Após certa volatilidade pela manhã desta quarta-feira, quando correu entre mínima de R$ 4,1315 e máxima de R$ 4,1680, o dólar à vista rodou perto da estabilidade ao longo da tarde, sempre na casa de R$ 4,15, e encerrou os negócios em R$ 4,1580. Isso fez o real, ao lado da lira turca, destoar das demais divisas emergentes e de exportadores de commodities, que perderam força em relação à moeda americana.

A atuação do Banco Central nesta quarta-feira pela manhã, com leilões de venda à vista, swap cambial (reverso e tradicional) e o leilão de linha ajudou a dar suporte ao real e corrigiu a distorção no chamado ‘dólar casado’, zerando o diferencial entre o dólar à vista e o futuro para setembro, que havia ficado muito negativo, evidenciado escassez de moeda à vista.

Na primeira hora de negócios, o BC vendeu US$ 25 milhões (de oferta de US$ 550 milhões) em dólar à vista, seguida por colocação de swap cambial reverso de mesmo valor. Em seguida, o BC vendeu a oferta integral de US$ 1,5 bilhão em leilão de linha com compromisso de recompra, estabelecida em 4 de novembro. No início da tarde, foi vendida a oferta de 10.500 de swap cambial tradicional (US$ 525 milhões). Foi o remanescente dos leilões quando foram vendidos apenas 500 contratos no leilão de swap cambial reverso e US$ 25 milhões no leilão de dólar à vista.

Segundo operadores, após a surpreendente intervenção de terça, com oferta de venda de moeda à vista pela primeira vez em 10 anos, o mercado está absorvendo os impactos da nova estratégia de atuação do Banco Central. De um lado, a trinca formada por fluxo cambial negativo, temor de surtos de aversão ao risco no exterior e estreitamento de juros locais e domésticos sugere um dólar mais elevado. De outro, paira a possibilidade de que o Banco Central intervenha sem aviso prévio, o que torna mais arriscado apostar contra o real e fazer hedge de posições prefixadas.

Segundo um experiente gestor de recursos, a onda internacional de aversão ao risco havia dado pretexto para o mercado especular até que ponto o dólar poderia ir sem que o BC agisse. O estopim teria sido a declaração na terça do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, de que o real estava em linha com outros emergentes. Quando o dólar se aproximou de R$ 4,20, o BC mudou o tom e introduziu um componente de imprevisibilidade.

O Banco Central informou que o fluxo cambial em agosto, até o dia 23, está negativo em US$ 3,396 bilhões, com saídas líquidas de US$ 6,431 bilhões pelo canal financeiro e saldo positivo de US$ 3,035 bilhões no comércio exterior. No ano, o fluxo total é negativo em US$ 5,605 bilhões. Em igual período do ano passado, o resultado era positivo em US$ 25,012 bilhões.

“Havia uma situação de demanda grande no spot, com bancos vendidos em cerca de US$ 30 bilhões e fluxo negativo. A pressão sobre o câmbio é forte com a aversão ao risco e a pouca atividade do carry trade. O BC está usando seus instrumentos para deixar o mercado mais líquido e trouxe um refresco momentâneo, mas acho que há mais chances de o dólar subir do que recuar”, afirma Durval Correa, sócio diretor da Via Brasil Serviços, ressaltando que o mercado está ainda muito suscetível à guerra comercial sino-americana e aos riscos de uma recessão global.