Após queda expressiva pela manhã, quando registrou mínima a R$ 5,2882, o dólar ganhou fôlego ao longo da tarde e chegou a operar pontualmente em terreno positivo, com máxima de R$ 5,3164. No fim do dia, a moeda era negociada a R$ 5,3104, baixa de 0,05%. Operadores afirmam que houve um movimento de ajustes de posições e realização de lucros, uma vez que investidores ainda se mostram reticentes com a permanência da taxa de câmbio abaixo de R$ 5,30.
Além das questões técnicas locais, houve uma diminuição dos ganhos de divisas emergentes durante a segunda etapa de negócios em meio ao avanço das taxas dos Treasuries. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o DXY acelerou e atingiu na máxima os 99,000 pontos, apesar da valorização do iene, em meio à possibilidade de alta de juros no Japão.
O dólar recuou em relação ao real nos últimos três pregões, período em que acumulou desvalorização de 0,91%. A divisa apresenta queda de 0,46% nas quatro primeiras sessões de dezembro, após recuo de 0,85% em novembro. No ano, as perdas da moeda americana são de 14,07%.
“Tivemos claramente uma realização de lucros à tarde. Dezembro é um mês de remessas de lucros e dividendos ao exterior, com o fechamento de balanço de multinacionais. Investidores já estão se preparando para a virada do ano”, afirma o superintendente da Tesouraria do BS2, Ricardo Chiumento.
O tesoureiro ressalta que o real experimentou uma rodada recente de apreciação estimulada pelo aumento das chances de corte de juros pelo Federal Reserve na semana que vem, após uma sequência de dados fracos da economia dos EUA. Ele avalia que dados de pedidos semanais de auxílio-desemprego não alteram a leitura de enfraquecimento do mercado de trabalho.
“A pesquisa ADP mostrou ontem destruição de vagas no setor privado dos EUA em novembro. Todos os dados reforçam a perspectiva de que o Fed vai reduzir os juros em 25 pontos-base. O mercado até chegou a duvidar desse corte na segunda metade de novembro com o shutdown, mas voltou atrás e já vê 90% de chances de uma redução”, afirma Chiumento.
Além da decisão do Fed, a próxima quarta-feira, 10, é marcada também por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O crescimento abaixo das expectativas do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, com perda de fôlego do consumo das famílias pelo lado da demanda, esquentou as apostas em torno de possível sinalização do Copom da possibilidade de corte de juros em janeiro.
A economia brasileira cresceu 0,1% no terceiro trimestre, na margem, abaixo da mediana das estimativas (+0,2%). Na comparação anual, contudo, o PIB apresentou alta 1,8%, um pouco acima das projeções (+1,7%). A avaliação de economistas ouvidos pela Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, é a de que a política monetária restritiva mostra seus efeitos sobre o nível de atividade e deve levar a uma moderação da inflação.
Com manutenção da taxa Selic em 15% até pelo menos janeiro e o provável corte de juros pelo Federal Reserve, vai haver um aumento do diferencial de juros interno e externo, o que sustenta a atividade das operações de carry trade. O Tesouro vendeu a oferta integral de 2,5 milhões de NTN-F (R$ 2,325 bilhões) – papel público preferido pelo estrangeiro.
Além de estimular o carry trade, a taxa Selic elevada torna muito custoso o carregamento de posições em dólar, o que tende a mitigar o impacto do aumento de remessas no fim do ano sobre a dinâmica da taxa de câmbio. Operadores ressaltam que o BC já mostrou que vai atuar para prover liquidez com linhas com cláusula de recompra e eventual venda de dólares no segmento spot, o que também inibe apostas contra o real.