Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar reverteu ganhos iniciais e fechou em queda contra o real nesta segunda-feira, pressionado por um clima internacional ameno e pela valorização de várias commodities, embora receios fiscais domésticos continuassem rondando os mercados, devendo manter a volatilidade elevada.

A moeda norte-americana à vista caiu 0,32%, a 5,2352 reais, depois de oscilar entre 5,2760 reais na cotação máxima (+0,46%) e 5,2027 reais na mínima do dia (-0,93%).

Com esse desempenho, o dólar teve sua terceira queda em 15 dias de negociação. Na semana passada, a moeda encerrou no maior patamar desde fevereiro passado.

As maiores cotações desta segunda-feira foram alcançadas durante um movimento agudo de proteção diante de riscos políticos e fiscais domésticos, mas isso não se sustentou pelo resto do pregão por conta de um ambiente internacional positivo, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

No exterior, o dólar acelerou perdas contra uma cesta de moedas fortes após a divulgação de dados robustos sobre a economia norte-americana nesta segunda-feira. As encomendas de bens produzidos nos Estados Unidos avançaram acentuadamente, enquanto as vendas pendentes de moradias também subiram, contrariando expectativa de forte baixa e reduzindo, por ora, temores de recessão.

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Enquanto isso, os preços de produtos como petróleo e minério de ferro avançaram acentuadamente nesta segunda-feira, o que deu algum amparo a divisas sensíveis às commodities. Dólar australiano, rand sul-africano e peso mexicano caíam nesta tarde, mas estavam bem distantes das mínimas da sessão.

O Citi disse em relatório desta segunda-feira que os preços de commodities ainda altos continuam impedindo uma desvalorização mais expressiva da moeda brasileira, que vem sofrendo nas últimas semanas, mas alertou que “o ambiente global continua sugerindo um real mais fraco à frente”.

O banco norte-americano citou o risco de políticas monetárias mais apertadas nas principais economias, mas também destacou incertezas fiscais domésticas, que “podem aumentar à medida que nos aproximamos das eleições presidenciais”.

Temores sobre a saúde das contas públicas ganharam força desde que o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), relator da chamada PEC dos Combustíveis, afirmou que o texto vai incluir na Constituição federal um aumento de 200 reais no valor do Auxílio Brasil, reajuste do auxílio-gás em torno de 70 reais e a criação de um “voucher caminhoneiro” de 1.000 reais.

“Medidas como essas, que não possuem contrapartida na arrecadação, prejudicam a dinâmica da dívida pública, elevam o prêmio de risco do país”, disse à Reuters Matheus Pizzani, economista da CM Capital. “Passa uma mensagem negativa para o investidor estrangeiro, de um país que não tem responsabilidade fiscal”, o que afeta diretamente o fluxo de recursos para o Brasil, explicou.

O cenário se agrava com a perspectiva de juros mais altos em economias desenvolvidas, como os EUA ou a zona do euro, afirmou Pizzani, já que isso tende a redirecionar dinheiro de países emergentes –considerados arriscados– para a renda fixa de nações mais seguras.

O dólar ainda acumula queda de 6% contra o real em 2022, mas está 13,6% acima do menor valor de encerramento registrado este ano, de 4,6075 reais, atingido no início de abril após um primeiro trimestre brilhante para a moeda brasileira.

O Citi projeta a moeda norte-americana perto dos patamares atuais no final deste ano, em 5,25 reais. A CM Capital tem um cenário mais conservador, vendo o dólar em 5,42 reais ao fim de 2022.

Bergallo, da FB, espera volatilidade para as negociações cambiais desta semana devido à aproximação da formação da Ptax do fim de junho. A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve como referência para algumas operações financeiras. Ao final de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições.

Na B3, às 17:06 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,27%, a 5,2400 reais.

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