O dólar forte é uma nova ameaça à estabilidade econômica global, pressionando o sistema e os mercados financeiros, afirma o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês).

Em um comentário preparado para ser lido em uma conferência nesta quarta-feira, Hyun Song Shin, conselheiro econômico e diretor de pesquisa da entidade, que representa 60 bancos centrais do mundo, diz que a apreciação da moeda norte-americana contribui para intensificar as anomalias em mercados emergentes e avançados.

Segundo ele, a quantidade de dívida denominada em dólares de empresas financeiras fora dos EUA estava em cerca de US$ 9,7 trilhões, dos quais US$ 3,3 trilhões são de empresas em economias emergentes. Esse montante tem pesado sobre esses países desde que o dólar começou a se valorizar, em 2014, disse.

Na época em que o dólar se enfraquecia contra as demais moedas, era fácil pagar as dívidas. No entanto, os últimos dois anos viram a moeda norte-americana se valorizar cerca de 17% em relação a uma cesta de moedas. A elevação dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), em dezembro, e expectativas de novos apertos monetários continuam a fortalecer a moeda, inverte o efeito, o que freia os fluxos de capital do dólar em direção a outras divisas. No pior dos casos, os devedores precisam se desfazer de ativos para cumprir com suas obrigações.

Em seu alerta, Shin cita o colapso do equilíbrio no mercado financeiro, ou paridade coberta de juros – a ideia de que juros implícitos nos mercados de câmbio deveriam guardar relação com os juros do mercado. Esta relação se desfez durante a crise financeira, quando a especulação era alta e em apenas uma direção, o que fazia subir a diferença entre as taxas futuras e spot, o que expunha o risco de câmbio.

Nos últimos 18 meses, a despeito do período de relativa calma, o equilíbrio está novamente saindo dos eixos, o que coincide com a valorização do dólar. “O impressionante é que isto é verdade não apenas para mercados emergentes, mas para moedas vistas como seguras, como o iene japonês e o franco suíço”, disse.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Dado o papel dominante do dólar no sistema bancário global – tomadores de empréstimo pedem em dólares e credores emprestam em dólares, independentemente do lugar – o universo de ativos denominados em dólar se estende muito além das fronteiras dos Estados Unidos. Mudanças no valor da moeda norte-americana causam efeitos em todos os lugares do planeta. Assim, a política monetária norte-americana ganha um peso importante na determinação as condições financeiras globais”, disse Shin.

O enfraquecimento da paridade coberta de juros reflete a divergência de políticas monetárias em todo o planeta e a o fim da era do dólar barato. Quando este se valoriza, bancos diminuem a quantidade de crédito ofertada e o crédito declina.

As consequências desse movimento são grandes, alerta o diretor de pesquisa do BIS. Quando esse indicador sai do lugar, o hedge feito por investidores e empresas para neutralizar o risco de transacionar em diferentes moedas é ameaçado.

Shin admitiu que alguns fatores minimizam o problema, como o fato de que boa parte da dívida em dólar pertencente a emergentes está na forma de títulos longos e de que muitos desses países detém reservas em moeda estrangeira em volume substancial, em contraste com momentos anteriores.

“Apesar disso, não existe espaço para complacência”, disse, alertando que, mesmo que uma grande quantidade da atual dívida não estiver próxima do vencimento, existem outras consequências caso a tomada de empréstimo em dólares começar a recuar. Ele citou o risco de que problemas em grandes seguradoras possam se espalhar pela economia e evidências de que um quarto dos empréstimos em dólar tomados por companhias emergentes acabou no caixa dessas empresas. Fonte: Dow Jones Newswires.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias