consultados pela Reuters.

“Da série ‘good news, bad news’ (notícia boa é notícia ruim): o forte resultado do mercado de trabalho nos EUA significa que o Fed pode até desacelerar a alta (de juros) em dezembro, mas o aperto monetário deve ir mais longe”, disse Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, em publicação no Twitter.

Mais cedo nesta semana, investidores haviam moderado suas apostas para o ritmo e o nível final do ciclo de aperto monetário do Federal Reserve após o presidente do banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, dar uma indicação clara da intenção de desacelerar a alta de juros conforme indicadores recentes sinalizam arrefecimento da inflação no país. A resiliência do mercado de trabalho, no entanto, lança dúvidas sobre essa perspectiva.

Quanto mais altos são os juros nos EUA, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente, conforme os rendimentos norte-americanos se tornam mais atraentes para investidores estrangeiros.

Apesar do salto pontual, o dólar logo retomou a tendência de queda frente ao real, ficando a caminho de fechar a semana em queda de mais de 4%, o que marcaria a depreciação mais intensa nessa base de comparação em um mês.

Investidores têm associado a baixa recente à expectativa de que a PEC da Transição seja moderada durante tramitação no Congresso.

Da forma que foi protocolada no Senado no início desta semana, a PEC abre uma exceção à regra do teto de gastos de quase 200 bilhões de reais por quatro anos, em grande parte para custear o Bolsa Família.

“No que diz respeito ao impacto fiscal, a equipe de Lula parece ter definido um ‘piso’ que considera razoável para minimizar os impactos fiscais negativos. Existem, porém, pressões de dentro do Congresso e do mercado para que esse valor caia para algo entre 80 bilhões e 130 bilhões de reais –a fim de evitar uma disparada da relação dívida/PIB”, disse a Levante Investimentos em nota a clientes.

“Um cenário mais pessimista estava sendo precificado e um impacto fiscal menor traz algum alívio para os ativos financeiros”, acrescentou a instituição.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Reginaldo Lopes (MG), que é membro da transição de governo, disse nesta sexta-feira que o piso para a PEC da Transição é de uma exceção de 150 bilhões de reais à regra do teto de gastos.

Apesar da perspectiva de que a PEC seja enxugada, a Genial Investimentos alertou em nota a clientes que, com um possível melhor entendimento entre a Câmara e o novo governo, existe a chance que um gasto extrateto “acima do plausível” volte a entrar na pauta novamente, o que a instituição avaliou como negativo para os ativos brasileiros.

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