A moeda norte-americana encerrou 2020 com ganhos de mais de 29%, deixando o real com o segundo pior desempenho global no ano em meio à pandemia de Covid-19, juros locais extremamente baixos e incertezas fiscais domésticas persistentes. De acordo com informações da agência Reuters, o dólar à vista avançou 0,17% na  última sessão do ano, cotado a 5,1915 reais na venda. No mês de dezembro como um todo, a divisa norte-americana registrou perda de 2,03%.

Mas, no acumulado do ano, a disparada do dólar deixou o real com segundo pior desempenho global, atrás apenas do fragilizado peso argentino. O ganho anual de 29,37% marcou o quarto ano consecutivo de avanço para a moeda norte-americana frente ao real, bem como o terceiro pior ano para a divisa brasileira desde pelo menos 2003. A máxima diária de 2020 foi alcançada em 14 de maio, quando o dólar à vista chegou a tocar 5,9725 reais na venda com a crise sanitária e econômica em todo o mundo balançou os mercados financeiros globais.

Mas não foram só os fatores globais, relacionados à pandemia, os únicos responsáveis pela disparada da moeda norte-americana contra o real em 2020. A redução sucessiva da taxa básica de juros do Brasil, atualmente na mínima histórica de 2% ao ano, foi um ponto determinante para a dinâmica cambial vista em 2020. O baixo patamar dos juros locais afetou o rendimento de ativos locais atrelados à taxa Selic, tornando o Brasil menos interessante para o investidor estrangeiro quando comparado a pares com nível de risco semelhante. Somando-se a isso, temos ainda a incerteza fiscal brasileira, com aumento dos gastos na pandemia, que ganhou nos últimos meses um protagonismo cada vez maior dentro do radar de riscos dos mercados domésticos.

Com um Orçamento apertado para 2021, há temores de que o governo fure seu teto de gastos, abandonando a postura de austeridade prometida pelo presidente Jair Bolsonaro.